Capítulo 29

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Gustavo estava extremamente aliviado após a conversa com os gêmeos. Temia, do fundo dos seus ossos, que os irmãos se quer o deixassem falar, mas para a sua surpresa e total alívio, além de ouvirem, os dois concordaram com sua ajuda. Ou melhor, Mirabela concordara. Ele sabia que Jonathan não confiava nele e que certamente fora de certa forma obrigado pela irmã a aceitar a proposta do garoto.

Mais tarde ele agradeceria a Mirabela por isso. 

Gustavo nem se importara que tivesse que desistir de seu plano de fuga –talvez estivesse até aliviado, pois no fundo sabia que daria tudo errado- e voltar para a casa dos irmãos brutamontes no fim do mundo. Não, agora ele possuía um objetivo e faria de tudo para cumpri-lo. Mesmo que isso significasse se colocar em risco.

Sabia que a morte da mãe não fora acidental e, se lutar contra as loucuras da mente de seu pai representasse honrar a alma da mulher, ele faria com todo o prazer. Só precisava que seus aliados entendessem isso. Entendessem que a última coisa que faria seria traí-los para o monstro que já chamara de pai.

Agora, deitado em sua cama, com a companhia apenas do vento que batia incessantemente nas janelas e da escuridão, sua mente se agitava com inúmeros pensamentos, avaliando o que vira e ouvira durante o dia. Avaliando o que deveria fazer daqui para frente.

Um estrondo cortou o ar, trazendo-o de volta à realidade. Emergindo de sua mente, Gustavo espera em silêncio que Cassian e Gideon se acomodem em seus quartos e ignorem a existência do menino, assim como faziam todos os dias.

Infelizmente não teve essa sorte.

Antes que tenha tempo de se preparar, Cassian abre abruptamente a porta de seu quarto, fazendo com que o garoto levante rapidamente com um susto.

-E então, como foi seu dia?

Gustavo engoliu em seco. Cassian com certeza não estava fazendo aquela pergunta por educação ou sentimentalismo. Não, ele nunca faria isso. De alguma forma ele sabia o que o garoto fizera durante o dia. Onde fora durante o dia.

-Foi um ótimo dia, Cassian.

-Então tenho certeza de que terá muito o que relatar a seu pai sobre hoje, não é? E ficarei extremamente feliz em ajuda-lo a escrever o relatório do dia, só para me certificar de que conte tudo que precisa. As vezes sinto que está mentindo, garoto. –Qualquer pessoa que ouvisse essas palavras acharia a reação de Gustavo um tanto quanto exagerada, mas diferentemente de qualquer pessoa, ele convivera tempo o suficiente com os irmãos para saber que tudo o que o homem com rabo de cavalo dissera não passara de um aviso: manter-se na linha, ou seu pai saberá

Como se uma peça se encaixasse em seu quebra-cabeça mental, o garoto entendeu algo. O "trabalho" dos irmãos não era o que até então ele imaginava –um trabalho comum em algum loja na cidade- mas sim vigiar a família Blake, o que explicaria Cassian saber sobre sua visita. E o que eliminava qualquer resquício de esperança de fugir. Agora ele se sentia um tremendo idiota por não ter notado isso antes.

O menino estava prestes a responder quando o telefone do homem à sua frente começa a tocar, fazendo com que ambos, que permaneciam se encarando, se sobressaltassem com o barulho repentino. Cassian pega o celular no bolso do casaco e olha com uma expressão de surpresa e decepção para o que quer que estivesse escrito na tela. Logo em seguida, o homem leva o telefone à orelha.

-Alô, chefe... Sim, aqui é o Cassian... Claro, ele está aqui do meu lado... –Então ele apenas empurra o aparelho em direção ao garoto assustado ao perceber de quem se tratava na ligação- Anda garoto, pega o celular. Caso não tenha notado, é seu pai. Não que tivesse outra pessoa que fosse ligar para você. 

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