Capítulo 12

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Jonathan sabia que a irmã ficaria furiosa quando soubesse o que ele e Willian estavam prestes a fazer, mas depois ele lidaria com isso. Agora precisava se concentrar em pensar em um bom discurso que convencesse Marcel Simons a ajuda-los, já que a mãe aparentemente não estava nada disposta a fazê-lo e, sem ajuda de adultos, eles não chegariam a lugar nenhum.

Ele vinha planejando fazer isso durante toda aquela semana que Eliza os obrigou a ficar em casa. Até agora estava tudo dentro do planejado. O mais difícil já passara: despistar Mirabela. Não que tenha sido realmente muito difícil, pois ela parecia ter feito o mesmo que ele durante os últimos dias e provavelmente já tinha uma ideia em mente, porque nem se importou com a desculpa esfarrapada que ele e Willian deram para não os acompanhar. Isso o deixou com um certo receio, mas não largaria tudo agora para ir atrás da irmã, afinal ela tinha idade suficiente para saber o que estava fazendo e ele não tinha a obrigação de salvar ela a todo momento de sua impulsividade. Mais tarde ele se preocuparia com ela, só torcia para que a garota não estivesse fazendo uma loucura muito grande e sem volta.

Jonathan e Willian estavam agora caminhando em direção ao metrô para irem ao antigo hospital onde Simons trabalha –e onde seu pai costumava trabalhar. Ele não podia negar que odiava a ideia de voltar para aquele lugar, que sempre lhe dava calafrios. Mesmo quando Robert atendia no hospital, o garoto costumava evitar de ir lá, principalmente sem a irmã. Na verdade, essa era a primeira vez que Jonathan entraria no hospital sem a companhia de Mirabela.

Não era novidade que o metrô estava lotado de gente. Ele não gostava muito desse tumulto todo, principalmente porque sempre pisavam em seu pé e o empurravam várias vezes. Mirabela não tinha muito esse problema, pois estava sempre com uma expressão de mal-encarada que afastava todos que se aproximavam, o que era um ponto positivo de sair com ela. Mas com Willian era diferente, pois ele não tinha essa capacidade, na verdade, os dois eram como fantasmas no meio de toda aquela gente.  

Após cinco minutos eles chegaram no ponto mais próximo de onde ficava o hospital e, com mais uns dois minutos de caminhada, eles chegaram em seus destinos. Sem pensar muito na aparência do local, Jonathan foi entrando rapidamente, mas para sua infelicidade, Willian não fizera o mesmo –era a primeira vez que o garoto ia lá, então era de se esperar uma reação de espanto com a atual situação do hospital, se é que atual seria o termo certo.

-Will, vamos! Não temos todo o tempo do mundo. Te juro que a parte de dentro é menos assustadora. –Falou ele aproximando-se do amigo e dando-lhe um puxão na manga da camiseta que outrora fora sua.

-Como alguém consegue trabalhar aqui?! –Disse o menino com um olhar incrédulo para toda a estrutura e, logo em seguida, deixando-se conduzir por Jonathan.

Ele não mentira ao dizer que o interior não era tão ruim, mas não era agradável também. Como de costume eles foram recebidos por Katherine, a recepcionista idosa e fofoqueira, que insistia em achar que os gêmeos ainda eram criancinhas:

-Garotinho Blake! Já estava com saudade de você e sua irmã. –Com uma breve analisada nos dois garotos, ela complementou- E onde ela está? Nunca vi você entrando aqui sem ela! A garotinha está doente? –Jonathan segurou-se para não revirar o olhar, pois sabia que qualquer coisa que dissesse, a mulher sairia contando para todos que visse.

-Olá, senhora Katherine. E não, minha irmã não está doente –Ele pensou um momento em que desculpa daria para a ausência da garota- Mirabela disse que não se sentia bem em voltar novamente aqui tão cedo. Sabe como ela era ligada ao nosso pai –Ele gelou por um momento. Não se lembrava o quanto Katherine sabia sobre o sumiço de Robert. Como ele odiava conversar com aquela mulher, sempre era necessário ter cuidado para não se falar de mais, ou ela contaria para a cidade inteira.

-Seu pai ainda não voltou, garotinho Blake? –Perguntou a mulher com uma expressão de inocência. Ah, como ele desejava que a irmã estivesse ali. Mirabela sempre tinha uma resposta na ponta da língua. Sendo assim, ele decidiu que trocar de assunto era a melhor opção para não falar outra coisa comprometedora.

-Katherine, se não se importa, eu e Willian precisamos falar com o Dr. Marcel Simons. –A mulher pareceu decepcionada e magoada pela abrupta mudança de assunto, mas Jonathan falou para si mesmo que aquilo era apenas porque ela perdera uma fofoca e que ele não precisava se preocupar.

-Não ficaram sabendo? –Os dois garotos trocaram olhares de surpresa com a pergunta de Katherine.

-Sabendo do que exatamente, senhora Katherine? –Dessa vez fora Willian quem falara. A senhora os encarou por um instante antes de responder:

-Ora, no dia seguinte que você e sua irmã vieram aqui, Simons pediu demissão e disse que se mudaria para outro estado. –Vendo o olhar de surpresa estampado no rosto de ambos os meninos, ela continuou- Achei que soubessem, afinal ele dissera que estava fazendo isso para ajudar seu pai. Mas pela expressão de vocês ele mentiu, não é mesmo?

A única coisa que Jonathan conseguia pensar era: O que foi que eu fiz? Não poderia colocar a culpa em Marcel por tê-los traído, afinal ele não jurara lealdade a ninguém, vivo, da família Blake. Mas agora ele sabia da carta e provavelmente estava atrás do segredo de Robert, assim como eles. Mirabela o mataria assim que soubesse o que acontecera, pois ele perdera as contas de quantas vezes ela dissera que era uma péssima ideia contar para alguém de fora da família sobre a carta. Mas não, ele precisava contar para alguém e, como se não bastasse a carta, ele estava lá, naquele momento, indo mostrar o medalhão para Marcel Simons. A vontade de se dar um soco era enorme, mas ele não tinha dúvidas de que Mirabela o faria por ele.

Decepcionados e com raiva, os dois meninos deixaram aquele lugar caindo aos pedaços e se dirigiram à estação de metrô. O lugar estava um pouco mais vazio que antes, mas ainda assim as pessoas continuavam a esbarrar neles, mas Jonathan, pela primeira vez, não se importou e até bateu em algumas pessoas, pois estava tão perdido em seus pensamentos e com tantas preocupações maiores em mente, que ficar preso à realidade estava quase impossível.

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