Capítulo 2

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-Ok jhon, você estava certo –Ela teve vontade de vômitar ao dizer essas palavras. Se tinha uma coisa que ela odiava, era afirmar que alguém estava certo e o ódio piorava quando se tratava de dizer que seu irmão estava certo. Certamente o garoto não pôde evitar de expressar um ar de vitória ao ouvir as palavras ditas por Mirabela, mas se arrependeu no instante seguinte, com medo de ela se recusar a continuar falando- Posso continuar? Talvez eu realmente tenha algo para dizer –Vendo finalmente o olhar de triunfo no rosto de Jonathan, ela complementou- Mas não é nada de extrema importância para você poder me acusar de irresponsável ou ficar me olhando com cara de um idiota que diz "eu falei" –Respirando fundo novamente para se controlar, ela continuou:

-Então, faz alguns anos desde que vi isso, mas não congui me esquecer até hoje. Foram dias extremamente marcantes –A impaciência era quase palpável no quarto, fazendo com que ela fosse direto ao assunto, ou o mais direto possível – Há uns sete anos atrás, em um dia que fomos para o interior visitar nossos avós, nosso pai sumiu como fazia toda vez que íamos para lá. Você devia estar brincando com Will e, como sempre me deixavam de fora, fui procurar ele sozinha. Depois de passado muito tempo e sem êxito, quando fui pedir um copo de água para a senhora Turner, o vi saindo da casa dos caseiros. Como a gente costumava ficar na casa de vovó, achei muito estranho que ele estivesse indo lá, principalmente porque aparentava estar indo escondido, ou melhor, escondido de nossa família.

Ela faz uma pausa para organizar a mente e revirar aquela parte da memória há tanto tempo guardada e que a fez ficar sem dormir durante muitas noites. Decidindo que estava pronta para reviver as memórias que tinha superado, ela continua:

-Naquele dia em específico eu não descobri o que estava acontecendo, mas depois de ficar curiosa, nada foi capaz de me parar. Durante todo o tempo em que estivemos lá eu o segui para ver o que ele estava fazendo. Realmente não sei como ninguém, além de mim, nunca notou que ele estava muito estranho e que sumia por horas a fio, voltando apenas para jantar –O irmão lhe lançou um olhar de raiva, e ela voltou à história- No quarto dia de espionagem eu finalmente criei coragem para entrar na casa dos Turners e ir atrás dele. Entrei sorrateiramente pela porta que ele deixara entreaberta sem querer e, quando percebi que não havia niguém lá, entrei. Seguindo o barulho dos passos dele, cheguei onde pensei levar ao porão. O que obviamente me deixou ainda mais desconfiada. 

"Sabendo que obviamente ele tinha seguido para lá, comecei a descer. Contudo, ele simplesmente sumira. Realmente pensei em desistir, pois não tinha nenhuma saída de lá, o que me fez pensar que talvez nosso pai tivesse percebido que eu estava tentando segui-lo e decidira se esconder para me pegar no flagra."

"Mas como a teimosa que eu sou, não quis voltar antes de investigar todo o lugar e achar nosso pai. -Jonathan concorda levemente com a cabeça, mas Mirabela prefere apenas ignorar a provocação- Nem mesmo que fosse para ele me pegar em flagra. Depois de muito tempo eu finalmente ouvi um barulho, que aliviou minha frustração, mas me deixou desesperada. O barulho era de vidro quebrando e, para minha surpresa, sob meus pés! E só então percebi o tapete amassado perto de mim. Quando o ergui vi algo como um alçapão, e decidi usá-lo. Claro que era extremamente suspeito um alçapão em um porão, mas eu simplesmente joguei a sensatez para o ar com a empolgação de desvendar um mistério."

" Notei a imensa escada assim que o abri e, apesar de não conseguir ver onde ela terminava, decidi que, como já tinha ido até ali, não faria mal continuar. Desci as escadas e cheguei a um corredor quente, úmido e escuro. Confesso que já estava começando a ficar com medo, mas prossegui no breu, até bater contra alguma coisa meio fria e cinza, que, conforme minha visão se ajustou ao ambiente escuro, percebi ser uma porta de ferro"

" Naquele momento, temendo o que nosso pai poderia estar fazendo lá atrás, a minha mente fervilhava com perguntas do tipo: Porque alguém precisa se esconder tanto assim, ainda mais atrás de uma porta de ferro? Será que mamãe sabia? Se sabia, porque não nos contava? O que pode ser tão perigoso, ou sei lá, para papai não nos contar, não me contar?"

Mirabela tinha se sentando em sua cama, pois há alguns instantes suas pernas tinham começado a falhar. Levantando-se novamente, tendo recuperado as forças e o fôlego, ela continua a narrar, tendo conhecimento do rosto que a avaliava constantemente e julgava suas ações do passado:

- Sim, Jonathan, eu tive o bom senso de pensar duas vezes antes de tentar abrir a porta, por mais que tivesse quase certeza que estivesse fechada. Mas ela não estava e, ao constatar isso, abri ela com todo o cuidado que uma criança de oito anos pode ter. Entrei devagar, tentando não ser notada, e me escondi ao ver que nosso pai realmente estava lá. Ouvi ele falando alguma coisa sobre uma pessoa chamada Sunny, e que ele iria conseguir fazer o antídoto, mas que tipo de antídoto e para que era não me lembro. E foi isso que aconteceu.

-E você nunca mais foi lá? Nosso pai não ficou sabendo dessa sua "visitinha"?

- Claro que ele descobriu mais tarde, ele sempre sabia de tudo que acontecia. Mas ele não brigou comigo, apenas me disse que aquele era nosso segredinho. Ele me levou lá mais uma vez apenas, para me mostrar uma coisa que ele tinha concertado, mas depois disso nunca mais fui, porque ele achava muito arriscado. Eu realmente não entendia o que poderia ser tão arriscado naquilo tudo, afinal era o trabalho dele, e foi exatamente isso que me deixou sem dormir. Também ficava pensando no nome que ele dissera, Sunny, mas ele não sabia o que eu tinha visto ou ouvido e eu não tinha certeza de que deveria perguntar. Claro que agora me arrependo de nunca ter perguntado, mas talvez não fosse muito importante.

-Será que nossa mãe não saberia algo a respeito dessa pessoa? Não custaria perguntar, não é?

-Mas que ideia brilhante Jonathan! Como nunca pensei nisso? –Fala ela em tom irônico- Claro que já pensei em pedir para ela, mas todas as vezes que eu tentava tocar no assunto ela simplesmente me ignorava ou começava a falar de outra coisa, então acabei por desistir de perguntar, principalmente depois de levar um xingão dela para parar de ser intrometida.

-Mas talvez se esse nome for importante para o que está acontecendo, ela não vá se importar de nos contar.

-Duvido muito que você consiga arrancar algo dela. Mesmo assim acho que seria melhor fazer isso amanhã de manhã, além de já estar tarde, ela está ainda muito chocada com a carta e seria muito insensível de nossa parte tentar remexer com algo do passado dela logo agora.

-Uau, não sabia que você era capaz de ter empatia Mirabela! –A garota o fulminou com o olhar, pronta para responder o desaforo, mas ele continuou- Você está certa, não é uma boa hora para isso e, segundo os seus relatos, não deve ser algo agradável para ela, falar sobre essa parte do passado dos nossos pais. –Dizendo isso, ele se levanta da cadeira em que estava e se direciona para a porta, que permanecia fechada- Boa noite, Mira. Amanhã tentamos resolver isso, ok? –Assim, ele sai do quarto, deixando a irmã perdida em seus pensamentos, desejando que tudo não passasse de um pesadelo.

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