"Como eu ia dizendo, eu tinha o sonho de criar algo até então impossível, pois assim como você, minha filha, eu costumava me afogar em livros de ficção científica, sempre me admirando com a criatividade e a genialidade das coisas que eram criadas. Até que um dia, quando eu ainda era mais novo que você, seu avô me disse: toda a ficção que hoje você lê, no futuro será a realidade de muitos. E então eu comecei a olhar todo esse mundo com novos olhos: porque não ser eu quem transformaria as coisas incríveis e impossíveis em realidade? E então fui dominado pelo desejo de tornar isso real."
"Bela, a coisa mais importante que você deve saber é que, ao contrário de muitos, eu não desejava o poder, eu apenas me encantava com tudo o que poderia vir a ser, mas isso também foi uma falha minha, pois esqueci de que a maioria das pessoas ao meu redor almejava o poder que a minha criação poderia lhes proporcionar. O que foi o caso de Diego."
"Nos diários eu coloquei como se Diego tivesse descoberto sobre minhas pesquisas através de uma apresentação que fiz, não foi? -Caso eu diga algo diferente do que coloquei lá, me perdoe, mas fazem alguns anos que escrevi eles.- A realidade é que Diego era meu amigo na faculdade, um grande amigo. Ele entrava comigo em meus devaneios, enquanto Marcel tentava nos manter com os pés no chão. Eu adorava Diego e, no início, começamos a desenvolver nosso projeto, de criar algo que fosse capaz de dar poderes às pessoas, juntos. Mas então eu notei que meu melhor amigo não era mais ele mesmo."
"Diego começou a enlouquecer com o projeto, afinal falhamos diversas vezes e ele não conseguia suportar que não desse certo. Claro que na época eu nem notei que isso era porque ele queria aquele poder para si, apenas achei que ele estava ansioso e triste por estar se dedicando tanto a algo que não estava levando a nada –pois eu me sentia assim."
"Quando a faculdade terminou, Diego precisou voltar para o Brasil para cuidar de sua mãe e tivemos que abandonar nosso projeto que, não sabíamos, estava quase dando certo. Eu continuei fazendo uma especialização, junto com Marcel, em microbiologia –Sim, eu realmente era fascinado por isso também- mas a parte em que entra a mentira é sobre a quimera viral. Sim, eu fiz minha Tese sobre isso, e exatamente por isso que nunca tentei fabricar uma, pois meu desejo era criar algo que impressionasse e não algo que matasse –ou que gerasse uma catástrofe como na maioria dos livros que envolviam vírus."
"Porém foi através dessa pesquisa que descobri algo essencial para que o projeto meu e de Diego funcionasse."
Robert finalmente faz uma pausa, tomando um gole da água que Cassandra trouxera alguns minutos atrás, antes de dizer algo ao homem e desaparecer novamente. Mirabela sentia que seus neurônios estavam prestes a entrar em colapso tentando relacionar o que lera nos diários com o que o pai falava sem parar. Ela sentia grande necessidade ter um caderno e caneta em mãos, para poder ao menos ir anotando os principais tópicos, para ver se no fim algo fazia sentido.
Ela ainda achava aquela história toda um pouco louca demais para ser verdade, mas o olhar e o tom de convicção na voz do pai não lhe dava coragem para desdenhar do que estava ouvindo. Mesmo assim, novas perguntas surgiam a todo instante, fosse ou não verdade o que Robert falava. Mirabela tentava ao máximo guarda-las para si para não interromper o relato do pai, mas deixou escapar, sem querer, a que mais a incomodava no momento:
-Pai, como a Sunny entra nessa história então? Porque ela deveria ter morrido com seu vírus, mas se você nunca o criou, por que minha mãe chorou quando contou sobre ela? Por que ela contou que Sunny morreu?
O homem coloca calmamente o copo que segurava novamente na mesinha de centro e encara a filha. Mirabela respira fundo, odiando o olhar sério do pai totalmente concentrado nela. Mas então, como se saísse de um transe, Robert sacode a cabeça, coçando os olhos logo em seguida.
-Sunny...- Ele limpa a garganta antes de continuar- Sophia realmente está viva e, antes que comece a pensar que eu sou um louco sem coração, sua mãe sabia que ela estava bem. Na verdade, Sunny só precisou se separar de Eliza quando ela ficou grávida de você e seu irmão, pois ela poderia ser um perigo para vocês.
"Lembra nos diários quando ela teria adquirido o vírus? Bem, aquela situação realmente aconteceu, a diferença é que Sunny se cortou com o vidro do tubo de ensaio onde estava a minha experiência, ou seja, o líquido foi para sua corrente sanguínea. Eu entrei em desespero assim como detalho nos diários, a diferença é que sua irmã não morreu e ainda acabou provando que meu experimento tinha dado certo."
-E o que exatamente ele fez para "dar certo"? Sunny saiu voando? Criou super-força? –Mirabela deu uma risadinha no fim, mas se arrependeu no mesmo instante de ter se quer aberto a boca.
O pai agora a encarava novamente, o semblante ainda mais sério, mas um toque de tristeza nos olhos castanhos.
-Eu... eu só estava brincando, pai. Desculpe, pode continuar.
-Mirabela, eu sei que é difícil de acreditar, entendo que eu também teria essa dificuldade se estivesse no seu lugar, mas peço, por favor, que não deboche. Essa história toda é muito difícil para mim e ver você desdenhando me deixa extremamente magoado. Por causa de tudo o que aconteceu eu precisei separar minha filha mais velha da mãe e dos irmãos, uma criança morreu e um psicopata está atrás de mim. Além é claro, de eu ter perdido ontem uma das pessoas que eu mais amava, isso depois de ter que fingir minha própria morte.
Robert agora tinha lágrimas nos olhos, parando de falar provavelmente para conseguir se controlar. Mas quando ele citara a morte da mãe da garota, de repente tudo veio à tona para ela. Mirabela se surpreendeu que tivesse esquecido momentaneamente do acontecimento com a história do pai, mas agora já não importava, pois era como se os poucos minutos em que ela "esquecera" haviam acumulado a dor, que agora despencava sobre a garota de uma vez. Ela conseguiu apenas se levantar da poltrona colorida e abraçar o pai antes de ambos começarem a chorar.
Eles só se acalmaram quando notaram uma terceira presença na sala – a qual não era do Sr. Gato, pois esse já estava junto deles a algum tempo.
Jonathan estava escorado na porta, os braços cruzados ao redor do corpo, vestindo um moletom de pijama branco, os cabelos ainda bagunçados e o rosto vermelho e inchado.
-Ei, vocês estão bem?
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(sobre)viva
Misterio / Suspenso🏅VENCEDOR DOS PREMIOS WATTYS 2021 EM SUSPENSE 🥇lugar em suspense no Concurso Relâmpago de Natal 🥉Lugar na segunda edição do concurso Mestres Pokémon- terror/mistério. 🏅Vencedor da categoria "melhor sinopse" no concurso Pena de Ouro, primeira edi...