Capítulo 31

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-Ei, Will, acorde! –Ele sentia que alguém o chacoalhava e o chamava, mas parecia acontecer em outra realidade- Willian Turner, acorda! Você vai se atrasar para o primeiro dia de aula seu preguiçoso!

O garoto finalmente consegue abrir os olhos, se assustando ao se deparar com os olhos avelã do amigo o encarando fixamente. Jonathan, apesar de estar apressando Willian, havia recém acordado, pois continuava de pijama e com os cabelos extremamente bagunçados. A cara de sono também comprovava isso.

Jonathan finalmente se afastou da cama de Willian, se dirigindo ao armário e atirando o uniforme do colégio em cima da cama. Olhando para a escuridão em volta, todos os acontecimentos do dia anterior o invadem e ele se lembra de seu dever para esse tão esperado e temido dia.

-Jhon, acho que não poderei ir. –O amigo o encara incrédulo- Estou morrendo de dor de cabeça.

-Me poupe, Willian. Deixa de frescura! Sei que só está com medo porque é o primeiro dia de aula em um lugar totalmente diferente e com pessoas totalmente diferentes também, mas vai por mim: vai ser o mesmo saco de sempre. Além do mais, você tem a mim e à Mira. –Jonathan vai até ele e o puxa da cama, obrigando-o a se levantar –Agora, nada de enrolação e já para o banheiro se trocar e arrumar esse ninho que você chama de cabelo, OK?

-Jhon, eu não estou sendo fresco, realmente estou com muita dor de cabeça e, infelizmente, coincidiu com o primeiro dia de aula!

-Bem, se você diz... Mas nada que um remédio não resolva, não é? –Willian tentou demonstrar em suas feições que realmente estava mal (ele vinha treinando como disfarçar ou deixar transparecer diferentes sentimentos do que realmente sentia). Jonathan então pareceu notar e se sentou em sua cama, encarando o amigo- Will, sei que esse não é o momento mais adequado para essa conversa, mas acho que sei o porquê da sua dor de cabeça. E sei que não queria que eu soubesse.

O garoto engole em seco, imaginando como o amigo poderia ter descoberto, mas então ele continua:

-Sei que vem chorando todas as noites, desculpa se estou sendo intrometido, mas é que eu realmente me importo muito com você e odeio ter que te ver assim sem poder fazer nada! –Willian sentiu a verdade e o desespero na voz de Jonathan- Olha, se houver alguma forma de te ajudar, por favor, não hesite em me falar. Por favor.

O menino segurou a lágrima que ameaçou cair, junto com o coração palpitando furiosamente e a consciência pesando mais a cada fôlego.

-Jhon, eu... –Sua voz falhou. Ou talvez ele simplesmente não soubesse o que responder- Eu sinto muito por estar te preocupando...

-NÃO! Willian, pelo amor de Deus! Eu me preocupo porque me importo com você! Por que te amo! –Os dois se encararam diante da afirmação. Aparentemente, Jonathan também estava surpreso por ter dito aquilo- Só... só não peça mais desculpas por isso, OK?

Willian permanecia olhando espantado para o garoto de olhos e cabelos castanhos à sua frente, considerando se realmente valeria à pena continuar com o que estava prestes a fazer e jogar todo aquele afeto no lixo, como se não fosse nada e, no processo, quebrar o coração de ambos e de toda a família Blake.

O menino se levantou, ainda um pouco bambo e com uma dor de cabeça verdadeira surgindo, sendo seguido pelo garoto na cama em frente à sua. Jonathan ficou parado, de pé, apenas o encarando enquanto ele seguia em direção ao amigo e lhe dava um abraço forte, sabendo que esse poderia ser o último entre os dois. Infelizmente, não poderia voltar atrás com o plano agora.

-Jhon, eu também te amo.

E foi sincero em cada sílaba. Em cada palavra. Mas isso não mudava o fato de que estava prestes a destruir isso, prestes a trair toda aquela família e sua causa, pela sua própria. Não, ele estava prestes a fazer isso porque era egoísta. Porque era um maldito egoísta e não conseguia ver a felicidade daquela família sem sentir inveja.

É, talvez ele realmente merecesse que a família Blake o odiasse. Que Jonathan o odiasse. Willian até conseguia se conformar com isso, mas seu coração doía em pensar que ele machucaria Jonathan tanto quanto a si mesmo. Se pudesse evitar fazer o amigo passar por isso, talvez fosse mais fácil de suportar o aperto em seu peito.

-Will? –Os dois se desvencilharam do abraço- Will, por que está chorando? –Jonathan o abraçou ainda mais forte dessa vez, como se tentasse pegar para si um pouco da dor do amigo. –Will, se você realmente não está legal eu falo com minha mãe, OK? Ela vai entender.

-Obrigado. –Sua voz não passou de um sussurro.

Ele observou enquanto Jonathan saía do quarto e ia em direção à cozinha, onde Eliza e Mirabela provavelmente já estariam tomando café da manhã, felizes e alheias aos futuros acontecimentos.O peso das mentiras que dissera durante todo o tempo em que estivera ali, ameaçando derrubá-lo.

Mas ele precisaria ser forte para terminar aquilo que começara e, enfim, reencontrar com seus pais.

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