Capítulo 21

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Claro que ela não conseguiu parar apenas no último diário. Assim que terminou o que estava intitulado de 2010-2013, simplesmente começou a devorar os outros cadernos que descansavam no baú.

Mirabela sempre fora uma leitora assídua e, quando gostava de um livro, a garota não conseguia parar de ler até não terminar –ou até que sua cabeça doesse ou seu estômago roncasse. E não fora diferente com os diários de seu pai. Quando começara a lê-los, pensou que encontraria diversas anotações dos experimentos de Robert, e que provavelmente não entenderia a maioria. Contudo, cada página era uma nova surpresa e, inúmeras vezes, Mirabela se pegou chorando, ou rindo com as palavras do pai. A menina tinha que admitir que Robert levava jeito para a escrita.

Os primeiros diários, de quando ele ainda era criança, eram bastante engraçados, talvez por serem do ponto de vista de um garotinho de apenas sete anos, que não fazia muito aprendera a escrever. Porém, a partir da época da faculdade, quando o homem começara a ter interesse pelos microrganismos, é que se tornaram realmente interessantes. Robert, mesmo sem detalhar os acontecimentos, conseguia se fazer entender muitíssimo bem, além de ter a capacidade de transmitir seus sentimentos no papel.

Mirabela rira com o primeiro encontro de seu pai com Eliza, o qual fora, no mínimo, desastroso. Chorara com a morte de Bubbles –o primeiro cachorrinho de Robert. Sentira pena quando sua mãe recusou o primeiro pedido de namoro –do qual se seguiram mais três, que fizeram Mirabela ficar com vergonha alheia de Robert. Mas o misto de emoções, no qual não se sabia se as lágrimas eram de tristeza, raiva, ou alegria, acontecera a partir da tão famosa Sunny.

Além do choque após terminar de ler os diários, a garota também sentia que sua mente transbordava com informações. Com respostas para perguntas que ela nem se quer tinha pensando em formular.

A primeira coisa que constatou, e que lhe rendera um enorme alívio, fora que seu pai realmente era bom. Desde a chegada da carta, no mês anterior, Mirabela vinha duvidando quanto às intenções de Robert Blake, porém, qualquer medo que ainda restasse fora desintegrado com o que lera. Seu pai era bom. Seu pai é bom. Tudo o que ele fizera fora para evitar que coisas piores acontecessem. Para evitar que mais pessoas se machucassem ou morressem.

Uma lágrima morna lhe escorre pela face. Mirabela achava que nunca tinha chorado tanto em toda a sua vida como chorara naquele dia. E que dia mais longo. Era estranho imaginar, agora que estava atirada na cama e de pijamas, que ainda naquela mesma tarde ela fora até a casa dos Turners, encontrara com Gustavo, entrara no laboratório e chorara pelo pai, assim como fazia no momento. Esse sentimentalismo não fazia seu tipo, mas tanta coisa acontecera em tão pouco tempo. Tanta coisa mudara. Tanta coisa ainda estava para mudar. Quem era ela para não mudar também?

Mirabela não sabia por onde começar quando fosse finalmente contar para Jonathan e Eliza sobre o conteúdo dos últimos diários. Na verdade, ela não decidira ainda se contaria. Ao contrário do irmão, que saía gritando aos quatro ventos assim que sabia de algo, a garota preferia guardar a maioria das coisas para si mesma. Sentia certa dificuldade de confiar nas pessoas.

Talvez fosse exatamente por isso que Robert confiara nela para ler os diários e decidir o que contar aos demais. Ele deixara isso explícito em uma carta endereçada a ela, no final de seu último diário –o homem parecia ter uma certa obsessão com cartas. Talvez Gustavo tivesse razão, seu pai realmente queria que ela, Mirabela Blake, fosse a pessoa a ler aqueles diários, a conhecer as partes do coração e da mente de Robert que ninguém mais conhecera, ou conheceria.

22/06/2013

Bella, não sei quando estará lendo esta carta, nem mesmo se chegará a encontrá-la. Espero que não seja tarde demais, pois alguns desses cadernos podem realmente ajudar a você e ao seu irmão no que está por vir. Tenho certeza que saberá o que deve ser dito e, principalmente, o que deve ser mantido em segredo. Foi por isso que lhe dei a chave.

Essa chave abre mais fechaduras do que você imagina. Não as citarei aqui, pois precisa descobri-las sozinha. Talvez, como você costumava dizer, ele realmente tenha "poderes anjelicais", ou quase isso. Por isso, em hipótese alguma, se desfaça desse pingente. Não o entregue a ninguém. É com você que ele deve ficar e mais ninguém. Também não fale sobre seu uso para outras pessoas, ou elas tentarão arrancá-lo de você. Não permita que isso aconteça.

Sinto muito por ter escondido tantas coisas de nossa família, mas, se tiver lido minhas anotações, sei que entenderá meus motivos. E não pense que os deixei sozinhos para lutar contra Diego e suas ideias catastróficas. Estou com vocês nessa, mesmo que precise estar longe. Essa é uma das partes que gostaria que guardasse para você, Bella.

Saiba que confio em você para dar continuidade às minhas pesquisas, assim como confio em você para impedir os planos de Diego. Sei que fará tudo o que estiver ao seu alcance pelo que é certo. Assim como eu. Obviamente não o fará sozinha, como eu disse, estarei ao seu lado, assim como o resto de nossa família. Mas há coisas que só Mirabela Blake será capaz de fazer, coisas que só você será capaz de enteder. Capaz de escolher.

Confio em você, Bella.

O papel quase começara a se esfarelar com a quantidade de vezes que a garota lera e relera e derrubara lágrimas nele. Além de odiar o fato de não conseguir parar de chorar (sem pensar duas vezes ela culpava sua TPM), ainda precisava controlar os soluços para que não fizesse barulho, pois já era uma hora da manhã –era impressionante como o tempo passava quando se lia- e todos na casa já estavam dormindo. 

Com a visão borrada, e a dor de cabeça lancinante, Mirabela decidiu que o melhor era dormir. Amanhã ela decidiria e se preocuparia com o que descobrira. Amanhã... E, tão rápido quanto era possível, ela pegou no sono. De certa forma, aqueles diários lhe trouxeram conforto, assim como o pingente de anjo o fizera, há tanto tempo atrás. As lembranças de Robert faziam parecer que ele realmente estava lá, e que tudo ficaria bem.

Assim, ela dormiu como não fazia há semanas. E teria dormido até recuperar o sono perdido, se um maldito barulho não a tivesse acordado.


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E aí como vão? Não se esqueçam de votar e comentar para deixar a escritora aqui feliz e inspirada kkkkkk Olha, não tá fácil, a criatividade ultimamente decidiu tirar férias e tomar chá de sumisso, mas faz parte, daqui uns tempos ela volta (ai dela se não voltar)kkkkkk 

Outra coisa... eu venho pensando, e o que vocês acham de um capítulo com os personagens? Ou com imagens de pessoas que acho parecidas com eles? Sim, no meio do livro mas tudo bem, porque só fui ter essa ideia agora kkkkk. Enfim, se gostarem da ideia, deixem um comentário ; )

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