(sobre)viva

Capítulo 18

Washington, 2005

Era quinta feira, faltavam apenas dois dias para suas férias de verão começarem e, no final de semana ele levaria Mirabela e Jonathan até a fazenda. Fazia pouco, um casal de londrinos que tinham se mudado há pouco para os Estados Unidos, fora contratado para ajudar os pais de Robert, que já tinham idade avançada e era perigoso deixá-los sozinhos. O casal tinha um filho, Willian, com a mesma idade dos gêmeos, sete, quase oito anos, o que ajudou para que se tornassem amigos (ou pelo menos, para que Jonathan tornasse seu amigo).

Robert estava terminando de atender seu último paciente da tarde, quando o telefone começou a tocar incessantemente.

-Alô? Desculpe, mas não posso falar agora, estou trabalhando, poderia ligar mais tarde....?

-Filho, venha rápido para casa, aconteceu uma coisa e precisamos da sua ajuda. –A voz de sua mãe estava entrecortada e aparentava desespero.

Sem pensar duas vezes, o homem dispensou rapidamente o paciente, que aparentemente não tinha nada além de um resfriado comum, receitando-o alguns medicamentos, e partiu para seu carro. Não sabia se deveria pegar as crianças ou não, mas decidiu passar em casa antes de ir até a fazenda.

Mirabela e Jonathan estavam sentados no sofá marrom da sala, ambos vestindo ainda o uniforme do colégio, pois, assim como ele, ainda tinham dois dias até as férias.

-Papai, o que aconteceu? Vovó ligou para o colégio dizendo que precisávamos ir para lá, aí tio Marcel nos trouxe para casa para nos arrumarmos.

Mirabela estava com seus olhinhos azuis escuros arregalados. A menininha não fazia ideia do quanto o pai se segurava para não chorar ao olhar para ela, o quanto era parecida com a irmã, da qual nem sabia que existira. Elas tinham o mesmo rosto, os mesmos olhos, a mesma personalidade... exceto pelo cabelo, que em Sunny eram dourados e em Mirabela castanhos, elas pareciam ser a mesma. Talvez fosse exatamente olhar para ela todos os dias, que o manteve firme em seu objetivo de não entrar nunca mais no laboratório.

-Ainda não sei também, Bella. E mais tarde agradecerei a Marcel por tê-los buscado, mas agora vamos para o carro. –Ele realmente devia muito ao amigo. Marcel tinha conseguido férias adiantadas e, como Eliza estava viajando até o próximo dia, Simons estava auxiliando os gêmeos quando precisavam de algo.

As duas crianças correram em direção à garagem, enquanto ele ficara para pegar as malas dos dois e fechar as janelas e portas. Como deixara roupas na casa dos pais, não se incomodara em preparar uma mala para levar para si, tendo apenas saído apressadamente de casa.

O trajeto costumava demorar cerca de 30 minutos, que passavam rapidamente entre uma música e outra, enquanto os três cantavam acompanhando o rádio. Mirabela era sempre a mais empolgada ao cantar, e mesmo a garotinha cantando totalmente desafinado, era delicioso ouvir o som da alegria que invadia o carro. Jonathan, por sua vez, era um pouco mais tímido, mas mesmo assim cantava, mesmo sendo mais baixinho que a irmã. Aparentemente, o menino preferia observar a estrada e se perder nos próprios pensamentos. Quando finalmente chegaram, Mirabela já estava um pouco rouca de tanto cantar.

As duas crianças já haviam esquecido do motivo de terem ido tão depressa para lá, simplesmente descendo correndo do carro e indo brincar com Willian Turner, que já os esperava no portão. Pensando que era melhor que eles se distraíssem, e que provavelmente não deveriam saber o que quer que tenha acontecido, Robert apenas acenou para eles enquanto pegava as malas do porta-malas e se dirigia para a casa dos pais.