Eu nem tive que esperar para descobrir como Hogwarts seria eclipsava. A resposta para a sensação premunitiva que tive na mesa do jantar veio logo no dia seguinte, quando tudo a minha volta começou a ruir. A frágil redoma de vidro em que me encolhi durante todo o ano recebeu a primeira pancada e rachou, deixando que a escuridão que tanto ignorei escorrer para dentro. Tanto tempo perdido. Eu poderia ter evitado. Poderia ter sido diferente se eu não tivesse sido tão medrosa. Tudo que aconteceu a partir daquele dia estava na minha conta. E, é claro, como na maioria das vezes que algo grande acontece, tudo estava muito normal antes que o tapete fosse puxado sob meus pés, me derrubando pela primeira vez em muito, muito tempo.
A manhã de sábado veio ensolarada. Era uma manhã radiante com uma breve brisa, tempo perfeito para Quadribol. Eu havia visto o sol nascer ao lado de Lagrum, sentada em um galho alto de sua arvore, minhas pernas balançando e meus pés descalços sentindo o vento. Era uma visão merecida depois de mais uma noite com meu amigo tentando me matar floresta afora, meus músculos tensos e rígidos enfim relaxando na mesma medida que minha mente. Era tão bonito. O tom laranja que banhava as terras ainda com neve do castelo, que pintava o Lago Negro ainda degelando. Eu precisava disso. Precisava lembrar que o mundo era mais do que escuridão, mais do que veneno, mais que do sobreviver.
Ainda era muito cedo no castelo, então quando voltei para meu dormitório ainda tive algumas horas de sono antes que a movimentação começasse. Mesmo que a Sonserina não jogasse, grande parte dos alunos ainda iriam ver o jogo. O novo capitão do nosso time, Anthony Rivers, incentivou os jogadores a assistirem para poderem analisar cada time – seja quem fosse o vencedor, iria jogar conosco na próxima vez. Fiquei feliz pela forma que Rivers estava dirigindo o time, se sustentando muito mais em estratégias e treinamento do que apenas em vassouras rápidas. Talvez agora tivéssemos uma chance real contra a Grifinória e seu empenho fanático orquestrado por Wood.
O café da manhã aos sábados começava um pouco mais tarde, às oito em ponto ao invés de sete e meia. Harry estava sentado à mesa com o resto do time, além de Weasley e Granger, o rosto concentrado não no prato cheio de ovos na sua frente, mas sim no restante de alunos na mesa. Estava procurando, divagando e suspirei enquanto ia em sua direção, sentando ao seu lado no banco sem que nem percebesse.
— A pessoa não vai ter "culpado" escrito na testa, Potter — o despertei com minha voz, fazendo-o dar um pequeno pulo enquanto se virava em minha direção a tempo de ver eu tirar metade dos ovos da montanha exagerada de seu prato e colocar no meu. Pela cara de Wood fez, apostaria que foi ele quem serviu o garoto. — E é melhor prestar mais atenção ao seu redor se não quiser que Olívio faça você engolir o pomo.
— Fico imaginando se está aqui, bem diante de mim — ele murmurou, os olhos varrendo a mesa pontilhada uma última vez antes de se concentrar em mim de novo, o rosto fazendo esforço para relaxar, para mandar aquele assunto para o fundo da mente. — Mione insistiu ontem a noite que eu comunicasse o que houve..., mas neguei. Eu teria que contar a um professor sobre o diário, em primeiro lugar, e quantas pessoas sabem a razão de Hagrid ter sido expulso? Eu não quero trazer isso de volta depois de tanto tempo.
— E trazer o que de volta, essa é a questão — encolhi os ombros, me servindo de uma boa caneca de café. Ah, os elfos... — O que diria para Minerva? "Tentaram roubar um objeto roubado de mim". Teria de explicar muita coisa, Harry, e metade dela nem você sabe direito.
— Sim, mas mesmo assim... — uma bocada de ovos depois, ele continuou. — Não te incomoda? Alguém quer muito isso de volta.
— Sim — apertei meus lábios, partindo um pedaço de pão para por manteiga. — Mas não conseguiu. E pelo menos no seu caso, tem coisas mais imediatas que precisam da sua concentração. Por enquanto, vamos focar que essa pessoa falhou e vai continuar falhando.

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Corona II
FanfictionAlvo Dumbledore havia dito que algumas perguntas devem permanecer sem respostas e, na opinião de Malorie Lewis, ele estava certíssimo. Depois de ajudar a salvar a Pedra Filosofal de Lorde Voldemort (e de ter seu próprio confronto com o bruxo malign...