Uma coisa que podemos ter certeza sobre a noite é que ela acaba, rasgada pelo amanhecer muito antes do dia ser coberto pela escuridão. E quando as águas ao redor do da Sala Comunal se clarearam, indo de negras para verdes e azuis, era hora de dizer adeus ao nosso tardio Yule. Não foi fácil, contudo, me desvencilhar do corpo quente de Draco Malfoy naquela manhã – mesmo que, nos primeiros segundos, eu quase tenha o feito por puro instinto.
Tínhamos adormecido no sofá de couro negro em frente a lareira, sentados de frente para nossa Tora Yule, sendo vencidos pelo sono à medida que as chamas derretiam as ceras. Eu sentia seu corpo na lateral do meu e sua respiração suave no meu rosto. De alguma forma, o pequeno lorde (que imagino nunca deve ter tido um torcicolo na vida) conseguiu se render ainda meio sentado, com as pernas esticadas por cima da mesa de centro.
Sentamos ali, lado a lado, depois de um tempo, apenas para ficar em silencio e observar a luz – das nossas velas, da lareira. Ambas continuavam acesas até agora, o que me dizia que os elfos domésticos há haviam passado por aqui e reacendido o fogo. Menos no caso das velas, elas ainda ardiam desde quando foram acesas, mas não por muito tempo. Estavam no final.
Virei meu rosto devagar para encontrar o de Malfoy sem o acordar, mas ele já me esperava. Seus olhos refletiam a luz da manhã: clara e límpida, preguiçosa. Era cedo, ainda. Tão cedo que alguns considerariam tarde. Ele piscou, dando um pouco mais de brilho, e sorriu, o que lhe trouxe mais vida. Não era exatamente como o sorriso da noite anterior, mas se parecia. Com um toque de pequeno lorde.
— Não consegue relaxar, não é?
— Como? — Senti uma sobrancelha se erguer, lenta pelos primeiros movimentos da manhã ao mesmo tempo que sentia meu sangue correr rápido pelo meu corpo, me fazendo esticar.
— Não devem ter sido vinte segundos desde que acordei e pus olhos em você — o garoto explicou, as próprias pernas se alongando em direção a mesa de centro. — E então você acordou.
— Nunca tive ninguém ao meu lado enquanto dormia — rebati em minha defesa, o resto da resposta contida na ponta da língua: ao menos, se você contar uma cobra gigante e faminta. Draco se moveu outra vez, ajeitando os ombros e mexendo o corpo, o que me fez criar vincos na testa. — E por qual razão você está acordado? Não me parece ser do tipo que levanta com o sol.
— Minhas costas — Malfoy resmungou, tentando e falhando mais uma vez em achar uma posição que seu corpo mal-acostumado com seda e plumas considerasse confortável, agora que não tinha mais a exaustão da madrugada como auxiliadora. Por fim, soltou um suspiro ao afundar novamente no sofá. — Pode não acreditar, mas não estou acostumado a pegar no sono sentado em sofás. E mesmo se tivesse, os de couro não são os mais confortáveis para isso.
Nunca havia rido tão cedo pela manhã. Xingar, lutar pela minha vida, correr..., mas não rir. Talvez fosse o rosto de Draco, mal-humorado e amassado. Talvez fossem seus olhos, me prendendo outra vez como fizeram horas antes. Talvez fosse apenas a magia da noite anterior que ainda não havia me abandonado por completo. Seja como for, minha risada encontrou seu caminho para fora, arranhando os músculos ainda rígidos de minha garganta.
— Então vá para cama, pequeno lorde — ronronei para seus olhos mornos. Ele sorriu para mim, de novo, achando algum motivo para tal na minha graça.
— Eu não quero — as palavras chegaram para mim em um sussurro, me fazendo tropeçar na minha força de vontade. Eu não conhecia aquele garoto. Suave e doce, de olhos tão claros e tranquilos. Não havia a mínima frieza ou distância, me obrigando a permanecer em sua orbita.
— Ainda é feriado... — as palavras saíram devagar e ao mesmo tempo rápidas demais para que meu cérebro as parasse. — Depois que você descansasse suas costas por algumas horas em um colchão digno o bastante, poderíamos tomar café e depois... já fez os deveres que os professores passaram antes das férias?

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Corona II
FanfictionAlvo Dumbledore havia dito que algumas perguntas devem permanecer sem respostas e, na opinião de Malorie Lewis, ele estava certíssimo. Depois de ajudar a salvar a Pedra Filosofal de Lorde Voldemort (e de ter seu próprio confronto com o bruxo malign...