A noticia que circulou nos corredores do castelo na manhã de sábado do dia 31 de outubro, o Dia das Bruxas, era que Marcus Flint havia deixado a escola. Seus colegas de ano, principalmente de dormitório, foram os que notaram sua ausência. Ao procurarem o diretor da sua Casa, Severo Snape, foram rispidamente informados que o garoto estava internado no Hospital St. Mungus devido a uma ocorrência no início da noite do dia anterior. Foi Gancho que havia ido me ver, tão cedo que eu duvidava que ele houvesse dormido, antes mesmo que eu conseguisse liberação de Pomfrey. A curandeira nos deu licença, decidindo terminar sua checagem depois, e encarei aquele rosto que, se tivesse que adivinhar, diria que se amargou um pouco mais durante a madrugada.
— Você não dorme?
— Você dorme? — Devolvi. Algo como alivio passou muito rápido por seus olhos e eu sabia o motivo. Uma parte dele tinha consciência da possibilidade de eu ainda estar presa dentro de mim, de ainda ser o ser mais animal ferido do que garota, que havia sido tirado da sua sala. A volta da minha presença de espirito foi um bom sinal.
— Tive certas pendencias durante a noite — foi tudo que me respondeu ao se aproximar da cama em passos lentos, a capa negra farfalhando ao fazer isso. — Saiba que a situação foi tratada como devia.
Tombei a cabeça, meus olhos analisando os escuros do professor. Ele estava com as mãos juntas na frente do corpo, nada de varinha. Então foi trabalho meu fazer minha mente engatinhar até ele, alcançando o toque gelado que era sua consciência com quase gratidão. Era como colocar água gelada em cima de uma queimadura. Snape não foi até os diretores, não em primeiro lugar. Ele foi até Flint e ficou com ele por um tempinho. O bastante para que, se houvesse alguma chance de recuperação quando eu sai, agora já não havia mais. Nem para sua mente, nem para seu corpo.
— Imagino que a antiga e respeitada família Flint não está nada feliz — disse devagar, uma satisfação macabra puxando só a pontinha dos meus lábios para cima. Obrigado. Era o que queria dizer. Não pelo que fez, mas por fazer. Por mostrar que Greta estava errada.
— Magna Flint, a mãe, estava muito disposto a iniciar uma caça às bruxas em busca do que tinha feito aquilo ao filhinho dela, além de criar um escândalo em cima da escola por não ter garantido a segurança de seu rebento — os lábios deles se apertaram. — Jonas Flint, por outro lado, estava mais disposto a ouvir. Parecia conhecer melhor o caráter do filho do que a mãe. No fim, concordaram que a imprudência adolescente em adentrar a Floresta Proibida era algo que teria consequências para toda a vida.
— Floresta Proibida?
— Não é a primeira vez que um aluno arrogante e confiante demais passa por cima dos alertas da escola e adentra o lugar — os tuneis de seus olhos desceram alguns níveis. — Nem a primeira vez em que deixam algumas partes para trás.
Não havia sido uma negociação fácil. Não chegou a ser uma, na verdade, e ambos os lados não saíram contentes. Eu consegui ver a reunião privada no escritório de Dumbledore que havia ocorrido após os pais serem dispensados do leito do filho para os curandeiros prestarem os primeiros e mais essenciais socorros. Eles não seriam de ajuda ali, então se dirigiram para o próximo lugar: a escola.
Eles estavam lá, no escritório, com Severo e Alvo e Minerva. Nenhum dos três dispostos a prestar sentimentos ou desejos de melhoras, os olhos frios de raiva e as costas retas de tensão. Mesmo Dumbledore não exibia qualquer traço de sua habitual face de velho sábio e bondoso. Não, ele parecia muito alto e muito perigoso em pé ao lado de sua própria mesa, os olhos azuis faiscando de poder.
Aqueles olhos, mais do que o ambiente nada receptivo, fizeram Magna Flint fechar a boca em uma torção odiosa que me lembrou o próprio filho, enquanto seus olhos faiscavam e as narinas dilatavam com a respiração forte e puxada. Ela queria sangue, mas logo descobriu que o único que receberia outra coisa, muito mais amarga. Ameaças de ambos os lados, qual escândalo era maior: escola e diretor incompetentes ou herdeiro de rica e tradicional família bruxa acusado de tentativa de estupro? Se nenhum lado cedesse, a guerra nos tribunais no Ministério da Magia e as manchetes do jornal poderiam ser estendidas por meses, talvez anos, levando ambos os nomes para baixo.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Corona II
FanfictionAlvo Dumbledore havia dito que algumas perguntas devem permanecer sem respostas e, na opinião de Malorie Lewis, ele estava certíssimo. Depois de ajudar a salvar a Pedra Filosofal de Lorde Voldemort (e de ter seu próprio confronto com o bruxo malign...