Daphne ganhou a discussão, no final das contas, mostrando que uma cobra delicada e de sorriso educado ainda é uma cobra. As duas voltaram para a Sala Comunal com Pansy ainda bufando como um cavalo, o que fiz questão de lhe dizer e recebi um nome e uma orientação nada dignos de alguém de sua classe dizer. Eu estava sentada no canto de um dos sofás, rindo pela boca suja de minha amiga e seu temperamento quase tão ruim quanto o meu. Quantos todas terminarem de se ajeitar em seus lugares, não resisti a tentação de arrastar os olhos por todos eles.
— Então quer dizer — comecei com um sorriso afiado. — Que a falta da minha presença realmente não atrapalhou em nada, não é?
— Nem lembramos que você existia — Sue cantou para mim, piscando os olhos escuros naqueles cílios vermelhos.
— Foi um alivio, na verdade — Malfoy entrou na conversa, muito bem acomodado na poltrona que só faltava ter seu nome. — É tão selvagem que iria acabar fazendo besteira.
— Com todas essas regras importantíssimas que vocês seguem? — Arqueei uma sobrancelha, ainda sorrindo. — Sim, eu provavelmente deixaria alguma passar.
— Se chama etiqueta, Mal, e não seria ruim você saber uma coisa ou outra — Daphne cutucou. — Sou sua amiga, mas você tem modos horríveis.
— Não é tão...
— Oh, é sim — Pansy sorriu com o veneno e crueldade que lhe eram costume, os olhos estreitos faiscando. — Você é toda torta, não sabe sentar direito e nem se vestir, fala muito rápido e se eu começar a discursar sobre seus modos à mesa...
— Tenho certeza que tem muito a dizer sobre eles — rolei os olhos, ainda de bom humor. — Peço sinceras desculpas pelo constante embaraço que causo a todos vocês por terem de andar com tamanho desastre ao lado.
— Perdoada.
A resposta em uníssono me fez rir. Não podia ligar menos se eles de fato tinham problemas com meus modos – eles eram bons o bastante para o básico, e isso me bastava. Não era do meu interesse agir como uma princesa, eu não era. Fiquei o resto da noite ouvindo sobre o que perdi nas férias ao lado deles, e haviam muitas reuniões, pequenas festas e encontros rápidos, principalmente na Mansão Malfoy e na Casa Greengrass. Quando alguém demonstrou interesse sobre o meu verão, não me surpreendi com a volta da indignação.
— Ah, que ótimo, então você saiu do orfanato e passou todas as férias com os Weasley?! — Geralmente, Daphy não usava esse tom. Mas seu problema era comigo.
— Não, foram só as últimas duas semanas, não ouviu direito? — Perguntei devagar, sentindo a raiva dela quase me sufocar. — Antes disso, fiquei no Beco Diagonal.
— E por qual razão saiu do orfanato tão cedo? — Pansy chiou, o azedo de seu veneno pingando do canto da boca. Encolhi os ombros.
— Me apareceu a oportunidade.
Eles eram diferentes de Hermione – não poderia apelar para a compaixão em seus corações. Bom, talvez com Daphy, mas não estávamos sozinhas. Então encerrei o assunto com um sorriso rasgado e ombros encolhidos, e todos se calaram, recuando sobre o assunto mesmo sem querer. Mesmo assim, enquanto ouvia as anedotas dos meus companheiros, expondo sua versão de um dia ou evento, mais de uma vez senti o peso de um olhar em meus ombros. Draco não tinha muito o que contar das férias, ao contrario de mim que apenas não queria, e passou a maior parte do tempo me olhando com pura curiosidade. O garoto não era assim tão burro, afinal, e não se rebaixou a fingir acreditar na minha meia dúzia de palavras.
Contanto que não incitasse um novo inquérito, o garoto podia acreditar no que quisesse. Mas ele teria coragem de me confrontar? No ano anterior, bem no final, havíamos conseguido chegar em um patamar entre o desprezo e a amizade, me perguntava em qual estávamos agora. Uma parte de mim ainda ficou pensando nisso até a hora em que todos decidiram que já tinham conversado o suficiente e foram para os quartos. Era mais que reconfortante estar em meu dormitório outra vez, observando a movimentação para dormir das garotas ricas à minha volta. Todas vestiam seus pijamas de seda ou de linho, passavam seus cosméticos de beleza, algumas até se perfumavam antes de deitar.

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Corona II
FanfictionAlvo Dumbledore havia dito que algumas perguntas devem permanecer sem respostas e, na opinião de Malorie Lewis, ele estava certíssimo. Depois de ajudar a salvar a Pedra Filosofal de Lorde Voldemort (e de ter seu próprio confronto com o bruxo malign...