Harry não precisava ser meu amigo, ele sequer precisava gostar de mim. Ele só tinha que tirar Gina dali enquanto eu lidava com Riddle. Foi a decisão que eu tomei naquele pequeno segundo em que ele continuou em silêncio, seus olhos uma confusão de verde brilhante até endurecerem com algo que me afastei para não entender. Engoli em seco, ainda sentindo seu olhar fincando em mim, exigindo coisas que eu não queria sequer saber quais eram. Eu não poderia olhar para lá, não com o perigo de ver seu ódio, seu desprezo, sua traição. Construí um muro desesperado em volta de mim, me blindando para a presença dele. Não podia arriscar, não iria. Finalmente, com um maxilar trincado que consegui ouvir, ele voltou sua atenção para Riddle.
— Como foi que Gina ficou assim? — Sua voz lenta estava gelada e mordi minha língua para o calafrio que subiu minha espinha, reforçando meu muro para barras as tentativas do garoto de chegar até minha mente.
— Bom, imagino que tenha que me repetir um pouco, agora — Tom respondeu de forma agradável, mas percebi que não havia se movido do seu lugar no tabuleiro. — É uma história um pouco comprida, ainda mais para quem chegou agora. Podemos dizer que a razão de Ginevra Weasley estar em sua situação atual é porque abriu o coração e contou todos os seus segredos para um estranho invisível.
— Do que é que você está falando?
— Sinceramente, Potter — ele debochou, olhando para mim em apoio, como se fossemos amigos, como se dissesse "dá para acreditar nesse cara?". Mostrei as presas em um chiado profundo. — Do diário. Do meu diário. A pequena Gina anda escrevendo nele há meses, me contando suas tristes preocupações e mágoas, como os irmãos implicam com ela, como aquele Ronald em especial parece odiá-la as vezes, como teve que vir para a escola com vestes e livros de segunda mão, como — Riddle inclinou a cabeça, os lábios se abrindo em seu familiar sorriso de cobra. —, como achava que o bom, o famoso, o importante Harry Potter jamais iria gostar dela, principalmente tendo a Mal da Sonserina do seu lado — seus olhos passaram entre nós e me recusei a sequer piscar para sua inquisição. — É muito chato ter que ouvir os probleminhas bobos de uma garota de onze anos. Mas fui paciente. Respondi. Fui simpático, gentil. Weasley simplesmente me adorou. Ainda que seja eu a dizer, Harry, sempre fui capaz de encantar as pessoas de quem precisei...
— Você jogou seu charme em cima de uma garotinha de onze anos, Tom — disparei entre os dentes, ignorando seu rosto torcido pela interrupção. — Não é exatamente algo a se cantar vantagem. É meio bizarro.
Potter soltou uma risada engasgada que parecia que havia levado um soco no estomago. Ele tentou engolir ela de volta, o que só ficou ainda mais patético e me fez rir também, o som saindo tão estranho e desconfigurado quanto o dele. Também me apressei a engoli-la de volta, meu rosto esquentando quando me arrisquei a virar, apenas um pouquinho, para pegar o olhar de Harry com o canto dos meus olhos. Ele tinha o mesmo sorriso mal disfarçado de quando fizemos detenção juntos com o Filch e odiei a forma como meu coração bateu forte por isso.
A esperança doía mais.
— De qualquer forma — meu pai continuou, como um professor elegante que escolhe ignorar os inconvenientes alunos do fundo da sala. — Gina me revelou sua alma e, por um acaso, essa alma era exatamente o que eu precisava. Fui ficando cada vez mais forte com a dieta de seus medos mais arraigados e segredos mais íntimos. Fiquei poderoso, muito mais poderoso do que a pequena srta. Weasley. Mais do que o suficiente para começar a alimentá-la com alguns dos meus segredos e instilar nela um pouco da minha alma...
A pequena graça que fiz secou na minha garganta, cada pedaço do meu corpo tensionando com os sinos tocando na minha cabeça. Troca. A natureza sempre procura um equilíbrio. A magia circula em tudo e a todo momento, não necessariamente precisando que um feitiço seja recitado ou um ritual iniciado. Ela só acontece, pois está em viva e pulsando, e segue as próprias regras. Isso queria dizer..., merda, merda, merda, merda!
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Corona II
FanfictionAlvo Dumbledore havia dito que algumas perguntas devem permanecer sem respostas e, na opinião de Malorie Lewis, ele estava certíssimo. Depois de ajudar a salvar a Pedra Filosofal de Lorde Voldemort (e de ter seu próprio confronto com o bruxo malign...