Labirinto das Sombras

1.6K 288 737
                                    

Contei dez minutos através das batidas do meu coração e mesmo assim ainda não tínhamos chegado ao fim. A escada serpenteava em espiral, mergulhando a cada degrau no breu do túnel e não havia chão em lugar nenhum próximo. O silencio pesado fazia parecer a descida de uma tumba, o ar antigo e parado chegando a ser viscoso. Lagrum deslizava ao meu lado, tão silencioso no túnel escuro e quase íngreme quanto meus pés nos degraus, e continuei contando. Estávamos descendo muito abaixo do castelo, muito abaixo das masmorras mais fundas. Hogwarts havia sido construída em cima de um penhasco e imaginei o quão fundo nele estávamos agora. Foi só depois de mais algumas centenas de degraus que meus pés chegaram no final.

Não que houvesse qualquer iluminação, mas o vermelho não se incomodava com isso. Além do mais, era claro que havia coisas a se registrarem pelo visual, mas a sala ia muito além do que qualquer olhar poderia absorver. Era uma câmara circular e espaçosa, com quatro tuneis distribuídos ao seu redor, cada um em lados opostos do outro, como uma cruz. Fiz meus pés saltarem o pequeno fosso de água corrente que circulava a pedra central e segui as fissuras no chão, grossas e regulares demais para serem só decoração, ainda mais quando percebi que formavam um heptagrama: a estrela de sete pontas.

Parei no centro dela, bem no pequeno espaço onde cada uma delas se ligava, e olhei em volta. Cada túnel tinha algo que chamava atenção, apesar do lado de fora não haver qualquer sinal ou pista obvia de qual escolher. Apertei os lábios um no outro, ainda sentindo minhas presas os cutucarem e ouvindo o suave deslizar de Lagrum contra a pedra, rodando o círculo com paciência. Salazar havia construído aquele lugar há mil anos e algo me dizia que tinha usado uma magia e logica ainda mais antiga que isso. Olhei para as paredes entalhadas com símbolos antigos de proteção, magia, força e resistência.

— Ouvi dizer que ele construiu a Câmera para ensinar Artes das Trevas por baixo do nariz dos outros fundadores — falei em voz alta, não necessariamente esperando uma resposta. Mas mesmo assim ela veio, Lagrum devolvendo a língua de chiados e silvos que eu conhecia tão bem desde o berço.

Me parece muito trabalho para uma simples aula clandestina, não acha?

Sim. É claro que ele pode ter levado o sentido de por baixo dos panos para outro nível, mas a simples ideia não encaixava. Os símbolos nas paredes, os túneis, o heptagrama no chão, o fosso em volta... Que Slytherin queria impedir as pessoas de avançarem, isso era claro. Mas por medo dos outros fundadores descobrirem sua classe secreta? Era absurdo. Tinha mais. Tinha que ter.

— Salazar Slytherin foi o único dos quatro fundadores que se opôs veementemente a entrada de nascidos-trouxas em Hogwarts — citei, deixando meus pés deslizarem ao redor da sala, absorvendo a magia vibrante que aqueles símbolos ecoavam. Ainda estavam fortes. Depois de tanto tempo, ainda estavam prontos para fazerem seu trabalho. Mas qual era? — Tempos são tempos e, no dele, havia um bom motivo para isso, com o novo esporte da Igreja Católica ser amarrar mulheres e crianças na fogueira e observá-las queimar.

Respirei fundo o ar antigo e pesado – não só de poeira e do tempo, mas de magia. Quatro túneis. Quatro. O que ele significava? Era um número muito presente em muitos lugares, principalmente na bruxaria. Quatro estações do ano, quatro fases da lua. Quatro também eram os elementos, quatro fases da vida humana, quatro pontos cardeais... Era um tiro no escuro, mas era alguma coisa. Com um formigamento de pura força na ponta dos dedos, saquei minha varinha e a equilibrei na palma da minha mão. O feitiço passou pela minha cabeça, mais ordem do que qualquer coisa recitada, enquanto eu a observava flutuar e girar por alguns momentos, antes de apontar.

O feitiço de orientação, como qualquer bússola, apontou para o Norte.

Diretamente para um dos túneis.

Corona IIOnde histórias criam vida. Descubra agora