Era uma viagem em tanto com Canino uivando no banco de trás, com um Ronald ainda mudo de medo, mas com as emoções e coração cada vez mais estabilizadas, e os batuques e sacudidas da lataria do carro se esgueirando pelas árvores estreitas. Em dado momento, quando minha adrenalina também desceu o suficiente para meu corpo ter mais voz sobre eu estar no colo de Harry, pulei para o banco ao lado, tencionando os ombros para aliviar a dor fantasma que corria pelas cicatrizes nas minhas costas depois de as deixar chapadas no peito do garoto por tanto tempo.
Demorou uns bons dez minutos antes que o carro parasse de tremer, quando enfim as árvores ficaram mais esparsas e pedaços do céu começaram a aparecer aqui e ali. Era uma memória e tanto, viajar no meio da noite em um carro mágico que se dirigia sozinho através da Floresta Proibida de Hogwarts, depois de fugir de um ninho de aranhas mágicas falantes enormes. Levei meus olhos até Weasley de lábios pálidos no banco traseiro e me perguntei quantos anos ele levaria até lembrar da ocasião como algo além de uma das piores noites de sua vida.
O carro freou tão de repente que Potter e eu quase fomos lançados através do para-brisa. Tínhamos chegado à orla da floresta e Canino uivava com mais força, se lançando contra a porta tamanho o desespero de ir para terra firme. Potter saiu de seu lado ao mesmo tempo que eu saia do meu e, quando abriu a porta, vimos o cachorro enorme disparar em direção a cabana de Hagrid com o rabo entre as pernas. Todo um minuto passou até que Ronald recuperasse a capacidade de se mover e o garoto saísse, muito duro e de olhar fixo, de dentro do carro.
Em silêncio e sem precisar abrir a boca, Harry me disse que iria buscar a capa na cabana. Fiquei para trás, preferindo o ar da noite e achando que Rony não estava nas melhores condições de ficar sozinho. Ele estava pálido e trêmulo e eu podia sentir o cheiro de suor vindo dele. Me aproximei do garoto, mas seus olhos ainda estavam pregados no ataque dos insetos e sequer piscaram. Respirei fundo quando cheguei ao seu lado, um braço meu passando por seus ombros antes que sua energia me atingisse. Pânico gelado era o que pregava no lugar, então os puxei para mim. Senti o frio asqueroso descer pela minha espinha e, quando senti algo diferente tomando conta do garoto, o arranquei em direção ao canteiro de abóboras bem a tempo dele se dobrar nos joelhos (com tanta força que se eu não o segurasse teria caído de cara) e colocar provavelmente toda a comida do dia para fora.
— Está tudo bem — sussurrei para ele, minhas mãos firmes à sua volta. — Já acabou, Rony, já acabou. Você está bem, está seguro, já acabou.
A força com que Weasley se agarrou em mim estava completamente incontrolada. Ele não sabia o que eu estava fazendo, mas estava mais que disposto a deixar que eu continuasse. Assim o fiz, tirando o medo e o nervosismo aos poucos de seu corpo, sendo ajudada pela náusea violenta que ainda o dominava. Quando ouvimos a porta da cabana abrir e fechar outra vez, Ronald estava mais ou menos em pé (muito mais sustentado por mim do que pelas próprias pernas) e respirava com dificuldade, limpando a boca com a manga da blusa.
— Desculpe por isso, Mal — murmurou, o rosto muito pálido e suado ganhando meio tom de vermelho. — E obrigado — no que balancei a cabeça, dispensando sua necessidade de educação, ele falou mais alto, agora para Potter que se aproximava. — Siga as aranhas! — O garoto acusou, uma razão diferente para seu rosto e orelhas começaram a se avermelhar desta vez. — Não vou perdoar o Hagrid nunca. Temos sorte de sairmos vivos.
— Aposto que ele pensou que Aragogue não faria mal a amigos dele — Harry tentou a defesa, mas o fraco e cada vez mais raivoso Ronald Weasley não estava muito disposto a comprar a ingenuidade de Hagrid no momento.
— Este é exatamente o problema de Hagrid! — Ele retrucou, a raiva afiando sua voz e lhe dando alguma força a mais nas pernas. — Ele sempre acha que os monstros não são maus por natureza e olhe onde é que ele foi parar! Numa cela em Azkaban! — Retiro o que disse sobre força nas pernas, o garoto estava tremendo mais do que antes, se segurando em mim para ter algum equilíbrio, enquanto eu mesma me concentrava nas batidas de seu coração e nas suas emoções para não pensar no seu aperto firme em mim. — Para que foi que ele nos mandou lá? Que foi que descobrimos? Eu gostaria de saber!
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Corona II
FanficAlvo Dumbledore havia dito que algumas perguntas devem permanecer sem respostas e, na opinião de Malorie Lewis, ele estava certíssimo. Depois de ajudar a salvar a Pedra Filosofal de Lorde Voldemort (e de ter seu próprio confronto com o bruxo malign...