Me separei de Granger na entrada do Salão Principal, quando ela foi para a mesa da Grifinória e eu para a da Sonserina. Ainda procurei, e sei que ela também, a testa rachada de Potter e o nariz cumprido de Ronald através da mesa, mas não estavam ali. Senti meu estomago afundar em uma não bem-vinda sensação de ansiedade acompanhada de impotência. Onde eles estavam? Flexionei os dedos das mãos e deixei que o ar chegasse aos meus pulmões e ao meu cérebro. Eles estavam bem, tinham de estar. Noticias ruins nunca demoram para chegar.
Uma vez forçado a ir para o fundo da minha consciência, pude aproveitar emoções muito mais acolhedoras. Sentia meus próprios ossos tremerem, meu sangue correr e minha pele formigar. Eu estava em casa. Debaixo do teto encantando do Salão Principal, olhando para cima e vendo o infinito em uma noite clara de verão: estrelas e mais estrelas nos davam as boas-vindas. O salão também estava arrumado para a festa: todas as quatro mesas estavam decoradas com suas respectivas cores, toalhas de mesa das cores verde, amarela, azul e vermelha estavam estendidas por baixo de pratos, taças, talheres e travessas de ouro vazias. Elas se enxeriam apenas depois, quando os primeiranistas fossem selecionados e Dumbledore fizesse o discurso de inicio do ano.
Imaginei Gina Weasley na mesma sala meio apertada onde estive no ano anterior, rodeada de mais novatos. A irmã de Daphne estaria lá, me lembrei, Astoria – a menina de cabelos castanhos que vi brevemente na plataforma no fim da viagem de volta para o mundo trouxa. Será que elas se impressionariam? Será que já estavam impressionadas? Não era a primeira vez que eu enxergava os estandartes por cima de cada mesa – a solene águia de Corvinal, em azul e prata. O poderoso leão da Grifinória, em vermelho e dourado. O amigável texugo da Lufa-Lufa, em preto e amarelo. E, por fim, a nobre serpente da Sonserina, reluzindo em verde e prata –, todos eles orgulhosos, exibindo-se, e o faziam mesmo: o leão rugia, a águia batia as asas, a serpente se enroscava e o texugo ia para um lado e outro, o felizardo tinha mais espaço que os outros.
No fundo, a mesa dos professores estava cheia, todos em suas melhores roupas para a abertura do ano letivo. Capitão Gancho estava lá, em suas habituais roupas escuras e o rosto contraído em amargura. Seu olhar cruzou com o meu quando entrei e posso ter, talvez, visto alguma saudação ali, mas sumiu rápido demais e ele já tinha o rosto virado, ouvindo o que Pomona Sprout estava falando. A mulher me parecia a mesma: baixa e rechonchuda, mais limpa do que a veríamos durante todo o ano, tinha um sorriso tão fácil que não parecia saber com quem falava. Alvo Dumbledore, Filius Flitwick, Rolanda Hooch, Papoula Pomfrey, Irma Pince, Charity Burbage, até mesmo Hagrid. Sim, estavam todos ali e mais alguns. Professores de aulas que ainda iria ter – mal esperava para ver a grade desse ano. Atrás de todos eles, destoando da separação no salão, o símbolo de Hogwarts reinava sozinho e unido: quatro casas, quatro pilares, fazendo a maior escola de magia do mundo.
Me sentei na mesa entre Daphne e Pansy, que abriram espaço para mim assim que me aproximei. Para surpresa de ninguém, logo a frente tínhamos Zabini, Draco e Nott, além de Crabbe e Goyle. O primeiro ataque, e isso foi algo, não veio de Malfoy, apesar das espadas afiadas de seus olhos. Veio bem ao meu lado, e eu devia ter esperado por isso.
— Bom — Parkinson começou. Eu havia me esquecido como sua voz tinha uma cadencia aguda e virei meu rosto em sua direção com tranquilidade. — Que bom que agora nos deu a honra de se sentar conosco. Mas se estiver sendo muito difícil para você, devem conseguir abrir um espacinho para você com seus amiguinhos.
— Ah, Pam, eu sempre soube que me amava — cantei para ela, ignorando seus olhos estreitos e quase selvagens. — Mas não precisa de tanto ciúme. Tudo tem seu tempo e estou aqui agora, não estou?
— Você devia estar aqui o tempo todo, Mal — Theodore começou, as sobrancelhas franzidas antes que engolisse em seco pelo meu olhar. Quem ele era para me chamar assim? — Malorie, quero dizer, você é uma de nós. Não devia andar com todos aqueles desajustados.

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Corona II
FanfictionAlvo Dumbledore havia dito que algumas perguntas devem permanecer sem respostas e, na opinião de Malorie Lewis, ele estava certíssimo. Depois de ajudar a salvar a Pedra Filosofal de Lorde Voldemort (e de ter seu próprio confronto com o bruxo malign...