Não era assim que as coisas funcionavam e ela sabia bem disso.
Senti a pressão em minha blusa, a mão me impedindo de avançar e virei o corpo. Olhos verdes e azuis, nem um e nem outro e ao mesmo tempo os dois, estavam sérios na minha direção, no meu rosto. Abri a boca por um momento, estarrecida demais para falar. Daphne não fazia coisas assim. Ela sabia que não devia. Não terminaria bem para ninguém se o fizesse.
— Espere, Mal — sua voz não estava alta, pelo contrário, era o tom educado que sempre ouvi. — Podemos conversar?
— Depois — a palavra saiu em um chiado entre meus dentes enquanto meu temperamento aflorava. Seus dedos não tocavam minha pele, mas seguravam minha roupa como uma coleira e abaixei os olhos para lá, meus próprios dedos se flexionando para fechar, minhas cicatrizes repuxando e trazendo lembranças enterradas de volta. — Me solte, Greengrass.
Ela o fez, mas seus olhos continuaram fincados em mim. A maioria das pessoas na arquibancada estava ocupada demais pela adrenalina pós-jogo para notar o pequeno espetáculo, mas nossos colegas não. Zabini e Sue, Nott, Crabbe e Goyle e a própria Astoria estavam em silêncio, um contraste notável aos nossos companheiros de casa que conversavam alto e praguejavam pelo jogo perdido, se levantando aos montes para voltar ao castelo.
— Depois, quando? — A garota insistiu e forcei meus instintos para baixo de minha pele, sentindo-a queimar com isso, a sensação me deixando doente outra vez quando me neguei a passear por sua mente, buscar a razão daquilo em segundos. Era Daphy. Eu tinha que me lembrar disso. Não podia invadi-la desta forma. Justamente por a conhecer, e ela a mim, eu tinha que me lembrar de que para que tomasse essa atitude era porquê precisava.
— Dormimos no mesmo quarto — comecei a dizer, ignorando a sensação de letargia. O veneno do meu corpo se voltando contra mim, acido e concentrado demais, guardado a tempo demais, outra vez. — Tenho certeza de que a oportunidade irá surgir.
— Tenho certeza — Greengrass ecoou minhas palavras, com algo em seu tom que sugeria com muita força que, se eu não fizesse a oportunidade acontecer, então ela o faria. Estava bom para mim. Naquele ponto, já estava mais curiosa do que o resto. Daphne virou o rosto, os olhos descendo até o gramado, e sua voz saiu como se falasse que continuaria chovendo pelo resto da noite. — Estão levando Potter para a ala hospitalar. Melhor ir antes que Pomfrey o isole.
Mas só depois que seus olhos se suavizaram e nenhum embate estava prometido neles, foi que sai. Enquanto empurrava meus colegas de casa e pulava degraus (meu tornozelo, do tamanho de uma bola de tênis, já havia desistido de latejar), minha mente disparava, lutando contra o veneno que a corrompia. Era fácil demais me ressentir com Daphy por ter criado uma cena, e era mentiroso também. Se fosse qualquer outra pessoa, alguém normal, alguém com a pele menos impura e com uma vida menos dolorosa, nada teria acontecido. Foi minha postura, minha reação hostil e defensiva ao seu toque inesperado e firme, mesmo que nas minhas roupas, que tencionou o momento.
Quando cheguei na ala hospitalar ela estava tão vazia quanto deveria – o que significava que havia sido mais rápida que o time da Grifinória, pelo menos. Mas não do que Hermione, parada ao lado da cortina que Pomfrey usava para dar privacidade aos pacientes na hora de se trocarem, e Weasley que devia estar lá dentro, ajudando Harry com isso. Elas se abriram bem na hora que parei ao pé da cama e meus olhos dispararam no mesmo instante para seu braço. Eu conhecia a aparência de algo quebrado e não era assim, tão murcho e mole, como um grande pedaço de borracha.
— O que lhe aconteceu?!
— Lockhart aconteceu — resmungou o garoto. Papoula havia lhe providenciado uma toalha e agora estava com os pijamas da enfermaria, mas seu cabelo ainda estava molhado e mais bagunçado do que habitual. Ao meu lado, o rosto de Granger esquentou, mas sabiamente permaneceu em silêncio. — Fez um feitiço esquisito quando chegou em mim no chão, removeu todos os ossos do meu braço!

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Corona II
Hayran KurguAlvo Dumbledore havia dito que algumas perguntas devem permanecer sem respostas e, na opinião de Malorie Lewis, ele estava certíssimo. Depois de ajudar a salvar a Pedra Filosofal de Lorde Voldemort (e de ter seu próprio confronto com o bruxo malign...