Minha figura era um farol vermelho no meio da paleta escura das masmorras. Não que eu tivesse qualquer coisa para reclamar do meu salão comunal. Eu adorava seus tons escuros, suas sombras, seus sofás de couro preto e suas almofadas verdes. Neste momento, adorava ainda mais, pois não havia qualquer ponto tão vermelho quanto eu naquele lugar, o que fez a atenção dos três ocupantes da sala ir diretamente em minha direção.
— Não é possível — Draco Malfoy poderia ter uma moldura para eternizar esta exata expressão: boca aberta e as sobrancelhas franzidas, a incredulidade real em seus olhos prateados e brilhantes. Estrelados na manhã de Natal. — É como eles. Se multiplica.
— Bom dia e feliz Natal para você também, Pequeno Lorde — cantei para seu rosto contraído. — E, se quer saber, o que você queimou era cinza. Este é vermelho. Logo, é um novo. Gostou?
— Parece um barrete vermelho que cresceu demais — e estava lá, talvez, algo que fazia tanto tempo que quase perdi. Os olhos brilhantes, a ponta dos lábios torcidos, a cabeça inclinada em minha direção. Sorri para ele, para seu deboche e cinismo, e balancei a cabeça em negação enquanto ouvia Crabbe e Goyle rirem da brincadeira venenosa.
— Estão achando graça? Nada de bolinhos para vocês — a risada parou pela metade na boca dos dois, que permaneceram abertas. Os dois tinham olhos castanhos e famintos, e mais uma vez me perguntei se não eram parentes próximos. — E muito menos para você, Malfoy.
— Eu não quero — rebateu depressa, ao mesmo tempo que seus olhos estudavam a caixa embaixo do meu braço de forma quase intensa demais. Ri mais uma vez de sua curiosidade e de sua total falta de consideração com os outros: Vincent e Gregory estavam quase babando.
— Eles querem — apontei para os dois garotos enormes que se esticavam em direção a caixa. Então meu sorriso mudou, se tornou mais soturno e afiado enquanto relaxava meus ombros e estendia a caixa para eles. — Não digam que o espirito natalino não me visitou. Feliz Natal, rapazes.
Antes que os dedos grossos e fortes de Goyle arrancassem a caixa de minhas mãos, peguei ao menos um dos bolinhos de Hagrid para que comesse depois. A visão do glacê e do chocolate fez os olhos da dupla brilharem e não tiveram pudor ao destruir a caixa bonita em busca da sobremesa. Recuei, pois aprendi a não interferir na hora da refeição de animais e afastei em direção a passagem, ainda com o sorriso no rosto e mãos nos bolsos.
— Ai! Lewis! — Era a voz de Malfoy, dolorida e quase aguda. Parei em frente a parede de pedra e virei o pescoço devagar, focando na imagem do garoto de bochechas coradas, com um bolinho em uma mão e outra na boca suja de glacê. — Que droga é esta?!
— Carvão, Draco, para os meninos que se comportaram mal — cantei em uma risada, vendo sua boca se abrir ainda mais, o queixo quase despencando ao mesmo tempo que seus olhos afiados atiravam facas em minha direção. Terminei de atravessar a passagem com cena de Draco quase quebrando um dente por mérito próprio sendo um presente pessoal.
Foi difícil ignorar o convite da entrada do Salão Principal e subir direto para o banheiro feminino do segundo andar. As portas escancaradas não deixavam duvidas sobre a beleza da celebração, mas não registrei muito além da neve que caia do lado de dentro, em cima das mesas e das pessoas e até da comida. A ansiedade para entrar naquele paraíso me impulsionou pelos lances de escada, me levando direto para o banheiro interditado.
— Mal? — A voz de Granger me chamou assim que a porta se fechou atrás de mim, e fui em direção a porta do boxe que usávamos de bancada, vendo-a se abrir na mesma hora. Hermione usava cachecol, gorro e luvas – todo equipamento necessário para o clima gelado do fim do ano da Escócia. Seus olhos, porém, estavam brilhantes e calorosos. Iguais ao sorriso que me ofereceu. — Feliz Natal, Mal! Que suéter lindo!
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Corona II
FanfictionAlvo Dumbledore havia dito que algumas perguntas devem permanecer sem respostas e, na opinião de Malorie Lewis, ele estava certíssimo. Depois de ajudar a salvar a Pedra Filosofal de Lorde Voldemort (e de ter seu próprio confronto com o bruxo malign...