M de Monstro

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As palavras do diretor Dumbledore ficaram dentro de mim durante o resto da semana, me incomodando como um zumbido constante. Felizmente, as minhas também. Não havia com o que se preocupar: meu trabalho com Lockhart estava feito. Logo no dia seguinte iniciamos o dia com aulas duplas de Defesa Contra Artes das Trevas e observei, assim como o resto da turma, nosso professor se esforçar para passar alguma coisa que não era relacionada a ele mesmo. Ficava indo e voltando de capítulos de seus livros, buscando qualquer informação de fato proveitosa, e então se demorava nela até passar muito do limite. Não era o ideal, mas não era mais a besteira que havia tentado nos empurrar goela abaixo na primeira aula.

De forma trágica, apenas se contorcia no nosso horário. Em todo resto, estava muito mais interessado em fazer performances de capítulos inteiros, com direito a participação dos alunos – voluntaria ou não. Havia sido Potter quem havia me contado, pois o pobre garoto estava ficando um especialista na imitação de lobisomem. Na verdade, várias de suas habilidades estavam sendo aperfeiçoadas. Fugir e se se esconder eram belos exemplos. Um dia estávamos andando em direção ao pátio quando o garoto me puxou pela roupa para trás de uma armadura no momento em que Gilderoy virou o corredor com suas roupas esvoaçantes.

— Isso está ficando triste, Harry — arqueei uma sobrancelha para ele quando saímos do esconderijo. — Eu poderia fazê-lo te deixar em paz, se quiser.

— Não, Mal, já lhe disse — seus olhos verdes encontraram os meus, sérios. — Sei que quer ajudar, mas não desse jeito. Os professores já não estão muito felizes com você depois do que fez.

— McGonagall não está muito feliz comigo — rebati. — E apenas pela mãe dela ter a amamentado com o código de honra!

Era uma batalha perdida, de qualquer modo. Potter lidaria com o problema de seus perseguidores sozinho. Se não bastasse Lockhart, o primeiranista Colin Creevey ainda o seguia para lá e para cá, a maioria das vezes ainda carregando a câmera. Jurava que aquele garoto havia conseguido uma cópia dos horários do segundo ano, pois ele aparecia em cada escadaria ou corredor no caminho de Harry. O Garoto de Ouro era muito melhor do que eu e estava lidando com muita educação e disciplina, apesar de já ter percebido (e vinha usando) o fato de que nenhum deles se aproximava quando eu estava por perto.

A noite de sexta feira veio com um alivio, já que Parkinson estava certa: sua menstruação sempre chegava no inicio do mês. Ela veio, como esperado, acompanhada de muita oleosidade em seu rosto e espinhas invasoras, além de um sentimentalismo digno do fantasma que assombrava o banheiro feminino do segundo andar. Foi com alivio que deixei minha cama durante a noite, cada passo me levando para longe de um mundo que já não me era propriamente estranho, mas ainda me custava muita força de vontade para acompanhar. Voltei, então, para onde pudesse me recompor. Para Lagrum.

Apesar de termos conversado bastante durante a semana e nos encontrado em minha inconsciência, essa seria a primeira vez que nos veríamos desde que o deixei na orla da floresta. Com meu uniforme deixado para trás no dormitório, andei pelas sombras em direção as arvores e a escuridão da Floresta Proibida. Ele estava lá como da outras vezes, como se o tempo não houvesse passado, escondido nas sombras das árvores e da grama alta. Sorri.

— Não sabe como é bom ver essa sua cara escamosa — a provocação foi recebida por um sibilo quase bem-humorado.

Sempre tranquilizante observar como sua presença de espirito se recupera com facilidade, Mal.

— Ora, como se ela chegasse a ser abalada — devolvi com graça ao me embrenhar na floresta, deixando os terrenos do castelo e sua própria sombra para trás. Era reconfortante estar de volta, de alguma maneira. Talvez pelo fato de ainda me lembrar do caminho, mesmo na escuridão. Talvez por ele continuar o mesmo. Mas talvez estivesse concluindo as coisas cedo demais, pois Lagrum fez uma curva e deslizou para longe de sua árvore.

Corona IIOnde histórias criam vida. Descubra agora