Estrelas Cadentes

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Poppy tinha várias qualificações. Como medibruxa não era surpresa seu exímio conhecimento em poções e Herbologia, além de feitiços reparadores e de exames. Ela também era extremamente dedicada a seus pacientes: ninguém saia da ala hospitalar sem um exame completo, mesmo que a reclamação inicial não passasse de uma simples dor de cabeça. Não pela primeira vez me perguntava o que uma profissional de tão alta qualidade estava enfiada em uma simples enfermaria escolar – mesmo que Hogwarts tivesse seus desafios vez ou outra, Pomfrey poderia ser muito melhor aproveitada em grandes centros de saúde como o St. Mungus.

Mas não seria eu que reclamaria, pois outra grande qualidade da mulher era a discrição. Papoula nunca fazia perguntas, não além do que seria estritamente necessário para o processo de cura do seu paciente. Então, quando eu tirei a capa de Hermione na porta da ala hospitalar e a garota disparou para dentro em toda a gloria de seus novos pelos negros, tudo que recebemos foi uma sobrancelha muito levantada.

Granger foi acomodada em uma cama mais afastada da porta, já livre de suas roupas e encolhida entre os lençóis. Pomfrey não demorou a lhe dar uma poção do sono e já estava fazendo efeito, arrastando minha assustada e ansiosa amiga para a inconsciência. Antes de dormir, ela lançou seus novos olhos amarelos em minha direção em uma exigência que sequer precisava ser uma legilimênte para entender: me mantenha informada. Tive que sorrir para sua ordem, pois ela era Hermione Granger tendo bigodes ou não. O sorriso, porém, ficou menos leve à medida que Papoula se aproximava de mim com os lábios tão apertados quanto os olhos.

— Lewis — ela me chamou quando parou a minha frente, Hermione já ressonando em seu leito. Ergui meus olhos para encarar os escuros da mulher, me concentrando para não tencionar os ombros. — Algo a dizer sobre a situação da srta. Granger?

— Além que eu estou muito certa em confiar ela à suas mãos mais que capacitadas? — Arisquei torcendo o canto dos lábios na tentativa de um sorriso. Não houve qualquer sinal de suavidade nas feições da medibruxa – Pomfrey não brincava em serviço. Soltei o ar pelos dentes e corri meus olhos de volta para minha amiga. — Eu duvido que você não saiba o que é, Poppy, e se quer saber o como, temo que não é um segredo só meu para contar.

A mulher ficou em silêncio. Tinha as mãos juntas na frente do corpo e os olhos carregados em cima de mim. Tive vontade, mas recuei e mantive distancia de sua consciência. Eu respeitava demais a mulher que já havia salvado minha vida e de meus amigos para invadi-la dessa forma. Ficou bastante tempo me analisando, me julgando de uma forma muito parecida com a de McGonagall. Ao contrário da professora, porém, Papoula soltou o ar através do nariz com bastante calma.

— Me diga o que conseguir.

O voto de confiança me fez sorrir. Ela não tinha essa obrigação. Muito pelo contrário, tinha certeza que seu dever como parte do corpo docente da escola e responsável pela ala hospitalar seria exigir respostas. Mas Poppy não iria me encurralar, não era assim que ela agia – mesmo que tivesse o direito

O fato de não ter quebrado seu próprio protocolo comigo, em um momento em que a maioria do corpo docente perdia longos minutos me analisando como alguma serpente adormecida, também me fez particularmente feliz.

— Foi a meia hora, mais ou menos — comecei. — Um cálice cheio. A poção estava perfeita, posso garantir. Falhou com ela pelo claro erro na parte da essência. Granger colocou, sem saber, pelo de gato — os olhos de Pomfrey se estreitaram ainda mais e soltei o ar para eles, rolando os meus em direção a Hermione outra vez. — Sei que não poderia estar em mãos melhores, Poppy.

Não havia graça ou elogio na minha voz. Era apenas a verdade e o alivio. As consequências de uma poção Polissuco com defeitos podiam ser horríveis. Granger ter acabado com bigodes e um focinho era um alivio – as ilustrações em Poções Muy Potentes não poupavam detalhes das deformações causadas por qualquer erro. Peles parcialmente derretidas, espaço ocular vazio e membros torcidos eram só algumas das possibilidades, em alguns casos de forma permanente.

Corona IIOnde histórias criam vida. Descubra agora