Era cedo demais quando embarquei no Expresso de Hogwarts em uma manhã de primavera, em sete de junho de 1993. Antes disso, porém, eu estava na entrada principal do castelo, atulhada com centenas de outros estudantes que embarcavam em carruagens puxadas por cavalos negros e alados, tão esqueléticos que se duvidava que pudessem ficar de pé. Nossas bagagens já estavam todas no trem e o clima de despedida já tomava conta de alguns grupos, mesmo que ainda restassem horas de viagem e a segunda rodada de abraços e "sentirei saudades" e "me escreva!" quando chegássemos na plataforma. Eu não poderia culpa-los. Meu próprio coração parecia estar preso entre os dentes de uma fera selvagem e cruel enquanto eu olhava para o castelo que se erguia acima de mim.
Minha casa.
— Pelo uma pessoa me entende — Potter enfim disse alguma coisa depois que eu já sabia que ele estava ao meu lado a, pelo menos, um minuto inteiro sem nem olhar. Ninguém mais cheirava a grama-fresca e polimento de vassoura desse jeito. — Será que ela vai ficar bem sem a gente?
— Oh, deve aguentar — devolvi a brincadeira, sorrindo com a tristeza no fundo da minha alma. Virei o rosto então para olhar o menino, vestido como o trouxa que voltaria a ser durante o verão. Não o invejava. — Pronto?
— Não — eu o amava pela honestidade brutal. — Você?
— Não — encolhi os ombros, voltando a dar uma última boa vista nas portas de Hogwarts antes de suspirar e lhe dar as costas, voltando a encarar o embarque sistemático de alunos. Os olhei até perceber que também não era a única: o verde brilhante de Potter estava concentrado nas carruagens de um jeito que eu não precisava entrar em sua mente para saber o que tinha pego tanto sua concentração. — O nome são testrálios. Eu os vi no inicio do ano, apesar de Hermione não. São criaturas muito doces, apesar da aparência de filme de terror.
— Então... só nós conseguimos vê-los? Porque? — O rosto de Harry se torceu e eu encolhi os ombros.
— Não disse que apenas nós conseguimos vê-los. Com certeza outros também o fazem, só não é nada para se fazer um grande caso sobre — mordi os lábios, meus olhos correndo pelos animais mais uma vez, completamente ignorado pelos estudantes ao seu redor. — Ninguém gosta muito deles. Dizem que são sinal de má sorte, que atraem a morte, toda essa coisa. O motivo é bem rápido de deduzir, Potter. Para começar, o que nós dois temos que a maioria não?
— Uma quantidade absurda de experiencias perturbadoras?
— Também — apertei os lábios de novo, minhas presas cutucando, para que não risse muito alto. — Mas a morte, Harry. Tem de se ter visto alguém morrer na sua frente para ser capaz de ver um testrálio.
Ele ficou em silêncio com isso, os olhos perdidos nas criaturas. Deixei que pensasse e sentisse o que quisesse, ignorando o livro aberto que sua mente era. Em pouco tempo, porém, o garoto se aproximou de mim e tombou seu ombro com o meu no mais leve dos encontrões. Virei o rosto para olhá-lo, uma sobrancelha arqueada contra seu sorriso brilhante e quente, que fazia os olhos brilharem naquele tom especial de Sonserina.
— Acho que sua corte lhe espera — e apontou com o queixo para uma carruagem aberta, com pares de olhos na porta, nos observando de uma forma nada discreta. Franzi o rosto para eles voltando a olhar para Potter quando senti seu corpo gravitando ao meu lado. — Ei, Mal? Não sei se vamos conseguir falar depois... só... eu espero que tudo dê certo. De verdade.
— Eu também, Harry — encolhi os ombros, sentindo o peso afiado do futuro com os Malfoy, agora mais eminente do que nunca. Mas forcei meus lábios a se abrirem, devolvendo o encontro em seu ombro. — Mas não é algo que eu esteja realmente preocupada, sabe, não quando tenho minha alma gêmea para me salvar.

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Corona II
FanfictionAlvo Dumbledore havia dito que algumas perguntas devem permanecer sem respostas e, na opinião de Malorie Lewis, ele estava certíssimo. Depois de ajudar a salvar a Pedra Filosofal de Lorde Voldemort (e de ter seu próprio confronto com o bruxo malign...