Presas em Cheque

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A única coisa que eu não estava vendo era Gina Weasley.

A câmara era impressionante – grande o bastante para acontecer um jogo de quadribol dentro dela. A passarela que levava até a estátua era feita de uma pedra mais clara do que a escura que havia aparecido, mas era tão fria quanto. As estátuas reluziam, presas e línguas bifurcadas para fora ao longo de todo caminho enquanto eu avançava em direção a versão adolescente do que viria a ser meu pai, o batimento constante do coração de Lagrum em meu pulso, agora em forma de uma pulseira (parcialmente escondida pela manga longa e fina), sendo o ritmo dos meus passos. Era fácil enxergar Riddle mais velho: com o rosto mais maduro e o corpo mais desenvolvido. Quase fácil demais, pois as coisas que eu mais me lembrava já estavam ali: a voz profunda e suave, as maçãs do rosto marcadas e afiadas, as mãos de dedos longos que terminavam em algo comprido e afiado demais para se chamar de unhas.

— Mal — ele cumprimentou, a língua enrolando em meu nome e os olhos predatórios refletindo minha imagem. — Foi rápido, como eu esperava de você. Venha, eu quero te apresentar alguém — foram só mais alguns passos até que eu estivesse parada ao seu lado, meus olhos seguindo quando os dele se desviaram de mim e foram para a estátua, um rosto enorme esculpido em branco, meio mergulhado no lago escuro que banhava a grande plataforma que terminava a passarela. — Este é Salazar Slytherin, nosso ancestral. O que achou dele?

— Um pé no saco para qualquer pessoa com pressa — eu não esperava pela risada dele. O barulho ecoou por toda câmara, mesmo que não tenha sido assim tão escandalosa. Mas foi repentina, me fazendo virar o rosto para ele no mesmo instante, gravando a forma como as presas (maiores que as minhas) se mostravam junto com sua covinha – um único buraco do lado esquerdo da boca, exatamente como a minha. Era uma visão tão oposta da primeira vez que eu o vi: asseado e pomposo, montado em todo seu ato de lorde inglês. A pergunta saiu antes que eu pudesse controlar. — Sem disfarces hoje?

— Não tenho que me esconder de você — a resposta bruta afundou meu estômago, assim como a falta de dissimulação em seus olhos. Negros. Excepcionalmente negros. Sem íris visível. Ou pupila. Apenas dois buracos para nada além que o abismo. Meu vermelho havia me abandonado na claridade, fazendo que os meus olhos fossem um espelho dos dele. Engoli em seco, tentando me impedir de procurar por mais. As garotas costumavam fazer isso no orfanato. Fantasiavam sobre o que haviam herdado de seus pais e quem eles eram. Nunca quis participar. — Tenho tanta coisa para te perguntar...

— Onde ela está? — Consegui perguntar, minha voz sobrepondo a dele. Riddle ficou quieto por um momento, o primeiro sinal de desgosto em seu rosto familiar: os lábios apertados e os dentes cerrados. Como eu já havia aprendido, ele não gostava que o interrompessem. Rápido como veio, porém, a indisposição desapareceu, seu rosto suavizando outra vez e um sorriso fino sendo desenhado nos lábios. Este, no entanto, tinha muito menos calor que sua risada anterior.

— Sempre apressada, não é mesmo, Mal? Você vai aprender a ter mais paciência, ou eu pelo menos espero. Deve ser da idade — abri a boca para retrucar que ele não era tão mais velho do que, mas pelo visto o garoto não havia terminado de falar. — Quanto a fedelha Weasley, tudo ao seu tempo.

— Não vim aqui para bater papo, Riddle — chiei, um pouco da minha raiva sendo inflamada pela completa falta de reação dele. — Onde...

— Façamos o seguinte — foi a vez de Tom me interromper, as mãos indo para os bolsos e o corpo virando em minha direção. Seu rosto ainda era tranquilo, mas seus olhos ganharam um brilho mordaz e cruel como a ponta de uma faca. — Você não pode realmente achar que eu vou lhe entregar a garota, e nem eu imagino que você vá apenas me devolver meu diário. Você é mais inteligente do que isso. Então porque não fazemos isso mais divertido?

Corona IIOnde histórias criam vida. Descubra agora