Percy Weasley estava vermelho por baixo de seus óculos de tartaruga. Havia discursado sobre rebeldia e indulgencia, ao que esperei que acabasse. Quando finalmente sua boca se fechou, olhei para ele com calma, minha voz saindo suave e verdadeira como a muito tempo não saia. O peso que eu sentia dentro de mim havia sido desamarrado e eu me sentia leve. Nem mesmo a detenção e a perde de pontos consequentes de minhas ações seriam o bastante para diminuir essa sensação.
— Se eu não acertar alguém de vez em quando, as pessoas começam a esquecer quem eu sou, monitor — foi minha resposta para seu sermão. Ele não ficou nada feliz com minha cara lavada, suas orelhas esquentando rápido como era de seu sangue.
— Ora...! Vá já para a sua aula, Mal! Já está quase dez minutos atrasada! Você também, Harry!
Estávamos indo. Não era como se houvesse sobrado alguém no corredor. As serpentes seguiram um Malfoy quase carregado em direção as estufas, e os leões já haviam entrado na sala de feitiços. Até mesmo a fileira de primeiranistas, que reparei na presença de Gina Weasley, também já havia debandado. A pobre menina havia ficado mortificada quando o anão leu o bilhete, o que não restou duvida para qualquer um que estivesse prestando atenção sobre quem havia mandado. Mas seu pânico, muito mais que sua vergonha, foi o que havia me saltado. Vi pela beirada da minha visão toda cor e vida que a menina havia recuperado escorrer de uma só vez quando ela colocou os olhos castanhos no diário nas mãos de Malfoy.
Agora Potter colocava, com calma, seu material nos braços. Ele me olhou agradecido uma última vez antes de se enfiar dentro da sala. Eu também dei as costas, deixando a sincope de Percy para trás ao começar a ir em direção a minha aula de Herbologia. Parei, no entanto, assim que virei o corredor. A mente de Harry saltou em direção a minha como um farol aceso e tive que respirar fundo para não me afogar em sua incredulidade. O diário. Diferente dos outros livros e do seu pergaminho ensopados, o diário estava intacto. Quais eram a chances de aquilo não ter recebido uma gota de tinta sequer?!
É isto! Deve ser algo assim! Temos de ver isso direito, Mal!
Absorver a tinta..., essa era a coisa mais obvia a se pensar. Nunca me ocorreu tentar escrever na coisa, muito provavelmente por ter gastado boa parte do tempo tentando apenas não ser esmagada pelo peso de sua energia e, na outra parte, já ter um método bastante eficaz de me comunicar com o que tinha ali dentro sem precisar gastar pena e tinta. Mordi os lábios com minha mente funcionando depressa. Potter não iria descansar. Ele havia passado semanas folheando e carregando aquilo para cima e para baixo, como se esperasse que algo acontecesse. "É como se Riddle..., engraçado, é como se eu o conhecesse de algum lugar. Como um amigo de infância que perdi contato e me esqueci". Se eu estivesse certa, e Salazar sabe como eu não queria ter essa glória desta vez, Tom Riddle em dado momento de fato cruzou com o jovem Harry Potter. Mas não foi de uma forma amigável.
Hoje à noite. Consegue esperar?
A resposta foi sim. E durante toda a aula de propriedade de plantas da Professora Sprout (a classe finalmente estava um pouco animada outra vez, já que havíamos voltado para a técnica), admito que não estava tão focada quanto deveria na hora de cortar minha burbolínea. A parte boa era que metade da minha atenção era o suficiente para evitar um acidente infeliz com os espinhos que ela soltava ao ser cortada de maneira desajeitada.
Não posso dizer o mesmo de Malfoy, que enquanto não estava muito imóvel para evitar que a dor se espalhasse, parecia pensar na possibilidade de me enfiar em um barril de espinhos. Por duas vezes sustentei seu olhar e por duas vezes ele recuou como uma serpente ferida, derrotada apenas naquele momento, os olhos prometendo muito mais do que ele podia fazer.
Por mim ele podia morrer engasgado com o veneno que tentava me injetar. A última coisa que eu tinha para me importar era orgulho ferido de um lorde em decadência. Eu estava mais ansiosa do que deveria com a eminencia do encontro entre Tom e Harry. O que Riddle falaria? Ele deixaria claro que não era o nosso primeiro contato? O que ele mostraria e como trataria o garoto? Tom não escondeu sua natureza de mim, mas duvidava que fosse tão aberto com qualquer pessoa, duvidava que havia sido com Ginevra.

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Corona II
FanfictionAlvo Dumbledore havia dito que algumas perguntas devem permanecer sem respostas e, na opinião de Malorie Lewis, ele estava certíssimo. Depois de ajudar a salvar a Pedra Filosofal de Lorde Voldemort (e de ter seu próprio confronto com o bruxo malign...