Preço do Sangue

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Na decima quarta vez que o poltergeist começou o verso de "Potter pirado, veja o que você fez; Matar alunos não é nada cortes", McGonagall perdeu a paciência.

— Já chega, Pirraça! — Ela urrou para cima, as pupilas quase estreitas, fazendo-o sair voando em cambalhotas, a língua pendurada em nossa direção. Sem a distração irritante do parasita particular de Hogwarts, Minerva se dedicou a de fato colocar ordem no lugar: Flitwick levou Finch-Fletchley para a ala hospitalar com a ajuda de uma mulher alta de pele negra, com vestes pesadas de pele de animal e uma pena cumprida espetada no chapéu pontudo cujo o sobrenome eu sabia ser Sinistra, do Departamento de Astronomia, mas que o nome se revelava como Aurora.

Já Nick levou algum tempo para descobrirem o que fazer. A diretora da Grifinória acabou por conjurar um grande leque de abano e o entregou ao tal de Macmillan, que ainda estava nos arredores, com instruções para literalmente abanar o fantasma até o andar de cima. O aluno a obedeceu, quase rasgando suas roupas contra a parede para se afastar de mim e Harry ao passar, deixando-nos enfim a sós com a mulher.

Minerva tinha olhos muito verdes, tão brilhantes e vivos como os de Potter. Eu guardaria dentro de mim aquele olhar, o modo como a dureza revestiu seus sentimentos sombrios e acuados. Como ela olhou para mim e então para seu aluno e apertou os lábios bem firme um no outro. Não importava o que ela achava, não importava o que ela esperava que fosse verdade, ela nunca poderia ignorar aquilo.

— Por aqui, Potter e Lewis.

— Professora — Harry protestou depressa, recuperando logo agora o dom da fala. — Eu juro que eu não...

— Isto não está mais em minhas mãos, Potter — a professora o interrompeu, fria e inflexível como costumava ser. Seu tom fez Harry recuar, calado e de rosto vermelho, enquanto a seguia ao meu lado. Tivemos que subir dois lances de escadas para chegar ao terceiro andar e então dobrar um corredor até chegar em frente a grande gárgula que guardava o escritório/residência do diretor de Hogwarts. Nosso destino eu já conhecia, mas me lembrei que Harry e seu pescoço espichado de curiosidade, nunca haviam sido encaminhados para a diretoria. — Gota de limão!

A senha da sala de Dumbledore devia ser trocada com a mesma frequência do que a das Salas Comunais, pois não era a mesma da última vez que tinha vindo aqui. Já sabendo de cor o que aconteci – a gárgula se arrastando para o lado e a parede atrás dela se abrindo para revelar uma escadaria em caracol que subia sozinha e devagar, como uma escada rolante mágica – aproveitei melhor meu tempo prestando atenção nos olhos arregalados e boca aberta de Potter.

Eu também devo ter feito a mesma cara na minha primeira vez, Cicatriz.

Você já veio quantas vezes? Os olhos verdes do garoto vieram para mim e eu sorri, encolhendo meus ombros.

Algumas. Espere só para ver a sala em si.

Os olhos do garoto voltaram a se encher e tive que estrangular minha risada com uma tosse. Harry era um pouco lento, não tinha como negar, ou estava ocupado demais pensando no último ataque para raciocinar direito. Apenas agora se dava conta para onde estávamos sendo levados. E talvez devesse ter continuado na ignorância pois senti sua tensão e nervosismo ao meu lado durante toda a longa subida até a porta de carvalho bem cuidada com uma aldrava em forma de grifo – a mesma que a gárgula da entrada.

Minerva bateu na porta, fazendo-a se abrir sem qualquer ruído, e então nos guiou para dentro. Eu já tinha estado ali vezes demais e mesmo assim eram impossíveis não demorar o olhar pela grande sala circular. Os objetos de alquimia de Dumbledore, prateados e barulhentos, arrumados em cima de mesas de pernas finas e curtas. Os talvez mil retratos de antigos diretores diferentes que cobriam as paredes, com um especifico logo atrás da mesa de Alvo – seu antecessor. A escrivaninha imensa com pés de garra e atulhada, mas ainda organizada, de papeis de carta, livros e pergaminhos.

Corona IIOnde histórias criam vida. Descubra agora