Capítulo 8 - Adra

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Adra tentou evitar os olhares, tentou mesmo, mas quando o sétimo demônio passou por ela e franziu o nariz ao perceber que ela era uma bruxa, ela não aguentou mais: com um movimento rápido dos dedos, ele o fez tropeçar na própria sombra.

Envergonhado e furioso, o demônio continuou seu caminho sem olhar para ela novamente, murmurando apenas alto o suficiente para que ela pudesse ouvir:

— Bruxa.

Ele falou aquilo como se fosse uma ofensa, mas Adra apenas revirou os olhos, olhando para seu relógio de pulso para consultar as horas. Ela estava adiantada em relação ao horário que deveria chegar, então não podia realmente reclamar de ficar ali esperando.

Como prometido, Damian fora até o apartamento dela — para onde Adra havia voltado depois de deixar a mãe na estação ferroviária de Mávros com sua tia — e entregara sua carta de admissão na Academia.

Se o demônio notara, ou sequer se importara, com o fato de que ela estava morando no mesmo lugar onde seu pai fora assassinato, ele não comentara, e Adra estava estranhamente grata por isso. Ela não queria falar sobre como as paredes pareciam sufocantes demais, ou como todas as suas memórias de infância pareciam maculadas pelo sangue de Carino.

E Damian, apesar da expressão sombria enquanto observara o lugar que fora a casa dela por toda a vida de Adra, permaneceu em silêncio sore o assunto, as mãos enfiadas nos bolsos enquanto ela lia a carta de admissão, escrita pela própria diretora, Myrina Savva.

Ao terminar, Adra suspirou e levantou os olhos para ele.

— Como?

Damian apenas deu de ombros, o semblante desinteressado enquanto ele se encostava no balcão da cozinha dela, que rangeu sob o peso repentino.

— Meu avô e a diretora Savva têm uma... história. Ele me fez um favor.

Diante daquela resposta que entregava nenhuma informação de verdade, Adra revirou os olhos, voltando-se para carta, mas não antes de ver a mandíbula dele se tencionando.

Ela não perguntara mais nada, no entanto. E, um dia depois, ali estava ela, parada no meio do pátio da Academia Lethe com a mala de couro marrom escura na mão e esperando, impacientemente, enquanto aguentava os olhares enojados dos alunos que passavam por ela. Ainda que, para ser justa, Adra precisasse admitir que os estudantes mais novos olhassem para ela com mais curiosidade do que qualquer sentimento negativo.

Quando o oitavo demônio passou por ela, sibilando baixinho de hostilidade, no entanto, Adra se virou, pronta para ensinar àquele garoto boas maneiras. Mas uma mão segurou seu ombro antes que ela pudesse avançar.

Ela se virou para um garoto bem mais alto que ela, de olhos azuis como o céu pálido de inverno e cabelos loiros. Ele estava vestido com uma calça social e suéter, e sorria, educado, o primeiro demônio que não parecia exalar hostilidade para cima dela, ainda que houvesse um pouco de censura em seu sorriso, como se ele soubesse o que ela estivera presta a fazer.

— Você deve ser a Adra, não? — ele perguntou e a voz dele era baixa, como o som abafado da corrente de um rio. Adra apenas assentiu e o demônio lhe ofereceu a mão. — Eu sou Theo. A diretora Savva pediu que eu viesse buscá-la.

Adra piscou para a mão estendida de Theo, mas não se moveu, arrependendo-se no momento em que ele abaixou a mão, as bochechas brancas se tingindo de rosa.

— Quer ajuda com isso? — Theo tentou de novo, apontando para a mala na mão de Adra. Ela engoliu em seco, hesitando.

— Não precisa — respondeu por fim, desviando os olhos dele ao sentir as mãos suando. — Mas obrigada por se oferecer.

Todos os Anjos do ParaísoOnde histórias criam vida. Descubra agora