— Eu detesto sol. — Decretou Adra, fazendo careta para tentar eliminar a luminosidade incômoda do astro brilhante demais acima deles.
Ao seu lado, Damian riu.
— Vamos, não é tão ruim assim. — Ele disse olhando para cima rapidamente. — Em Mávros quase todos os dias de primavera são assim, ensolarados. Aqui acontece uma vez no ano.
Ela não duvidava, uma vez que a capital era uma cidade portuária e com um comércio cujo desenvolvimento todos em Nikaés conheciam.
— Eu definitivamente não gostaria da capital, então. — Devolveu Adra com um suspiro, finalmente desistindo de enfrentar toda aquela luz e trazendo um manto de escuridão para cima deles que fez Damian gargalhar.
— Inferno, você não gosta mesmo de luz, não é?
Adra sorriu, constrangida, mas apenas falou:
— Eu posso te deixar no sol, se você preferir.
— Não. — Damian arregalou os olhos e foi a vez dela de rir. — Tudo bem, sombras são ótimas, principalmente com essa coisa.
Ele apontava para a camisa preta cujas mangas estavam arregaçadas até a dobra dos cotovelos. Mesmo Adra, que usava um vestido preto com mangas curtas estava com calor naquele dia.
— Onde estamos indo? — Ela perguntou por fim.
— Na verdade, eu não faço ideia. — Damian deu de ombros. — Estou só andando.
Adra olhou para ele e Damian devolveu o olhar com um meio sorriso. Ela revirou os olhos.
— Vamos para a loja da minha mãe, então.
Como Damian não protestou, Adra começou a guiar o caminho até a Bruxas & Filhas. Depois de alguns segundos, ele perguntou:
— Como a sua mãe conseguiu uma loja?
Humanos raramente tinham negócios próprios, sendo normalmente condicionados a empregos insalubres, então a pergunta era bem válida. Adra franziu a testa ao responder:
— Meu pai comprou para ela. Acho que foi uma das únicas coisas que minha mãe aceitou ganhar dele antes de se casarem.
Damian suspirou como se entendesse.
— Minha mãe tinha um anel de ouro pendurado em uma correntinha. Era o anel da minha família, meu pai deu a ela como um presente de casamento. Ela nunca tirava. — Uma batida de coração depois, ele acrescentou: — Meu avô ficou bem furioso quando descobriu que tínhamos perdido o anel quando minha mãe morreu.
Adra avaliou a voz dele, a inflexão, a luta para manter qualquer emoção de fora.
— O que aconteceu? — Ela perguntou suavemente.
Damian hesitou e então disse:
— Foi num roubo qualquer. Algum membro mais novo de uma das gangues do Átropo tentou roubá-la, mas ela não quis abrir mão do anel, então ele a matou e a roubou.
E ali estava, a dor implacável que Adra sentia por dentro das costelas refletida no tom de Damian. No jeito que ele falava da morte da mãe. Ela deslizou a mão para dentro da dele.
— Qual era o nome dela?
— Neféle. — Os olhos de Damian eram macios ao falar e ele suspirou, como estivesse se livrando de um peso. Carinhosamente, ele acariciou o dorso da mão dela e Adra sorriu suavemente.
— É um nome lindo. — Comentou ela quando Damian procurou no bolso uma balinha de coco e lhe entregou. — Aposto que ela era doce.
— Sim, ela era. — Disse Damian, rindo, os olhos ainda dirigidos para frente. — Nunca conseguia me colocar de castigo quando eu fazia alguma merda.
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Todos os Anjos do Paraíso
FantasyAdra era uma bruxa em um mundo de demônios, o que significava problemas por si só, mas quando seu pai é assassinado pela mesma que está matando adolescentes dentro da misteriosa Academia Lethe, ela não mede dificuldades para entrar na escola e caçar...