Capítulo 27 - Adra

37 10 0
                                    

— Eu detesto sol. — Decretou Adra, fazendo careta para tentar eliminar a luminosidade incômoda do astro brilhante demais acima deles.

Ao seu lado, Damian riu.

— Vamos, não é tão ruim assim. — Ele disse olhando para cima rapidamente. — Em Mávros quase todos os dias de primavera são assim, ensolarados. Aqui acontece uma vez no ano.

Ela não duvidava, uma vez que a capital era uma cidade portuária e com um comércio cujo desenvolvimento todos em Nikaés conheciam.

— Eu definitivamente não gostaria da capital, então. — Devolveu Adra com um suspiro, finalmente desistindo de enfrentar toda aquela luz e trazendo um manto de escuridão para cima deles que fez Damian gargalhar.

— Inferno, você não gosta mesmo de luz, não é?

Adra sorriu, constrangida, mas apenas falou:

— Eu posso te deixar no sol, se você preferir.

— Não. — Damian arregalou os olhos e foi a vez dela de rir. — Tudo bem, sombras são ótimas, principalmente com essa coisa.

Ele apontava para a camisa preta cujas mangas estavam arregaçadas até a dobra dos cotovelos. Mesmo Adra, que usava um vestido preto com mangas curtas estava com calor naquele dia.

— Onde estamos indo? — Ela perguntou por fim.

— Na verdade, eu não faço ideia. — Damian deu de ombros. — Estou só andando.

Adra olhou para ele e Damian devolveu o olhar com um meio sorriso. Ela revirou os olhos.

— Vamos para a loja da minha mãe, então.

Como Damian não protestou, Adra começou a guiar o caminho até a Bruxas & Filhas. Depois de alguns segundos, ele perguntou:

— Como a sua mãe conseguiu uma loja?

Humanos raramente tinham negócios próprios, sendo normalmente condicionados a empregos insalubres, então a pergunta era bem válida. Adra franziu a testa ao responder:

— Meu pai comprou para ela. Acho que foi uma das únicas coisas que minha mãe aceitou ganhar dele antes de se casarem.

Damian suspirou como se entendesse.

— Minha mãe tinha um anel de ouro pendurado em uma correntinha. Era o anel da minha família, meu pai deu a ela como um presente de casamento. Ela nunca tirava. — Uma batida de coração depois, ele acrescentou: — Meu avô ficou bem furioso quando descobriu que tínhamos perdido o anel quando minha mãe morreu.

Adra avaliou a voz dele, a inflexão, a luta para manter qualquer emoção de fora.

— O que aconteceu? — Ela perguntou suavemente.

Damian hesitou e então disse:

— Foi num roubo qualquer. Algum membro mais novo de uma das gangues do Átropo tentou roubá-la, mas ela não quis abrir mão do anel, então ele a matou e a roubou.

E ali estava, a dor implacável que Adra sentia por dentro das costelas refletida no tom de Damian. No jeito que ele falava da morte da mãe. Ela deslizou a mão para dentro da dele.

— Qual era o nome dela?

— Neféle. — Os olhos de Damian eram macios ao falar e ele suspirou, como estivesse se livrando de um peso. Carinhosamente, ele acariciou o dorso da mão dela e Adra sorriu suavemente.

— É um nome lindo. — Comentou ela quando Damian procurou no bolso uma balinha de coco e lhe entregou. — Aposto que ela era doce.

— Sim, ela era. — Disse Damian, rindo, os olhos ainda dirigidos para frente. — Nunca conseguia me colocar de castigo quando eu fazia alguma merda.

Todos os Anjos do ParaísoOnde histórias criam vida. Descubra agora