Adra não estava pronta para admitir para si mesma que estava errada em falar o que falara para Damian, principalmente porque seus motivos tinham sido legítimos. Suas informações, no entanto, não.
E agora havia uma batalha acontecendo dentro dela entre sua culpa e seu orgulho. Mas Adra simplesmente não conseguia se forçar a ir até ele no andar debaixo e pedir desculpas, especialmente não quando havia tantas pessoas ao redor de Damian como havia agora.
Então, o que ela podia fazer era ficar ali, folheando livros sem realmente ler uma palavra enquanto seus pés e pernas doíam como se estivessem pegando fogo por baixo da saia de cetim, e enquanto ela fingia que não estava observando Damian e seus amigos por entre as páginas do livro que estava em sua mão pela última hora pelo menos.
Até o momento em que Damian desapareceu.
Quando Adra desviou os olhos do livro pelo que pareceu-lhe a centésima vez para olhar para o grupo de amigos, ele não estava mais lá. Surpresa, ela ofegou quando um vulto se mexeu ao seu lado.
— Aproveitando a vista, doce?
A voz dele era aveludada, sem nenhum traço da raiva fria que ela vira antes: não, esta estava unicamente nos olhos dele, que brilhavam estranhamente à luz que vinha do teto de vidro escurecido da biblioteca — como se alguém tivesse derramado caramelo nela.
Ele segurava algo em sua mão, que estava esticada na direção de Adra. Ela ergueu uma sobrancelha.
— Uma bala de coco? — Perguntou sem fazer qualquer movimento para pegá-la. Damian apenas sorriu. Adra fechou o livro em sua mão. — O que você quer?
— Um pedido de desculpas. — Damian devolveu imediatamente os olhos se fechando ligeiramente, mais uma indicação de sua raiva contra o que ela dissera. — Mas vou me contentar com você aceitando a bala.
Adra hesitou.
Então pegou a bala, dando as costas a ele enquanto caminhava e deixava o livro que estava segurando numa das mesas de canto perto da estante. Ela parou quando viu que Damian a seguira.
— Eu já aceitei sua bala. — Ela disse e ele sorriu.
— Mas você tem algo para me falar.
A arrogância da suposição fez Adra semicerrar os olhos, mas Damian manteve sua própria postura, o sorriso se tornando algo mais afiado que uma faca.
Ele estava esperando por um ataque, percebeu Adra incomodada. Ele sabia que havia uma possibilidade alta de que o orgulho dela falasse mais alto que sua própria racionalidade.
Ela odiou que ele estivesse certo. Ela odiou que ele a conhecesse tão bem quanto aquilo. Ela o odiou.
— Fale. — Damian a desafiou.
Adra queimou no lugar, toda a culpa anterior cauterizada em um poço de lava fervente. Mas ela se forçou a acalmar aquele mar que rugia e demandava dentro dela, dizendo a si mesma que não deveria dar ouvidos ao próprio orgulho.
Só Lúcifer podia dizer qual era o preço a se pegar por tal pecado.
— Lena disse que você contou a ela sobre meu... propósito aqui. — Adra disse, empurrando as palavras para fora até que elas se tornassem fáceis de desenhar com a língua pesada.
Os olhos de Damian expressaram sua surpresa, assim como sua testa franzida. Ele deixou a cabeça tombar para um lado, como um gato. Adra tentou não pensar na graciosidade do gesto enquanto o encarava.
— Sim, e?
Ela balançou a cabeça.
— Você contou a todos eles sobre o motivo de me trazer aqui. — Ela umedeceu os lábios subitamente secos. — Mas você disse a eles o motivo de eu estar aqui?
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Todos os Anjos do Paraíso
FantasyAdra era uma bruxa em um mundo de demônios, o que significava problemas por si só, mas quando seu pai é assassinado pela mesma que está matando adolescentes dentro da misteriosa Academia Lethe, ela não mede dificuldades para entrar na escola e caçar...