Capítulo 4 - Adra

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Carino não falou nada enquanto caminhavam pelos primeiros quarteirões, sem dúvida esperando chegar a uma distância segura do Coven e de quaisquer policiais que pudessem ter tido a ideia de estender a noite com companhias que poderiam fazê-la corar — o que não era um trabalho exatamente fácil.

O relacionamento de Adra com o pai, apesar de todas as outras bruxas e suas dinâmicas familiares inexistentes, nunca fora tenso ou esquisito, então andar lado a lado com ele depois de uma noite tão anormal trazia a melhor sensação de paz que Adra poderia sentir. Ela estava feliz que Carino pudera ir para casa com ela naquela noite e nem mesmo protestou quando ele agarrou sua mão como costumava fazer quando ela era mais jovem, apenas uma criança incapaz de se guiar pela cidade onde nascera.

— Então, criança. — Ele finalmente disse, usando o apelido que sempre usava e fazendo Adra franzir o nariz enquanto ele sorria docemente, apenas uma das várias diferenças que Carino tinha de sua espécie. — Quer algodão doce?

Ele apontou com a cabeça para um humano na máquina para fazer o doce, em uma das vielas onda Adra vira o mágico amador mais cedo naquela noite.

— Você sabe como me comprar. — Ela alfinetou o pai, sorrindo como uma boba enquanto Carino comprava seu doce preferido.

Adra ignorou quando o vendedor lançou um olhar desagradado para ela e Carino. Naquele momento, não havia preocupação no mundo que pudesse perturbá-la com seu pai ali. Feliz, ela aceitou o algodão doce e ambos voltaram a andar.

— O que você fez hoje foi muito corajoso. — Disse ele olhando para frente, para os passantes, humanos e demônios, enquanto mantinha a voz baixa. — E eu estou orgulhoso de você.

Satisfação cresceu no peito de Adra, que sorriu em agradecimento ao pai antes de enfiar um pouco do algodão doce na boca. No céu acima deles, emoldurado por um corredor de prédios beges, as estrelas sorriam para Adra e Carino enquanto eles caminhavam lentamente em direção à casa.

— Pai — Adra disse, lembrando-se da proposta de Damian Kolasi e de tudo o que descobrira naquela noite, mas quando Carino se voltou para ela, Adra hesitou.

— O que foi, criança? — Os olhos violetas do pai, um reflexo perfeito dos olhos dela, brilharam com preocupação e Adra engoliu em seco.

— O jeito como o ritual terminou... não era para aquilo ter acontecido. — Ela disse em vez de contar o que acontecera durante a tarde e Carino franziu as sobrancelhas. — Aquele clarão não é normal. Pode não ser nada, mas...

Ela se calou, mordendo o lábio. Adra sabia que não deveria contar aquilo para o pai, mesmo que confiasse completamente nele. Se o assassino não pudesse ser achado, aquilo poderia fazer com que uma bruxa ou um bruxo servissem de bode expiatório para a guarda real e quem quer que fosse o verdadeiro culpado sairia livre. Carino, no entanto, apertou um pouco sua mão, encorajando-a.

— Mas...

— Mas pode significar que quem fez aquilo — Adra baixou a voz — está sendo protegido ou tomou muitas precauções antes de matar aquela menina.

Carino ficou em silêncio enquanto saíam da viela agitada para a rua do apartamento deles, que era quieta e morta como um túmulo, bem do jeito que Carino gostava — muito barulho atrapalhava seu sono, segundo o que ele dizia.

— Não se preocupe com isso, Adra — disse ele por fim, beijando as costas da mão dela com carinho — Você não tem nada a ver com essas coisas, criança, e eu prefiro que continue assim. Deixe o ritual de hoje a noite de lado, por favor.

Adra respirou fundo, tentando fazer com que as palavras do pai afundassem em sua mente, mas elas continuavam sendo atropeladas pela proposta de Damian Kolasi. Se ela ao menos pudesse entrar na Academia, talvez aquela energia luminosa e dolorida que parou o ritual pudesse ser a chave para pegar o assassino.

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