Capítulo 34 - Damian

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Damian mentira para Adra.

Ele não foi para a mansão de Charis, do outro lado da cidade, quando a deixou na casa dos tios. Em vez disso, Damian caminhou alguns quarteirões para baixo, perto do canal que passava como uma veia por meio de Mávros, onde uma loja adorável de doces se sobressaía entre as outras lojas, todas sérias em tons de marrons e beges.

Ele conhecia aquela loja tão bem quanto conhecia o próprio rosto e, além dela, o Kástros se erguia, impossível de ser ignorado por qualquer um que passeasse pela cidade. Era uma construção bonita, mas sombria, apontando para o céu em um claro desafio, tentando se sobrepor às estrelas que iluminavam aquele infinito quando era noite, e alcançar o astro rei durante o dia.

Claro que, apesar dos esforços do Kástros, ele não conseguia ofuscar a beleza dos Céus, assim como Lúcifer não conseguira se igualar a Deus. Se tivesse conseguido, pensou Damian distraidamente ao rumar para a loja de doces, talvez eles estivessem em uma situação bem melhor.

Agora, no entanto, os Céus deixavam a criação de seu Deus na ignorância, com eles, demônios, reinando acima de tudo o que fora feito para a liberdade. Cada alma humana tinha correntes das quais os demônios forjavam sua superioridade.

Afastando aqueles pensamentos, Damian se olhou na vitrine antes de entrar na loja. Ele sabia que ela notaria imediatamente se houvesse algo de errado. Por fim, quando se deu por satisfeito, Damian deixou-se adentrar o espaço pequeno e enfeitado da loja de doces da família de Adonia.

Assim que o pequeno sino — soando tão semelhante à loja de Adra e da mãe dela em Agraés — tilintou acima de sua cabeça, a melhor amiga de sua mãe levantou os olhos detrás do balcão. Damian se sentiu relaxando quando o rosto rechonchudo de Adonia sorriu para ele, resplandecendo de alívio e alegria por vê-lo.

— Damian. — A voz dela era baixa e doce, mas animada mesmo assim enquanto ela dava a volta no balcão para esmagá-lo em um abraço que poderia muito bem quebrá-lo.

Não por causa do aperto, não: porque ele podia sentir o alívio naquela única palavra de Adonia — o nome dele —, ele podia sentir o alívio de ele ainda estar vivo, apesar das cartas constantes que ambos trocavam. O alívio de ele estar bem, embora bem não fosse um adjetivo que Damian usaria para se definir.

Ele podia sentir as lágrimas na voz dela e o tremor das mãos. Damian era a única coisa que Adonia ainda tinha de Nefele, a amiga-irmã que ela havia perdido tantos anos antes — e ainda assim ele nem mesmo tinha a decência de contar a verdade para ela. A verdade sobre a morte de sua mãe e de seu pai, e tudo o que aconteceu depois disso.

Tudo o que ele fez de livre e espontânea vontade.

— Madrinha — Ele murmurou afetuosamente, empurrando a dor que o dilacerava para um canto de seu coração onde ela poderia ser amordaçada e trancada por um tempo. — Eu estava com saudade dos seus doces.

A risada de Adonia foi rasgada de dentro de sua barriga proeminente, era provavelmente a única coisa alta nela: a risada. Damian se lembrava de quando era criança e assistira sua mãe sendo queimada. Adonia, ao seu lado, chorava silenciosamente, os ombros balançando a cada soluço. Mas não havia um som.

Ele quase achara que estava ficando surdo, não fosse o estalar constante da madeira e o cheiro insuportável da fumaça que entrava por sua boca, seu nariz. O corpo de Nefele, agora povoando o ar.

Damian tinha vontade de vomitar ao lembrar daquilo.

Ele observou enquanto Adonia se separava dele e sorria.

— Você está lindo. — Ela disse, como era de praxe entre eles, passando os dedos entre os fios de cabelo de Damian carinhosamente. — Tem alguma novidade para mim?

Todos os Anjos do ParaísoOnde histórias criam vida. Descubra agora