Capítulo 33 - Adra

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Adra apertou o braço de Theo, ansiosa demais para não reagir de alguma maneira à estação ferroviária cheia que se abria em sua visão como um livro. Do seu outro lado, Damian carregava as passagens que os levaria até Mávros para a Isiméria — Sebastien, Lena e Astaroth tinham partido mais cedo naquele mesmo dia.

Eles ficariam na cidade por apenas sete dias e separados, o que não ajudava em nada a acalmar Adra. Apenas o pensamento de que Damian estaria na casa de Charis, sob o mesmo teto do homem que matara o pai dele, fazia com que o sangue de Adra corresse quente demais nas veias e o mesmo instinto violento que a dominara com Artemis a envolvia, ainda pior.

— Vocês ficarão bem. — Disse Theo em um murmúrio, sem dúvida notando a mandíbula trincada de Damian. Ele não visitaria os pais naquele feriado, ficando na Academia sozinho, e nem mesmo Damian conseguira arrancar dele o motivo para aquilo. — Não precisam se preocupar.

— Considerando tudo, Theo, eu acho que nos preocupar seria a medida mínima a se tomar. — Damian devolveu, mas havia um sorriso discreto em seus lábios ao falar.

Adra sorriu, sem poder evitar a onda calorosa de calma que a sobrepujou, sem dúvida uma manipulação descuidada de Damian sobre o próprio poder só para acalmar a todos eles.

A mão de Adra apertava a de Theo desde que saíram da Academia, malas em mãos, para a estação ferroviária de Agraés naquela manhã. Savva estivera na portaria, observando os alunos e suas permissões para sair com muita atenção, e dirigiu um olhar aguçado para Damian quando percebeu que ele iria ir para Mávros.

Eles tinham trocado olhares carregados, mas não falaram nada e nem Adra, nem Theo comentaram aquilo enquanto andavam pelas ruas de Agraés, os carros passando na rua, bem mais frequentes e agitados que no resto do tempo por causa do primeiro dia de feriado.

Desde aquela noite no telhado da Academia, todas as vezes que olhava para ele, Adra não podia deixar de sentir como se uma emoção, sobrepujante a qualquer outra coisa, florescesse dentro de seu peito, sem deixar espaço para qualquer outra coisa.

Nenhum deles parecia se importar de dar nome para a relação que tinham e era confortável, mas as sombras começavam a se insinuar entre eles — Adra podia senti-las se aproximando.

Ela não tinha dúvidas sobre os sentimentos de Damian, longe disso: o problema era todo o resto. O futuro. O que esperava por ela nos dias que viriam.

Desde que entrara na Academia, o único objetivo de Adra tinha sido achar o assassino de Carino e fazê-lo pagar na mesma moeda — a Morte. E esse dia, o dia em que Adra teria a chance de conseguir sua vingança, estava próximo, ela sentia isso em seus ossos, nas sombras que lhe sussurravam ao ouvido.

Adra nunca esperara se apaixonar por Damian, apesar da atração palpável entre eles desde que o conhecera.

Agora, as dúvidas estavam começando a surgir, porque Adra simplesmente não queria desistir. Ela não queria desistir de sua vingança, mas também não podia abrir mão de Damian — que era o que as consequências de sua vingança a obrigariam a fazer. Olhar para qualquer uma daquelas duas possibilidades era como abrir um rasgo em seu coração, separá-lo em dois.

— Adra? — A voz de Theo acordou-a para o que acontecia a sua volta e ela encarou os olhos de céu pálido, confusa. — Perguntei se você queria sentar.

— Não sei. — Ela respondeu dando de ombros e seus olhos se moveram para Damian. — Vai demorar muito?

Ele riu da impaciência dela, mas checou as horas no enorme relógio acima deles, pendurado no teto abobadado da estação.

— Não muito. — Decidiu por fim e seus olhos desceram para Theo, o rosto se suavizando. — Tem certeza de que não vai conosco? Eu poderia dizer à Savva que te sequestrei.

Todos os Anjos do ParaísoOnde histórias criam vida. Descubra agora