Ela não ficou encarando o garoto por muito tempo, mas aquela fumaça sombria que Elias exalava, como se viesse diretamente do próprio inferno, era mais difícil de ignorar. Damian encontrou o olhar dela e apenas assentiu, confirmando o que Adra já sabia.
Tomando cuidado, ela olhou para Elias de novo, observando enquanto ele se sentava no canto mais escuro da sala, afastado de todos os outros, que o ignoravam também. Os olhos dele esquadrinhavam tudo, mas assim que Nestor passou pela porta, Elias olhou apenas para ele.
Dali, não era possível entender sua expressão, mas Adra não ficaria surpresa se fosse realmente inveja. Ela desviou o olhar para Theo, que suspirou, também olhando para Elias.
— Você acha que foi ele? — Perguntou Adra em voz baixa e Theo olhou para ela, os olhos azuis pesarosos.
— Não sei, Adra. — Ele disse, e foi honesto. Theo balançou a cabeça. — É sempre complicado quando um demônio se deixa levar desse jeito. Os pais têm tentado tirar isso dele, mas... é complicado.
— Como câncer. — Ecoou Adra e Theo assentiu, comprimindo os lábios.
— Se Elias for o assassino — Disse ele, baixinho. — então isso quer dizer que ele já foi... consumido pelo pecado.
Adra estremeceu com o jeito de Theo ao falar aquilo, como se fosse... definitivo.
— O que aconteceria com ele? — Perguntou ela, incapaz de não perguntar. Theo comprimiu os lábios de novo, mas não respondeu.
— Ele seria morto. — A voz de Damian, suave e baixa, chegou até ela. Lena, ao seu lado, parecia muito rígida. — A coroa entende isso como misericórdia, porque o que espera por ele é...
Dessa vez, porém, nem mesmo Damian completou seu pensamento, preferindo hesitar e então se voltar para frente de novo. Adra abriu a boca para perguntar mais...
— Boa tarde, classe. — e a voz de barítono do professor ressoou pelo auditório, assustando Adra, que nem havia notado a entrada dele.
Ao olhar para o professor Dajuma pela primeira vez, ela não teve problema em entender porque ele havia sido escolhido para ensinar na Academia Lethe: com o suéter bege e a calça cáqui da mesma cor contrastando com a pele escura como creme de café, o homem era obviamente a melhor escolha para lidar com adolescentes cuja magia era basicamente fora de controle.
Só olhar para ele era o suficiente para entender que Dajuma era uma das pessoas mais calmas que alguém podia conhecer e a prova disso era que ele sorria naquele mesmo momento, inabalado pelas conversas incessantes dos outros colegas de classe de Adra.
Quando todos se acalmaram o suficiente para ouvi-lo, ele começou:
— Como todos sabem, essa é a aula de necromancia e, apesar dos seus esforços hercúleos para me provar errado, nenhum de nós vai trazer os mortos de volta à vida nessa sala. Isso não é possível. — Os olhos de Dajuma passaram por ela e Adra tentou ignorar a onda de vergonha que a varreu nesse momento, ou o súbito estremecimento. Mas o professor apenas continuou a falar: — A necromancia é uma magia que nos permite, apenas, estudar o que os mortos estavam sentindo e o pensando no momento em que morreram, mas ela também foi usada pelo nosso povo nas Revoltas Humanas em Jerusalém mil e quinhentos anos atrás, para que os corpos dos humanos rebeldes pudessem ser usados contra aqueles que estavam vivos.
Adra estremeceu novamente e Theo, ao seu lado, lançou a ela um olhar preocupado. As Revoltas Humanas tinham sido um dos tópicos que ela estudara com outras bruxas, uma das coisas mais fundamentais para se saber sobre aquela sociedade: não seria possível mudá-la através da violência, não importava o quanto tentassem.
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Todos os Anjos do Paraíso
FantasyAdra era uma bruxa em um mundo de demônios, o que significava problemas por si só, mas quando seu pai é assassinado pela mesma que está matando adolescentes dentro da misteriosa Academia Lethe, ela não mede dificuldades para entrar na escola e caçar...