Capítulo 49 - Damian

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A mensagem da rainha para seus contatos em Agráes foi tudo o que Damian precisou para tirar Theo de seu esconderijo. Ela dizia que a rainha fora capaz de amenizar o falatório e que apenas a Guarda Real sabia sobre o envolvimento de Theo nos assassinatos. A Guarda e Damian.

Ele não tinha qualquer ilusão sobre isso: Theo sabia que, se Adra fora capaz de descobrir a verdade, Damian também saberia. Então ele não tinha a vantagem de guiar Theo para sua armadilha pessoalmente, mas seus amigos cuidariam disso.

Eles garantiriam que, apesar do medo, Damian e Theo se encontrariam antes do amanhecer. Mesmo que Theo parecesse estar se escondendo dele.

Havia um prazer macabro em saber que Damian era tão temido por seu melhor amigo e maior traidor que a própria Guarda Real não assustava Theo tanto quanto a perspectiva de encará-lo, e Damian não podia negar isso nem mesmo se quisesse.

Ele podia sentir o sangue cantando nas veias com todos os sentimentos que corriam junto com o líquido espesso e rubro. Podia sentir o calor em suas bochechas enquanto cruzava a Ponte Téfra em direção ao ponto de escuridão entre as árvores que ladeavam o Thanatos.

As sombras o guardariam até que seus amigos guiassem Theo para aquele lugar. Ele teria que passar pela ponte para chegar até o lugar de encontro que tinha combinado com a resistência angelical — ou melhor, com a rainha e Damian.

Como ele havia apostado, Theo não tinha realmente saído de dentro da Academia, mesmo com as buscas incessantes da Guarda Real pelo lugar. Não era muito difícil fazê-los de idiotas mesmo. Damian observou enquanto Theo andava calmamente pela rua, como se estivesse voltando de um pub ou uma festa.

Casual.

Eles não tinham aprendido muito tempo atrás no Átropo que não se andava rápida ou inquietamente quando se acaba de fazer algo errado? Qualquer um poderia achar suspeito.

Damian poderia até mesmo rir se não fosse a raiva que nublava sua visão. Havia um rugido permanente em seu ouvido, também. Mas ele se obrigou a ficar quieto sob a proteção da escuridão. Aquele lugar — as sombras — soavam como Adra. Ele ainda não sabia se aquilo só fazia sua raiva aumentar ou se o acalmava a ponto de conseguir se controlar.

Rígido, Damian continuou a olhar Theo andando pela rua, esperando o momento certo para se mostrar. Theo usava uma camisa de linho fina e calças pretas que estavam amassadas e, ele podia apostar, puídas. Como as roupas que eles tinham encontrado no esconderijo.

Damian fechou os olhos por um momento. A figura que os tinha flagrado deveria ter sido Nestor, por isso Theo simplesmente o deixara fugir.

Ele voltou a abrir os olhos quando o som dos passos de Theo se tornou mais claro. O amigo estava se aproximando.

— Sabe, Theo, eu estou com uma dúvida. — Disse Damian das sombras quando ele pisou na ponte Téfra. O demônio observou com sombria satisfação quando o anjo se virou para olhar em volta, a expressão cheia de alarme e pânico. — Você realmente achou que poderia fugir de mim, ou só estava com uma esperança inútil?

Theo olhou em volta por um segundo e então respirou:

— Damian.

Ele pisou para fora das sombras, fazendo com que Theo desse um passo atrás, encarando-o como se Damian fosse uma assombração. Ele engoliu em seco, mas o olhar de Damian não vacilou, grudando-se ao de Theo como se visse a alma dele.

Aquele era o garoto que crescera ao lado dele, aquele que o acolhera depois de todos os erros e todas as marés ruins, aquele que ficara ao seu lado. E mentira a cada segundo.

Sobre o que era, sobre quem era. Sobre o que eles eram.

Damian tinha acreditado que Theo era seu amigo, até mais do que isso, um irmão. Theo fora seu pilar, sua fundação. A amizade que tinham era a coisa mais importante da sua vida. Até que não era mais.

Todos os Anjos do ParaísoOnde histórias criam vida. Descubra agora