Capítulo 26 - Adra

51 10 2
                                    

Adra se esticou na cadeira, bocejando longamente. Seu corpo doía por ter ficado tão curvada quanto estivera na última hora, mas Adra não se arrependia. Pelo menos agora ela tinha colocado seus próprios pensamentos em ordem ao escrevê-los em seu caderno de couro.

Talvez até conseguisse dormir pelas horas que restavam até o café da manhã, o que era melhor do que não dormir, ela supunha.

Depois de conversar com Damian e Theo, ela havia se retirado para o quarto e encontrado Lena adormecida em sua própria cama. Adra havia tentado dormir, mas os acontecimentos daquele dia continuavam a se repetir incessantemente em sua mente, flagelando qualquer amostra de sono que pudesse vir a ela.

Então, quando Adra se cansou de permanecer deitada sem fazer nada além de pensar desordenadamente, ela se levantou e acendeu a pequena e fraca luminária de sua escrivaninha, curvando-se ali para poder enxergar melhor o que anotava em seu caderno.

Ela sabia que estava misturando anotações sobre sua pesquisa para o trabalho de Dajuma e a investigação dos assassinatos de Aglaie e Elias, mas não se importou muito. Adra estava desesperada para organizar a própria mente e assim ter um pouco de paz.

Bocejando mais uma vez, ela se levantou, congelando quando a cadeira se arrastou no chão, rangendo por causa da madeira. Houve uma pausa na respiração de Lena e então a amiga disse do outro lado do quarto:

— Adra... — A voz dela era um murmúrio quase ininteligível de sono. — Que horas são?

— Duas horas. — Disse Adra, levantando-se de uma vez com uma careta. Ela não queria ter acordado Lena, não depois de tudo o que acontecera e do quanto parecera abalar sua amiga. — Durma.

Mas Lena não lhe deu atenção.

— O que você estava fazendo acordada às duas horas da manhã?

Adra escutou a cama de Lena gemer enquanto ela se sentava, o corpo visível apenas como um vulto dentro da escuridão da noite. Adra suspirou, ignorando o arrepio de medo instintivo que passou por ela e caminhando vagarosamente até a cama de Lena.

A amiga se inclinou, ligando o abajur de sua mesa de cabeceira para que pudessem se ver melhor.

— Eu não conseguia dormir. Muita coisa na cabeça. — Lena suspirou, o rosto se suavizando em uma expressão compreensiva e cheia de pesar. Adra se sentiu culpada por lembrá-la de toda aquela situação, mas se forçou a falar: — Dami me contou sobre o seu irmão.

Lena ficou tensa por um segundo ao lado dela, então respirou fundo, tomando tempo para expirar. Adra deixou que ela se acalmasse e esperou eu Lena decidisse se falaria ou não.

— Ulisses era meu herói quando eu era pequena e a morte dele foi uma das coisas mais horríveis que já aconteceram na minha vida. — Disse ela baixinho. — Eu sinto falta dele cada dia que passa. Algumas vezes parece que nunca vou conseguir voltar a respirar direito.

Foi a vez de Adra respirar fundo. Apesar do que Damian lhe contara, ela nunca pensou que a dor de Lena era tão igual a dela, tão semelhante em sua diferença.

— Faz quanto tempo que ele morreu? — Perguntou Adra quietamente.

— Faz nove anos. — Lena disse com um sorriso dolorido. — A princípio, eu fiquei com raiva. Como descendente de Azazel, da Ira, eu talvez seja uma das melhores representantes, porque eu não consigo evitar ficar furiosa com ele. E com todo mundo que participou da execução dele e com meus pais e, na verdade, com o mundo inteiro.

— E como você lidou com isso? — Perguntou Adra. Ela também estava com raiva, com tanta que podia sufocar e se afogar nela. Lena soltou uma risada pelo nariz.

Todos os Anjos do ParaísoOnde histórias criam vida. Descubra agora