A carta era curta.
Muito curta.
Adra franziu a testa ao ler as palavras, a ordem clara implícita nelas sem muito carinho.
Adra,
Estarei te esperando na casa dos seus tios para a Isiméria de Primavera. Nós vamos conversar então.
Com amor,
Mãe.
Era como acionar uma alavanca para sua ansiedade. Adra lutou para respirar fundo e se acalmar ao sentir o familiar formigamento na nuca. Ela leu a carta mais uma vez e então deixou-a de lado em sua escrivaninha com mais uma respiração profunda.
Lena estava em algum lugar junto com seus outros amigos e Adra considerou se juntar a eles por um segundo antes de sacudir a cabeça. Ela não conseguiria se concentrar em nada que não fosse aquela carta naquela noite.
Se ao menos Damian estivesse aqui, o pensamento passou por sua mente como uma inundação repentina e Adra franziu a testa. Desde que se beijaram pela primeira vez alguns meses antes, pensamentos como aqueles eram recorrentes para ela. Assim como o desejo quase insuportável de abraçá-lo todas as vezes que Adra sentia a dor do luto envolver seu peito e sua garganta.
Ela se perguntava se ele sentia o mesmo. Se Damian sequer sabia o que era precisar de uma pessoa para respirar melhor. Se ele sabia que os braços dele em volta dela faziam-na sentir como se estivesse livre pela primeira vez na vida. Se cada respiração dele no rosto dela fazia com que Adra sentisse mil correntes elétricas traçando as linhas de sua pele.
Mordendo o lábio com força, ela se forçou a voltar para o presente e para o problema que tinha naquele momento em específico. A carta de Kia era a última entre várias outras. Tinha data de um mês antes, o que queria dizer que ela provavelmente descobrira o que Adra estava fazendo.
Só o pensamento fazia com que Adra estremecesse.
Ela sabia que teria de enfrentar Kia alguma hora. Sabia que sua mãe ficaria furiosa caso saísse de seu estupor assustador causado pelo luto e visse que sua única filha estava correndo ao encontro do garoto que tirara tudo da família dela.
— Inferno, eu vou levar uma surra. — Ela murmurou para a parede, rindo, quase histérica com tudo o que se acumulava dentro de si mesma.
Mas outra carta também estava confundindo Adra. E aquela era bem mais problemática, porque era interessada a seu pai:
Prezado Carino,
Espero que esta carta o encontre com boa saúde. Eu também gostaria de acrescentar que lamento o acontecimento de algumas semanas atrás, mas que nosso trato continua valendo apesar disso. Não me decepcione, não nos decepcione.
Atenciosamente,
SMTY, o cipreste, a coruja e a maçã.
Adra não conseguia encontrar sentido naquela carta. Que trato era aquele? O que Carino podia fazer para não decepcionar o remetente?
Ela deveria ter ficado algum tempo encarando a parede enquanto tentava entender tudo aquilo, porque quando finalmente acordou de seus pensamentos, batidas impacientes soavam na porta de seu quarto.
Cautelosa, Adra abriu a porta, apenas para encontrar Damian parado em frente dela, uma garrafa de uísque em sua mão. Ela mordeu o lábio quando a visão dele lhe custou seu fôlego.
Damian, com os cabelos negros bagunçados brilhando de umidade e os lábios castanhos torcidos em um sorriso cheio de pecado era uma das visões mais lindas que Adra já admirara. Alguns segundos se silêncio se alongaram enquanto o ar entre eles estalava e se aquecia, os olhos escuros do demônio passando por Adra como a carícia de um amante.
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Todos os Anjos do Paraíso
FantasyAdra era uma bruxa em um mundo de demônios, o que significava problemas por si só, mas quando seu pai é assassinado pela mesma que está matando adolescentes dentro da misteriosa Academia Lethe, ela não mede dificuldades para entrar na escola e caçar...