Capítulo 41 - Adra

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Na manhã seguinte a um jantar de Isiméria muito esquisito com sua família, Adra encontrou Damian do lado de fora da casa de sua tia. Ele parecia cansado e arrasado, o que só confirmou as suspeitas que estavam fazendo seu coração apertado há dias.

— Foi ele. — Ela disse antes que Damian pudesse falar, praguejando baixinho. — Foi Theo.

Damian assentiu, os olhos guardados e protegidos ao admitir a traição que pesava em ambos. Adra mal podia acreditar naquilo, mas ali estavam todas as provas: o plano da resistência humana junto com os anjos que se organizavam por Nikaés era fundamentado no controle da rainha Tékia sobre o reinado do filho.

Como um anjo, ela seria quase obrigada a ajudar seu povo politicamente uma vez que Nestor assumisse o trono e, considerando como o filho dela era, não seria muito difícil para Tékia puxar as cordas que ela precisava.

Então, Theo, outro filho de dois anjos escondidos em plena vista, fora designado para proteger Nestor durante os anos dele na Academia, uma vez que a coroa não podia protegê-lo na escola. A aproximação de Aglaie com Nestor, eles apostavam, tinha revelado o disfarce de Theo para algumas pessoas, incluindo Carino, sem dúvida.

Fora por isso que Theo os matara.

Fora por isso que Theo matara o pai dela.

— Doce. — A voz de Damian, firme e cansada, trouxe Adra de volta ao presente e ela olhou para ele, esperando. — Escute, eu estava pensando se você não quer passar os próximos dois dias comigo em outro lugar.

Adra franziu a testa surpresa, porque ela estava esperando muitas coisas, mas ignorância completa das coisas que tinham acabado de descobrir não era uma delas, mas Damian não tinha acabado:

— Só eu e você, sem... — Ele suspirou, frustrado. — sem toda essa bagunça de avôs psicóticos e resistências e traições... só nós.

Adra não hesitou ao sorrir.

— Me dê um segundo, vou pegar minha mala.

Foi mais difícil do que isso, no entanto, porque desde que soubera da participação de Adra nos negócios de Damian, Kia estivera enlouquecendo-a com reclamações e explosões constantes.

— Essa não é você, Adra. — Ela dissera na noite anterior antes que fossem dormir. — Eu não a reconheço mais.

Adra precisou morder a língua para não responder àquilo. Ela sabia que tinha mudado muito desde a morte de Carino, mas sua mãe também tinha. Primeiro, a Kia que ela conhecera nos seus dezoito anos de vida nunca a trataria daquela forma. Segundo, ela nunca se aliaria a uma resistência humana que fosse contra as bruxas — contra a filha dela.

Mas tudo o que Kia podia ver naquele momento era o grupo que a salvara da dor, ainda que o luto ainda estivesse lá, intocado. Pelo menos Adra tinha lidado com aquilo. Pelo menos ela estava lidando com aquilo.

Ao pegar sua mala e arrumar suas coisas, Adra deixou uma carta para Kia na cômoda dela. Então começou a se retirar. Como quase sempre, sua mãe, Eunike e Constantino estavam na cozinha, planejando o que precisariam importar de outras nações para a sua resistência. Ela parou para se despedir e teve de esperar um momento para que Kia levantasse os olhos.

— Eu vou ir embora hoje. — Disse Adra rigidamente, tentando inutilmente acalmar a revoada de dor que bicava seu peito sem parar diante do olhar sem brilho de Kia. — Deixei algo para você no seu quarto, mãe. E tios... obrigada por me acolherem durante esses dias.

Eunike não respondeu, limitando-se a dar um gole em seu café enquanto olhava para Adra severamente. Constantino, com um ar triste, assentiu para Adra, reconhecendo o agradecimento.

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