Capítulo 31 - Damian

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Damian ajeitou a lapela de seu casaco em um gesto irritado. Ele não queria estar ali, mas não tinha muita escolha: precisava falar com Paris antes que a Guarda Real fizesse algo muito estúpido.

Como tentar culpá-los pelo assassinato de Aglaie, Carino e Elias.

Então, ali estava Damian, esperando o tio no meio da Ponte Téfra em uma noite de sábado que poderia ser perfeitamente agradável dentro da Academia com Adra e o resto de seus amigos.

Adra.

A lembrança dela, de sua agonia ao enfrentar a morte de Carino e o apartamento de onde ela tentava fugir, invadiu a mente de Damian quase contra a vontade dele. Mas ele deixou-se visualizar o rosto dela, a boca cheia e vermelha, os cabelos pretos que deslizavam até o meio das costas, os vestidos pretos que ela sempre usava, não importava a ocasião.

Adra o escolhera. O desejo dela pertencia a ele, algo que, entre todos os parceiros de Damian, raramente acontecera. Os últimos dois meses tinham passado rapidamente, levando consigo a felicidade que Damian e Adra compartilhavam de ter alguém que os entendia perfeitamente.

Aqueles meses tinham sido como um sonho, algo que Damian nunca sonhou que poderia ter. Desde que tinham se beijado pela primeira vez, eles entraram em um acordo silencioso de não nomear o que tinham e Damian respeitava aquilo, talvez por um pouco de medo do que aconteceria caso ele tentasse pressionar Adra.

Mas ficar com ela, fazê-la rir... eram os momentos mais lindos e brutais que Damian já vivera. Ele morria um pouco toda vez que o som rouco da risada dela flutuava entre eles. Damian tinha uma parte da sua alma estraçalhada a cada sorriso, um corte feito em seu coração a cada beijo. Cada som que ela fazia era como jogar sal em uma ferida.

O que ele sentia era cru e violento em sua essência, algo como a colisão de duas estrelas. Algo que o deixava arrepiado, alerta e completamente ciente de si mesmo, cada respiração, cada batida dolorosa de seu coração torto e machucado.

Damian mataria antes de ver isso arrancado de si como seus pais foram.

O que significava que ele precisava agir. Contra Charis, contra aquele assassino desconhecido e angelical, contra Paris, contra a porra do mundo inteiro.

Se algo acontecesse a Adra, ele queimaria aquela escola até as cinzas e todos os responsáveis por isso, juntos.

Fechando os olhos, Damian respirou o ar gélido, olhando para a luz pálida da lua cheia que refletia as águas agitadas no Thanatos. Ele queria falar com Adra, ele queria dizer a ela como se sentia. Exatamente como se sentia.

Mas isso teria de esperar.

Desde que encontraram aquelas penas no esconderijo do assassino, a cabeça de Damian não tinha lhe dado sossego. Algo o incomodava, rastejando sob sua mente como um inseto irritante, algo que Damian não conseguia capturar, não importava o quanto pensasse.

Talvez Charis pudesse iluminar essa questão, embora só o pensamento de fazer algum acordo com o avô fizesse a raiva dentro de Damian se revirar em revolta. Cada célula do corpo dele queimava com aquela possibilidade, rebelando-se contra o pensamento de se aliar a um homem como Charis.

Mas Damian não tinha outra escolha: era isso ou esperar um próximo assassinato. E Damian não estava no humor para lidar com o sangue que não fosse de seus inimigos, por isso sua escolha seria Charis.

— Eu achei que não iria aparecer. — A voz de seu tio soou por trás de Damian, vindas da direção da Central da Guarda exatamente de onde Damian imaginou que ele viria.

Ele não se mexeu para virar, no entanto.

— Guarde a arma, Paris. — Ele disse em um murmúrio desinteressado, mas firme. — Eu sou um bastardo e um bom jogador, mas não sou um assassino.

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