Capítulo 37 - Adra

27 7 6
                                    

Ele estava nervoso, Adra podia dizer só de observar a linha dos ombros de Damian. Por um momento, ela se perguntou quando exatamente, ela tinha começado a memorizar aqueles traços de Damian, aquelas sutilezas que entregavam muito mais que ele mesmo se permitia.

Ela não o culpava por estar se sentindo assim — se Adra soubesse que ele estava prestes a ver as piores partes dela em um espetáculo, ela também estaria uma pilha de nervos. Mas Adra também sabia que de nada adiantaria dizer algo agora.

Ela não podia assegurar a Damian que ficaria com ele apesar das partes sombrias que ele estava prestes a lhe mostrar, mesmo sabendo com toda a certeza que sim. Mas a certeza dela não o convenceria.

Então, Adra se limitou a acariciar a mão de Damian ao passar por ele em direção à rua. Sua tia os observava do jardim da casa com os braços cruzados, o rosto cheio de dúvidas, apesar de Adra ter dito a ela que não compartilharia nada do que conversaram com Damian.

Ela tinha razão em estar nervosa, porque Adra tinha mentido.

E ela não se arrependia nem um pouco.

Além disso, Eunike nunca chegaria a saber que Adra não tinha a intenção de esconder o que fosse de Damian, uma vez que tudo aquilo acabaria em silêncio. Calmamente.

Eles decidiram que ninguém além deles saberia da verdade. Se tudo corresse de acordo com o plano, eles teriam uma vantagem estupidamente grande de qualquer outro adversário que estivessem enfrentando, e conseguiriam fazer com que tudo desse certo.

Adra livre, o assassino morto, um golpe realizado com sucesso e Damian ainda ganharia o suficiente para se livrar de Charis e sua influência para sempre.

Ela não sabia, no entanto, o que aconteceria com sua relação com Kia. Essa era a única incógnita no futuro de Adra. A única dúvida que era forte o suficiente para fazê-la hesitar. Em retrospecto, tudo o que ela queria fazer era se encolher no colo de sua mãe e chorar — por tudo o que descobrira, tudo o que sabia agora.

Mas Adra sabia que aquilo era impossível. Mesmo com o amor, as jornadas que ela e Kia estavam traçando eram separadas demais para que elas se encontrassem e tentar forçar isso só iria separá-las ainda mais. Por isso Adra simplesmente continuava indo pelo caminho que escolhera e deixaria que Kia seguisse o dela.

Ela esperava que se encontrassem de novo em algum momento, claro, mas estava claro para Adra que isso não deveria ocorrer até que todo o plano estivesse acabado — para o bem ou para o mal.

Talvez então ela pudesse contar toda a verdade para sua mãe e até mesmo para sua tia.

— O que está na sua mente? — Perguntou Damian em um murmúrio.

Diferente das outras vezes em que estiveram juntos, ele não a tocava, provavelmente por causa da sombra que os seguia um pouco atrás, o mordomo de Charis e seu braço direito. Adra não pôde deixar de olhar para o homem por um momento, evitando por pouco o instinto de matá-lo quando o olhar azul percorreu seu corpo lentamente.

Ela se virou novamente para Damian.

— Toda essa situação. — Murmurou de volta, baixo o bastante para que Manolis não pudesse ouvir. Adra podia sentir o olhar dele e suas costas enrijeceram um pouco enquanto eles caminhavam rua acima, em direção ao Átropo.

Damian lhe contara sobre o encontro daquela noite, com o líder de uma das duas maiores gangues — Athan Zilevo — e como se daria todo aquele encontro. Ele seria realizado no território da gangue inimiga: era o que estava deixando Damian desconfortável.

Enquanto eles entrariam em três, a Ílios estaria em vantagem de números e armas. A única surpresa com que podiam contar era Adra. Como a maior parte dos integrantes da gangue eram humanos, com apenas os mais altos na hierarquia sendo demônios, eles não corriam perigo de que nenhum deles soubesse muito sobre a magia das bruxas.

Todos os Anjos do ParaísoOnde histórias criam vida. Descubra agora