Capítulo 24 - Adra

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Damian ergueu uma sobrancelha para ela, algo que Adra só conseguiu ver por causa da tênue luz dourada do poste próximo a eles. Ela sabia que ele estava se perguntando sobre a despedida de Spiridon, mas não falou nada mesmo assim.

Caminhe nas sombras — uma benção antiga que não era usada há algum tempo já.

Adra se perguntou o motivo de Spiridon ter falado aquilo, se ele sabia o motivo de ela estar na Academia: apesar da óbvia curiosidade dos dois adultos, Adra não lhes contou o motivo de estar na Academia, não lhes contou sobre sua vingança, apesar de saber que nenhum dos dois se importava o suficiente para tomar uma atitude sobre aquilo.

— Você planeja me falar porque você e Paris parecessem se odiar tanto? — Ela perguntou em vez disso, a voz baixa para não chamar a atenção dos funcionários da escola enquanto entravam.

Damian suspirou ao seu lado e disse:

— Ele acha que eu sou igual ao meu avô. E Charis é o tipo de pessoa que qualquer um com um pingo de decência desprezaria.

Adra pensou sobre isso, sobre a ligeira mudança em Damian quando ele falava sobre o avô, algo tão sutil que era até difícil de notar, mas estava ali. Ela não podia exatamente descrever o que era, mas sabia que havia uma mudança nele.

— Você tem mais balinhas de coco? — Ela perguntou por fim, sem forçar o assunto.

Damian riu pelo nariz, parecendo menos tenso do que esteve durante boa parte das horas anteriores. Ele remexeu um bolso e estendeu a bala para Adra, que a aceitou alegremente.

— A melhor amiga da minha mãe era quem dava as balinhas para gente quando eu era menor. — Damian disse com calma enquanto desembrulhava uma bala para ele mesmo. — Nós não tínhamos dinheiro para comprá-las, apesar de não passarmos fome por muito tempo também. Então Adonia normalmente nos dava, o que era fácil para ela, considerando que ela e a família têm uma loja de doces.

— Sua mãe também era pobre? — Perguntou Adra, sem poder deixar de se sentir curiosa.

Damian balançou a cabeça, negando.

— A família dela tem uma loja de sucesso em Mávros, mas o pai a deserdou depois que meu pai cortou relações com o meu avô. Aparentemente, eles só permitiam o namoro dos dois por causa do dinheiro e influência da família Kolasi. — Ele sorriu amargamente. — Eu tenho um avô e uma avó em Mávros que nem sequer se dignaram a me reconhecer. Se eu aparecesse na frente deles agora, eles não saberiam quem eu sou, mas não acho que se importariam mesmo que soubessem.

O peito de Adra se apertou com aquela confissão, com aquela dor quieta na voz de Damian, como um lago parado demais. Ela alcançou a mão dele, apertando suavemente e Damian sorriu fracamente para ela.

— Para mim é algodão doce. — Admitiu Adra quietamente enquanto andavam. Era hora do jantar, então ambos caminhavam quase inconscientemente para o refeitório. Damian olhou para ela quietamente, esperando. — Meu pai sempre comprava para mim e eu amava mais do que tudo. Eu não consegui mais comer desde que ele... morreu.

Damian assentiu como se aquilo fizesse sentido e talvez fizesse para ele. Afinal, ele já tinha perdido os pais... ou Adra achava que sim.

Ela não sabia, na verdade, porque não sabia quase nada sobre Damian e quem ele era. Quando aceitara a ajuda dele para entrar na Academia e matar o assassino de Carino, ela mal parou para pensar que Damian era uma pessoa, além de um meio para o fim que ela queria.

Adra, em seu desejo de vingança, nunca parara para ver que Damian era alguém com sonhos e uma chama que ela podia ver queimando através dos olhos negros.

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