Capítulo 5 - Damian

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Damian não sabia se a bruxa aceitaria encontrá-lo.

Quando saíra da loja dela uma semana atrás, estava certo de que a curiosidade latente de Adra Anoixi iria fazer com que ela ouvisse o que ele tinha para falar, apesar do jeito rude que a tratara.

Agora que o pai dela estava morto, ele já não tinha certeza.

E aquilo era um problema muito grande, porque Damian estava quase certo de que não iria encontrar uma bruxa sequer naquela maldita cidade que aceitaria ajudá-lo a tentar desvendar o assassinato de Aglaie. As bruxas, ao que parecia, preferiam vê-lo morto a auxiliá-lo no que fosse, o que não deixava de ser justo, considerando toda a dívida histórica dos demônios.

Agitado com o rumo de seus próprios pensamentos, Damian olhou para a vidraça do café em que se encontrava. O Caronte Café era um lugar conhecido em Agraés e quase todos os alunos mais velhos da Academia se encontravam lá quando tinham permissão para sair todos os sábados — durante a tarde até as dez horas da noite. Por isso não era uma surpresa que ele reconhecesse com facilidade a maioria das pessoas que entravam e saíam dali.

Infelizmente, Damian não viu nenhum sinal de Adra Anoixi e o horário do encontro deles havia passado há cinco minutos.

Ele ouvira que o funeral do detetive geral Carino iria acontecer naquele sábado, alguns dias depois que a perícia havia liberado o corpo, mas não sabia mais do que aquilo. Talvez ele devesse passar pela Ponte Téfra para prestar suas condolências à família. Damian era um velho conhecido do detetive, afinal. Com as mais fortes ressalvas naquela afirmação.

Na rua de pedra bege, as pessoas passavam sem olhar umas para as outras, todas vestindo preto ou cinza como sempre. O céu cinzento e pesado com suas próprias lágrimas anunciava suas condolências à falta da pior das torturas — o amor — naquela nação engolida pela pior horda de demônios do inferno.

Damian conhecera o amor, uma vez, e podia afirmar com certeza: aquele sentimento, que rastejava para dentro das frestas da alma como insetos, era a pior e mais doce das torturas. Os demônios estavam certos em chamá-lo daquele modo.

E ele lutava, principalmente, para ser torturado novamente.

E era por isso que Damian precisava desvendar aquele assassinato. Ou pelo menos confrontar o assassino.

Damian virou o rosto quando um vulto escuro se moveu a sua frente, as sombras se puxando e dobrando inexplicavelmente até que Adra estava sentada a sua frente, o vestido de luto envolvendo seu pescoço de um jeito que o fez se perguntar se ela não estava sufocando, tanto figurativa quanto literalmente.

— Então — ela disse sem rodeios e sem oferecer qualquer explicação, as olheiras escuras esmaecendo o violeta de seus olhos. — Você quer que eu te ajude a pegar o assassino em troca de me colocar dentro da Academia.

Damian ergueu uma sobrancelha para ela, mas não insistiu em educação. Não havia realmente ponto para isso. Se recostando de volta na própria cadeira casualmente, ele gesticulou na direção de uma das garçonetes.

— Exato — disse ele. — Ambos saímos ganhando.

Foi a vez dela de erguer uma sobrancelha.

— Não vejo o lucro para você.

— Porque não sabe dos meus interesses — Damian deu de ombros, sem alongar o assunto, e pediu um cappuccino para a garçonete antes de voltar a falar: — Quer saber dos detalhes do assassinato agora?

Ela hesitou e então disse:

— Claro — Damian detectou a pontada dolorida de sarcasmo na voz dela. — Não tenho nada melhor para fazer mesmo.

Todos os Anjos do ParaísoOnde histórias criam vida. Descubra agora