Capítulo 10 - Adra

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Sentindo-se perdida, Adra seguiu Lena pelos corredores da Academia, dessa vez tendo liberdade para tentar memorizar o caminho que faziam, uma vez que Lena era uma companhia silenciosa.

Assim como seu exterior, tudo dentro da escola era deliciosamente sombrio. Adra quase podia ouvir os sussurros dos segredos soturnos das sombras daquele lugar, cochichando em seu ouvido como se fossem seus amigos mais antigos.

Aquela familiaridade trazia conforto para Adra, ainda que apenas um pouco.

— Então, como você vai conseguir achar o assassino? — Perguntou Lena casualmente, como se estivessem falando do tempo. Adra lançou a ela um olhar nervoso, resistindo a olhar em volta também para ver as reações dos alunos que andavam a volta delas. — Relaxa, eles nem prestam atenção. Estão muito ocupados com as próprias vidas.

Se estivessem entre bruxas, notou Adra, um comentário desses faria com que todos ali ficassem em silêncio. Todos ouviriam, comentariam e tentariam interferir no assunto ou ficar sabendo para comentar mais tarde. A sensação constante de ser ignorada era estranhamente boa.

— Do jeito usual, eu imagino. — Disse Adra em resposta, então. — Com dedução e um pouco de magia.

— A magia das bruxas é tão estranha. — Comentou Lena ao lado dela e Adra olhou-a de relance, sem saber se era apenas um comentário ou se deveria se sentir ofendida. — Ah, chegamos.

O refeitório — um salão oval extremamente quente e tão escuro quanto o resto da Academia — estava apinhado de demônios e o poder estalava deles como faíscas em um mar de pólvora. Adra, no caso, era a pólvora que explodiria se algum deles decidisse que estava tudo bem mexer com ela.

Ela se encolheu imperceptivelmente ao lado de Lena, que parara à porta para observar o lugar, provavelmente tentando achar Damian. Alguns segundos depois, quando Adra estava prestes a implorar para Lena para que pudessem se mexer, ela sorriu e acenou com o braço estendido.

— Venha, eles estão ali.

Lena não esperou para ver se Adra a seguiria novamente enquanto enfrentava aquela multidão agitada em direção ao braço sem dono que também se levantara no ar em resposta à ela. Adra, sem ter o que fazer e ser querer ficar sozinha, tentou acompanha-la, decidindo que ela não gostava nada daquele refeitório.

Ao chegar perto o suficiente, ela conseguiu notar Damian sentado em uma mesa de madeira branca rodeado de outras pessoas. Ela sentiu a tensão se construindo no fundo de seu estômago enquanto continuava a se aproximar, bem mais cautelosa que antes.

— Lena! — Um garoto de pele escura como tinta disse com um sorriso enorme no rosto enquanto Lena se sentava e Adra chagava até eles. Então os olhos castanhos do menino se concentraram nela, mas o sorriso não vacilou. — Então você deve ser a Adra, não é?

Ela assentiu, apertando a saia preta que usava com certo nervosismo enquanto olhava para todos os outros sem realmente absorver muita coisa. Theo, sentado ao lado de Damian, sorriu para ela, tranquilizador.

— Sou eu. — Ela disse e então fico quieta. Todos os outros também fizeram silêncio, envolvendo-os em uma nuvem estranha que pinicava desconfortavelmente.

— Bem, você é bem mais bonita do que Damian deu a entender, e acredite, ele estava um tanto encantado pela sua aparência. — O garoto sorriu maliciosamente, ignorando o olhar de aviso de Damian e então seu revirar de olhos exasperado. — Você e eu bem que podíamos trocar uma ideia mais tarde.

Adra piscou, pega de surpresa com o flerte tão súbito. Ela mal ouviu quando Damian deixou escapar um som exasperado. Então, Lena falou, dando um tapa na cabeça do garoto:

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