A aldrava da porta da Casa Kolasi tinha uma rosa esculpida no centro superior e era formava por chifres. O símbolo da luxúria — chifres para a virilidade, uma rosa vermelha para a sensualidade. Damian tinha até algumas roupas em que o símbolo estava bordado sobre o peito.
Ele as odiava.
Não que Damian rejeitasse seu status como nobre em Nikaés, longe disso: ele aproveitava demais sua vida e seus privilégios para ser burro o suficiente para reclamar, como Nestor normalmente era.
Ele não bateu a aldrava, no entanto, entrando sem muita cerimônia. Mesmo assim, o adoravelmente leal mordomo de seu avô, Manolis, estava ali, no saguão escuro, para recebê-lo. Havia um brilho de malícia cruel nos olhos de Manolis ao fitá-lo.
— Bem-vindo de volta, mestre Damian. — Ele se curvou, entortando a cabeça de forma perturbadora.
Manolis era um daqueles humanos que achavam que lamber o saco de demônios os faziam melhores que aqueles de sua própria espécie e normalmente, Damian apenas reservava uma quantidade de pena para sentir pelo velho homem. Mas em horas como aquelas, ele não podia deixar de sentir um leve desprezo.
— Manolis. — Ele cumprimentou friamente. — Onde está meu avô?
— Se aprontando para o jantar, meu senhor. — Foi a resposta de Manolis ao se mover para ajudar Damian com o sobretudo. — Estávamos esperando o senhor para o jantar. Gostaria de se aprontar agora?
— Sim.
Damian mal olhou quando um criado pegou sua mala, subindo com ele em direção ao quarto que Damian tanto odiava. Parecia uma prisão, apesar do luxo. O carpete rubro, as janelas enormes que davam diretamente na rua cobertas por cortinas de veludo da mesma cor do chão. Uma escrivaninha, livros que Damian lera e não gostara, uma cama de colcha preta.
O criado deixou a mala aos pés da cama como sempre.
Não era como o dormitório que dividia com Theo na Academia, todo bagunçado como um verdadeiro quarto de garoto. O lugar o lembrava da casa minúscula que ele dividia com os pais no Átropo, a desordem e a sensação de que tudo estava amontoado.
Damian suspirou, empurrando esses pensamentos para o lado. Não faria nenhum bem deixá-los correndo pela sua cabeça. Mas talvez ele pudesse dar uma passada na cozinha para falar com os pais de Theo, Stanislau e Thelemaca, e pedir que ela lhe desse aquela pasta milagrosa para acabar com dor de cabeça.
Depois de deixar a loja de doces de Adonia com promessas de que voltaria no dia seguinte, Damian rumara diretamente para a casa de seu avô, sabendo que não deveria se atrasar se queria mesmo pedir um favor de Charis.
Ele se aprontou rapidamente, tomando banho e fazendo a barba que estava por fazer. E ainda chegou antes de Charis na imensa sala de jantar, sentando-se, como sempre, ao lado direito na cadeira à cabeceira.
Damian tomava vinho quando Charis entrou.
— Está atrasado. — Foi a única observação que saiu da boca dele, uma repreensão leve que ele sabia como seria respondida.
— Um atraso moderado é um atraso elegante.
A voz de Charis, baixa e fria, sempre era capaz de causar arrepios em Damian. O flash doloroso de memórias que lhe pertenciam passou por sua mente — os olhos vazios do corpo de sua mãe, os hematomas em volta do pescoço de seu pai, o cheiro do corpo queimado dos dois.
Damian engoliu o vinho com dificuldade e se forçou a olhar o avô.
Mesmo os anos de velhice não tinham diminuído a beleza de Charis, embora Damian não estivesse exatamente certo se aquilo era por conta da genética ou da riqueza. O avô tinha ombros largos e era musculoso, a pele envelhecida — a única parte que ele não podia reparar — era esticada sobre os ossos pontudos.
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Todos os Anjos do Paraíso
FantasyAdra era uma bruxa em um mundo de demônios, o que significava problemas por si só, mas quando seu pai é assassinado pela mesma que está matando adolescentes dentro da misteriosa Academia Lethe, ela não mede dificuldades para entrar na escola e caçar...