Capítulo 39 - Damian

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Felizmente, não fora difícil achar a cripta onde o corpo de Athan seria velado, mas os gritos da viúva ainda enchiam os ouvidos de Damian quando ele atravessou a rua até a entrada lateral da Casa Kolasi. O céu começava a clarear quando ele entrou, rosado enquanto delineava as serras e o Kástros, que observava toda a cidade, sempre vigilante.

Uma pena que os olhos que os observavam fossem, na verdade, cegos. Se não fossem, Damian estaria agora mergulhado em problemas muito maiores do que os seus. E isso era falar alguma coisa.

Quando ele entrara com Adra no cemitério de Mávros, os relógios batiam a uma da madrugada. Eles encontraram a viúva de Athan e Gregori, que havia resgatado Caban da cripta onde Adra o havia aprisionado, assim como Damian mandara durante a reunião.

À principio, fora difícil conter a dor e a fúria de Geni Zilevo, mas uma vez que eles conseguiram acalmá-la o suficiente para explicarem o plano que tinham, as coisas tinham dado muito certo. Damian, no entanto, ainda tinha levado um tapa de Geni, o que fez Adra gargalhar e Gregori sorrir, singelo.

Os envolvidos concordaram em postar as cartas que Damian precisava mandar para os amigos e para mais uma pessoa sem que seu avô soubesse, assim como em permanecerem escondidos, sem deixar que as pessoas soubessem sobre o sucesso dos planos por enquanto. Gregori, contente e cheio de respeito pelo negócio que fizeram, também concordara de bom grado em trabalhar com Damian durante o tempo que ele precisasse para fazer com que o plano desse certo.

Depois de fazerem seus acordos e planos, eles se separaram e Damian praticamente carregara Adra de volta para casa. Ela mal olhou para ele ao se arrastar porta adentro, pronta para dormir por horas, exatamente como ele. Damian sorriu, balançando a cabeça, e fez seu caminho de volta à Anákmos.

Felizmente, Damian chegara tarde o suficiente para que Charis não estivesse acordado, mesmo que a maior parte dos empregados já andasse pela cozinha em polvorosa, todos agitados demais com os preparativos para a festa da Isiméria de Primavera que o avô dele sempre dava.

E a festa de Charis Kolasi eram lendárias, as únicas vezes que a nobreza afrouxava o laço no pescoço de todos e eles se entregavam para um noite de exageros: a Casa Kolasi era, afinal, a morada da luxúria.

Exausto, Damian andou entre os empregados como um morto-vivo, quase sem reparar nos olhares e sussurros cheios de medo e interesse enquanto ele andava. Quando alcançou o meio da cozinha, no entanto, Damian viu os pais de Theo trabalhando à alguma distância.

A mãe do amigo, Telemaca, era uma das cozinheiras de seu avô, enquanto o pai, Stanislau, era um dos jardineiros. Eles pareciam cheios de raiva ao olhar para Damian, que se forçou a colocar um sorriso debochado no rosto e andar até eles.

Ao que parecia, Stanislau tinha acabado de colher amoras no jardim, um ingrediente essencial para fazer o doce favorito da rainha Anemone, que seria uma das convidadas naquela noite. Depois de passar a semana inteira organizando as festas no Kástros, Damian podia dizer com relativa certeza que ela apreciaria muito a atenção.

E não havia duas pessoas mais aptas a tratar da rainha como os pais de Theo, pensou Damian, sorrindo de lado. Ele cumprimentou os dois com um aceno de cabeça.

— Telemaca, Stanislau. — Damian disse para os dois, que lhe deram sorrisos tensos em troca.

A relação entre eles nunca tinha sido boa, desde que Damian era criança e seus pais estavam vivos. Telemaca e Stanislau simplesmente parecia detestar que Theo fosse sue amigo, seu irmão. Damian desviou os olhos para as amoras e pegou uma.

— Senhor Kolasi, é... bom ter você para a Isiméria hoje. — Disse Telemaca em um esforço visível para ser educada.

Divertido, Damian sorriu.

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