Capítulo 40 - Damian

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Duas cartas com o selo real chegaram pouco antes da festa de Isiméria de Charis começar.

Com a agitação dos primeiro convidados chegando e das últimas emergências que precisavam ser resolvidas, ninguém notou quando Damian colocou-as no bolso do fraque formal que usava. Uma rosa com chifres estava bordada em vermelho em seu peito, contrastando com o tecido preto: uma vestimenta de baile que seria perfeita para aquela noite.

Apesar de bom o suficiente, o rei de Nikaés era uma piada em seus melhores dias e um desastre com pernas nos piores.

Mas se havia um dia em que o rei Stravos podia ser ambas as coisas, era o dia da Isiméria de Primavera. Durante algumas horas, pelo menos, ele era capaz de ser o bêbado infeliz que fora condenado a ser e nenhum conselheiro ou membro da corte poderia repreendê-lo por isso, porque estariam tão bêbados quanto ele.

Desde que era apenas um pré-adolescente afundado em raiva e necessidade de vingança, Damian sempre vira o rei Stravos como um homem quebrado — alguém que fora dobrado repetidamente até se estilhaçar — e muitas vezes sentira medo de se tornar alguém como ele, caso Charis alguma vez tivesse sucesso em alcançar as pessoas que ele amava.

Agora que Damian sabia a verdade, no entanto, seu coração doía pelo velho homem. Pela tragédia que ele tinha sido obrigado a viver apenas por ter nascido no berço errado.

Era por isso, principalmente, que Damian fizera questão de manter os olhos no rei enquanto ele vagava pelo salão em busca de álcool e mulheres nobres que aceitariam ser suas amantes. Ele tinha os olhos verdes — idênticos a Nestor — vagos e estranhos, como se mal conseguisse notar a presença de outras pessoas a sua volta.

E, sempre atrás dele, estava a rainha Tékia e as gentilezas dela para com o rei faziam com que todos acreditassem que ela era uma santa. Foi o olhar dela que Damian interceptou quando a festa estava cheia o suficiente para que Charis estivesse distraído.

Ela o chamou para perto de si, parando ao lado de uma enorme pintura de algum dos antepassados de Damian. Ele não prestou atenção nisso ao avançar, mas um olhar para Gregori, que era seu convidado de honra da noite, foi o suficiente para fazer com que seu braço direito caminhasse com ele até a rainha.

A Guarda Real, que também era responsável pela segurança da realeza, ficou inquieta com a aproximação de alguém que claramente não era nobre, mas Tékia precisou de apenas um gestos para fazê-los pararem imediatamente.

A Guarda da Rainha, no entanto, diferente dos oficiais que trabalhavam pelas ruas das cidades de Nikaés, era especialmente treinada e estavam muito longe de serem incompetentes como seus colegas. Por isso, mesmo tendo sido admitido, Gregori preferiu manter certa distância enquanto Damian apenas se aproximou da rainha o máximo que podia sem parecer suspeito.

Ambos se curvaram.

— Senhor Kolasi. — A voz da rainha estava cheia de cansaço, assim como seus olhos ao fitarem-no. Ela tinha a boca fina pintada de rosa escuro enquanto seu rosto cheio de linhas da idade se enrugava com seriedade. — Eu ouvi de amigos próximos sobre você.

Damian sorriu para ela, charmoso.

— Tenho certeza que o que vossa majestade ouviu não fez jus à minha pessoa. — Ele disse enquanto sorria um pouco mais, deixando um pouco de veneno pingar. — Sou muito mais interessante do que as pessoas contam.

Damian não deixou de tentar usar um pouco de seu poder na rainha, mesmo sabendo que ela estava extremamente protegida. Tékia sorriu, apenas um repuxar dos lábios finos e franzidos, mas nada disso chegou a seus olhos. Ela se virou para um de seus seguranças.

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