Damian não a levou para investigar as entradas da Academia para o Labirinto, mas Adra descobriu que não se importava nem um pouco naquele momento. Eram muitas coisas para processar e Adra tinha quase certeza de que não tinha informações o suficiente, mesmo com tudo o que acabara de acontecer.
Em vez disso, ele a levou para a Biblioteca Comum, a única que ficava aberta durante a noite. Havia uma vigia, claro, mas Damian parecia saber que ela estaria profundamente adormecida em sua mesa de trabalho, porque nem mesmo olhou para ela ao entrar.
Adra o seguiu de perto, preocupada com as sombras que vira nos olhos dele.
Eles subiram algumas escadas até o terceiro andar em silêncio, ambos tomando cuidado para não despertar a vigia. Então, Damian se deixou afundar no chão, os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos apoiando o rosto. Ele deixou escapar um suspiro cansado.
Adra sentou-se diante dele, recostando-se no corrimão de madeira desconfortável enquanto esperava que Damian se acalmasse. Vários minutos se passaram e Adra começou a se sentir uma intrusa ali, mas se obrigou a ficar. Damian parecia precisar de companhia e, se não a quisesse ali, só teria de falar.
— Minha mãe costumava ter sempre balinhas de coco em mãos. — Ele finalmente disse a ela, a voz muito baixa e o olhar voltado para o chão. O coração de Adra doeu por ele. — Ela usava para tudo. Quando eu estava triste, quando ela estava cansada, quando não queria ir pegar algo para comer na cozinha por preguiça... Ela sempre me dava uma delas antes do jantar.
Adra sentiu a dor fustigar seu peito com força quando as memórias de suas conversas noturnas com Kia irromperam por as mente. Cada uma delas tinha um gosto, uma alma própria que brilhava e queimava o coração dela.
E no fim de cada memória estava a expressão sem vida de Kia após a morte de Carino. Adra sabia muito bem o que era perder uma mãe, mesmo que não tivesse perdido Kia inteiramente.
— É por isso que eu sempre carrego balinhas de coco comigo. — Damian continuou. Ele estava falando baixinho e Adra não tinha certeza se era por causa da vigia lá embaixo ou por querer ocultar a emoção em sua voz.
Damian enfiou a mão no bolso de seu sobretudo e ofereceu uma balinha para ela. Adra a aceitou lentamente, percebendo que, diante daquela informação, ela parecia um pouco mais pesada em sua mão. Damian pegou uma para ele e, sem falarem nada, ambos bateram as balinhas uma na outra, como um brinde.
O doce derreteu como sempre assim que tocou a língua de Adra, mais açucarado do que nunca. Por alguns segundos, eles voltaram para o silêncio, então Adra perguntou:
— Por que você beijou Artemis?
Damian estremeceu ao ser lembrado do beijo, fechando os olhos por um segundo antes de abri-los novamente e encará-la. Adra mordeu o lábio, esperando.
— Ela e Elias namoravam há alguns anos. — Ele disse por fim. — Mas os pais de Artemis são... alpinistas sociais. E eles querem que a filha deles se case com o Príncipe, não apenas com alguém das Sete Famílias.
Adra piscou, surpresa. Ela não sabia exatamente o que esperar, mas não era isso. Desde que entrara na escola, Adra nunca vira Artemis olhar mais de uma vez para Nestor e ainda assim, os pais dela queriam casá-los?
— Mas ela estava apaixonada por Elias. — Disse Adra baixinho. Esse tanto ela sabia, pelo menos. A reação de Artemis ao beijo de Damian não a deixaria chegar a qualquer outra conclusão. Damian assentiu.
— Os pais dela a obrigaram a terminar com ele. Foi por isso que Elias se tornou tão invejoso quando se trata de Nestor.
Não porque ele quisesse poder ou fama, percebeu Adra. Elias tinha inveja de Nestor porque ele era o único que podia ganhar o favoritismo dos pais de Artemis. Aquilo aumentava ainda mais a tristeza de ver Elias se afogando no próprio pecado.
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Todos os Anjos do Paraíso
FantasyAdra era uma bruxa em um mundo de demônios, o que significava problemas por si só, mas quando seu pai é assassinado pela mesma que está matando adolescentes dentro da misteriosa Academia Lethe, ela não mede dificuldades para entrar na escola e caçar...