Capítulo 14 - Adra

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As aulas começaram cedo pela manhã no dia seguinte à chegada de Adra na Academia, todas com o próprio ritmo, o que acabou lembrando-a que ela aceitara ser integrante de uma escola — apesar do histórico do assassinato — e começaria no meio do período letivo. Faltava exatamente dez meses para a formatura de todos os estudantes do ano de Adra, o que significava que as aulas estavam à todo vapor e os conteúdos, avançados o suficiente para que ela não entendesse absolutamente nada.

Adra mal viu o tempo passando enquanto tentava acompanhar as lições que os professores passavam e comparava tudo aquilo com seu próprio conhecimento. Ao final daquele primeiro mês, ela tinha uma certeza apenas: se não conseguisse um milagre rapidamente, ela não tinha nem chance de continuar a estudar na Academia Lethe.

Foi por isso, principalmente, que Theo a encontrou na biblioteca na hora do almoço, e não no refeitório como todos os outros.

Havia, como ela já sabia, cinco bibliotecas na Academia Lethe, cada uma para seus próprios tipos de conhecimentos. A Biblioteca Comum, com quatro entradas para cada ponto cardeal, era localizada no centro da escola e era construída na forma de um círculo. Em suas estantes, havia livros do chão ao teto abobadado de vidro três andares acima.

Era linda.

Adra não pôde segurar um sorriso quando a vira pela primeira vez. Ela passara bastante tempo de sua infância — quando ainda não precisava trabalhar na loja e conseguia escapar das lições enfadonhas de Eupraxia para as bruxas mais novas — na Biblioteca Pública de Agraés, mas mesmo aquele lugar não havia tantos livros quanto na Academia.

— Você realmente deveria comer. — Disse Theo, deslizando no assento ao lado dela enquanto Adra mantinha a testa encostada no livro a sua frente, os ombros curvados em derrota. — Não vai te fazer bem ir para as aulas de necromancia e magia com o estômago vazio, acredite. Experiência própria.

As aulas de magia de Adra começariam naquele dia, uma vez que a diretora Savva precisou encaixá-la no horário e nos registros da escola, o que demorara algumas semanas. Durante o primeiro mês, no entanto, Adra passara as tardes livremente, perambulando pela escola e descobrindo seus recantos.

Em resposta, Adra gemeu uma risada dolorida, levantando o rosto do livro de química a sua frente.

— Eu não posso. — Ela disse com um suspiro. — Preciso arrumar um jeito de entender tudo o que vocês aprenderam nos seus anos anteriores no prazo de um bimestre.

Theo ergueu uma sobrancelha e ela lhe deu o livro que segurava — Química 1 — o que só conseguiu arrancar um suspiro dele.

— Você nunca aprendeu isso? — Perguntou Theo cuidadosamente. Adra se aprumou na cadeira, o rosto queimando um pouco.

— Não. — Ela disse, e havia certa amargura em seu tom quando ela completou: — Bruxas não têm escolas como vocês e os humanos.

Isso pareceu espantá-lo.

— Por quê?

— Porque nós não somos numerosas o suficiente para que alguém se preocupe em abrir escolas só para nós. E nenhuma escola humana aceitaria uma bruxa, mesmo uma criança. — Disse Adra com a testa franzida, a voz cuidadosamente informativa. — E as escolas dos demônios só aceitam filhos... reconhecidos.

— Enquanto a maior parte das bruxas é bastarda. — Theo completou, o rosto cuidadosamente em branco. Adra assentiu e ele encarou o texto por algum tempo. Então, ele ofereceu: — Eu posso te ajudar. Se você quiser.

Adra não respondeu, o coração batendo forte dentro de seu peito com a possibilidade de admitir que ela precisava realmente da ajuda dele. Então, ela fugiu do assunto.

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