Capítulo 46 - Lena

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Da última vez que Lena entrara em uma Central da Guarda, tinha sido por causa de seu irmão. Ela e a família tinham sido chamados para poderem se despedir antes que a Guarda matasse Ulisses. Lena entendera na época, como ainda entendia, que aquilo era uma misericórdia para um demônio que se perdera no próprio pecado.

Agora, no entanto, ela estava entrando na Central por causa de uma irmã — a irmã que ela escolhera — e Lena não entendia. Ela não entendia como seu amigo de tantos anos pudera traí-los daquela maneira, não entendia como Adra estava morta.

Ela estava morta.

Damian, ao seu lado, tinha os olhos negros assombrados ao entrarem na Central. A última vez que Lena vira os olhos dele dessa forma, eles só tinham onze anos e Damian mal conseguia pensar em outra coisa além da raiva. Ela sentira aquilo nele e fora a raiva quente e escaldante que fizera com que Lena se aproximasse.

Agora, no entanto, a raiva de Damian era uma faca, afiada ao máximo e da melhor qualidade de metal. Lena quase podia sentir a lâmina roçando em sua pele, no lado direito que era onde Damian caminhava, deixando-a quase maluca.

Eles estavam prestes a entrar no necrotério quando uma mulher de pele como caramelo queimado entrou no caminho deles, dizendo:

— Senhor Kolasi, o senhor não pode entrar aí.

Lena apertou a pasta que tinha nas mãos contra o peito, pronta para ser expulsa daquele lugar, mas recusando-se a ir sem lutar. Os olhos de Damian escureceram ainda mais ao fitar a mulher, reconhecendo-a.

— Anastasia, eu sugiro que você saia do meu caminho. — Ele disse claramente, a voz rouca capaz de dar arrepios em Lena. — Eu estou aqui a mando do detetive geral e do...

— O detetive Kolasi não tem mais jurisdição sobre os casos da Academia. — A mulher o interrompeu com um olhar cheio de desprezo para Damian e para ela. Lena se eriçou, sentindo a raiva subindo sobre si como um bicho escaldante e incontrolável.

As vezes era muito, muito difícil controlar a ira que ela carregava nos punhos como uma arma. E as pessoas não ajudavam em nada. Mas Lena ouviu a ordem de Damian, o que ele precisava dela.

Se Lena deixasse que seus poderes levassem a melhor dela, seria como seu irmão foi e ela atrapalharia os planos de Damian. Ela falharia com seus amigos como seu irmão falhara com ela e com o resto da família deles.

E aquilo não era aceitável.

Lena suprimiu aquela raiva sobrenatural que subia por ela, encarcerando aquele monstro que crescia dentro dela de uma vez.

— Anastasia Petridis. — Damian tinha um tom sombrio ao desenhar cada sílaba do nome da oficial com os lábios. — Esse é seu nome inteiro, não é? Chefe da segurança da Guarda da Rainha... em um caso como esse? Eu, considerando as conexões de sua majestade, chutaria que você é um anjo, não é?

— O quê? — Anastasia arregalou os olhos, dando um passo para trás, e Lena franziu a testa.

Damian lhes contara sobre as conspirações da rainha e a existência de um grupo de resistência de anjos em Nikaés, mas aquilo não parecera real até aquele momento. Anastasia era um anjo. E Lena nunca teria suspeitado caso Damian não tivesse falado.

— É incrível o que alguém consegue saber com conexões na Ílios e na Guarda Real. — Disse Damian com um meio sorriso sombrio. — Mas seus colegas, eu aposto, não têm ideia, certo?

Quando a mulher olhou em volta, preocupada, Lena soube que Damian acertara. Não que fosse uma surpresa muito grande.

— Se tentar ficar no meu caminho, eu jogo tudo para o alto e conto tudo o que eu sei para a porra da imprensa. — Disse Damian muito baixo, os olhos muito escuros e vazios. Anastasia empalideceu sob a mira deles e Lena não podia dizer que não entendia. Damian se inclinou para ela, muito sério, e disse, enfatizando cada palavra: — Saia do meu caminho.

Todos os Anjos do ParaísoOnde histórias criam vida. Descubra agora