Capítulo 45 - Damian

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Assim como mandava o protocolo da Guarda Real, todos os estudantes foram retirados da Academia e Paris, por sua vez, sumiu enquanto Savva levava Damian e Astaroth para fora.

Ele lutou para acompanhar o tio, para saber o que diabos estava acontecendo, mas o aperto de Savva era firme em seu braço enquanto ela o puxava para fora do prédio, sem deixar que Damian acompanhasse Paris ou o aborrecesse com mais perguntas.

Damian viu, no entanto, quando um dos guardas de Paris falou como o detetive geral e os olhos de Paris o procuraram infalivelmente com Savva, arregalados. Aquele olhar havia congelado o coração de Damian, porque ele sabia o que significava.

Quantas vezes as pessoas não tinham olhado assim para ele antes de despedaçar seu mundo inteiro?

Por isso, pelo medo que batia desgovernado em seu peito, que o fazia suar frio, assim que saiu para o pátio frontal da Academia, onde todos os outros alunos foram reunidos, Damian procurou por seus amigos, passando os olhos enlouquecidamente de um lado para o outro até que a familiar visão de seu grupo se destacou.

— Ali. — Murmurou Lena ao seu lado enquanto Savva se afastava para ficar com o resto dos professores e funcionários com um último aperto gentil no ombro dele.

Ele começou a andar até eles, observando-os quase como um louco. Então os passos de Damian pararam há alguns metros.

— Onde ela está? — Ele sussurrou, mas seus amigos souberam imediatamente o que ele estava falando.

— Ela nos disse que precisava falar com você. — Sebastien disse, os olhos escuros arregalados em horror. — Disse que tinha descoberto algo, que precisava que você soubesse.

O coração de Damian foi rasgado como um trapo velho a cada palavra, a cada olhar horrorizado que o fitava. Ele perdeu a capacidade de pensar, de respirar. Damian não sabia nada além da necessidade de localizar Adra, de saber que ela estava bem, que ela estava viva.

Ele olhou em volta, lutando para identificá-la entre os alunos.

— Onde ela está? — perguntou Damian, mas não obteve resposta. Seus amigos observavam-no com semblantes cheios de pesar que com certeza espelhava sua própria expressão.

O coração sombrio do demônio estava sangrando dentro de sua gaiola de ossos. Damian sentia que não podia respirar sem a dor e o desespero de não saber. Ele precisava que Adra Anoixi estivesse bem, que estivesse viva.

— Vai ficar tudo bem, Dami — disse Astaroth, mas não havia qualquer segurança em sua voz. E Damian não teria acreditado naquilo mesmo que houvesse. Nenhum deles teria a audávia de acreditar naquelas palavras, naquela esperança.

Ele estava sangrando.

Damian precisava que ela estivesse bem, que estivesse viva.

Apenas deixe que ela viva, ele pediu silenciosamente, olhando para cima, para o céu cinzento e impenetrável.

Só uma coisa — a pior das torturas — podia fazer com que os Céus tivessem tal entretenimento: um demônio, uma alma perdida e condenada além de qualquer salvação, ajoelhado perante poderes que ele jurara odiar, pedindo com todo o fervor de seu coração sombrio e maculado.

Seja quem for, apenas deixe que ela esteja bem, que esteja viva.

Mas os Céus eram surdos aos pedidos dos pecadores, eram insensíveis perante o sofrimento dilacerante dos corações dos desesperados. Os Céus não atendiam as preces daqueles que não podiam mais amá-los.

Quando os oficiais da Guarda abriram as portas da Academia, os semblantes tensos não revelaram nada, mas o peso em suas mãos sim. Dois corpos. Dois corpos cobertos com lençóis brancos. Um deles pequeno e, assim que olhou para ele, Damian simplesmente soube. Ele soube que era Adra, que ela estava morta e não havia nada mais o que ele poderia fazer.

Todos os Anjos do ParaísoOnde histórias criam vida. Descubra agora