Olhava fixamente para o horizonte, a brisa batia levemente no meu rosto. Se não fosse um primordial provavelmente teria morrido de frio a noite. Eu não dormi, como poderia com tanta coisa acontecendo? Minha cabeça era um turbilhão de pensamentos, minha única certeza era de que encontraria Annabeth.
- Ele sempre se atrasa. - Disse uma voz feminina. Nem notei que havia alguém ao meu lado.
- Quem?
- Meu irmão. - Respondeu a deusa, fazendo uma leve careta. Acredito que seria legal ter crescido com uma irmã da minha idade, não apenas com primordiais de milhares de anos de idade.
- Estava aí há muito tempo? - Estava realmente curioso, como não notei a presença dela?
- O bastante para notar que você não é um semideus. – Falou, me olhando acusadora.
- Foi tão fácil assim? - Irei repensar se os feitiços de Nix são realmente tão bons quanto ela se gaba.
- Não muito. - Confessou. - Sua orelha, tem sangue dourado nela. - Passei a mão na mesma, o sangue já estava coagulado. Provavelmente foi culpa daquele zumbido.
- Vocês ouviram algo? - Tinha me esquecido de perguntar aos outros.
- Não. - Respondeu ela curiosa. - Aparentemente foi só você. Tem alguma ideia do que foi? - Neguei com a cabeça. - Você me contará o que você é?
- Se eu contar dirá aos outros deuses? - Não que eu me importasse muito, mas as Parcas e Nix me matariam.
- Se for preciso. - Ela me olhou séria, se não fosse por sua beleza exuberante e seus olhos que demonstravam sua sabedoria e idade, ela parecia uma adolescente comum.
- Eu sou um primordial. - Falei um pouco baixo, como se fosse um segredo. O que de fato era. Ártemis arregalou levemente os olhos e se levantou fazendo menção de se curvar. - Não é necessário.
- Mas...
- Não somos tão diferentes, Mi Lady. E mesmo que fossemos, não sou melhor que você por isso. - Disse sério. Ela não discutiu. Acredito que perguntaria algo, mas foi atrapalhada por uma luz cegante. Em pouco tempo um carro surgiu em nossa frente. Dele surgiu um adolescente de uns 17 anos, loiro e alto. Tinha um sorrido de cegar, literalmente.
- Olá, maninha. - Disse o recém chegado.
- O que se passa? Você nunca liga, você nunca escreve, eu estava ficando preocupado! - Ártemis suspirou.
- Eu estou bem, Apolo. E eu não sou sua irmãzinha.
- Ei, eu nasci primeiro. – Apolo falou como uma criança.
- Nós somos gêmeos! - Ártemis disse, parecia já ter feito isso muitas vezes. - Quantos milênios nós vamos ter que discutir...
- Então, o que se passa? - ele interrompeu. - Tem as meninas com você, eu vejo. Vocês todas precisam de algumas dicas sobre arco? - Ártemis rangeu seus dentes. Gostei desse cara.
- Caçadoras, desmontar acampamento! - Gritou Ártemis. E, tão rápido quanto montaram, as caçadoras desarmaram o acampamento, ficando todas atrás de sua senhora. Exceto Zoe e Bianca, estas estavam ao meu lado, assim como Nico e Grover. Thalia estava no canto mais distante de mim, o que me deixou triste.
- Eu preciso de um favor. Eu tenho uma caçada a fazer sozinha. Eu preciso que você leve minhas companheiras para o Acampamento Meio-Sangue. – Ela falou impaciente.
- Claro, mana! - Ele respondeu. Não sabia que os deuses eram tão modernos. Ele ergueu suas mãos em um gesto de “para tudo”. - Eu sinto um haiku vindo.
Todas as Caçadoras gemeram. Aparentemente elas já conheciam Apolo. Ele limpou sua garganta e ergueu uma mão dramaticamente.
"Grama verde quebra através da neve.
Ártemis pede por minha ajuda.
Eu sou legal."
Ele sorriu largamente para nós, esperando por aplausos. Que nunca vieram, só para constar.
- Aquela última linha tinha apenas quatro sílabas. - Ártemis disse.
- Tinha? - Apolo amarrou a cara
- Sim. Que tal “eu sou cabeçudo”? - Ártemis sugeriu. Parece que eu estou numa creche.
- Não, não, aí são seis sílabas. Hmm. - Ele começou a murmurar consigo.
- Lorde Apolo está nessa fase de haiku desde que visitou o Japão. Não é tão ruim como na vez em que ele visitou Limerick. Se eu tiver que ouvir mais um poema que comece com “Havia uma deusa de Esparta”... - Zoe Nightshade falou, se virando para nós.
- Consegui! – Apolo anunciou. – Eu sou terrível. São cinco sílabas! – Ele se inclinou, parecendo muito satisfeito consigo mesmo. – E agora, mana, transporte para as Caçadoras, você diz? Bom momento, eu já estava pronto para rodar.
- Esses semideuses também vão precisar de uma carona. – Ártemis disse, apontando para nós. – Alguns campistas do Quíron.
- Sem problemas! – Apolo nos checou. – Vamos ver... Thalia, certo? Eu ouvi tudo sobre você.
- Oi, lorde Apolo. - Thalia enrubesceu. Aquilo me deu uma pontada de ciúmes, mas eu beijei um cara na sua frente, do que posso reclamar?
- A garota de Zeus, sim? - Ele falou. - Faz de você minha meia irmã. Costumava ser uma árvore, não é? Que bom que você voltou. Eu odeio quando garotas bonitas são transformadas em árvores. Cara, eu me lembro de uma vez...
- Irmão. - Ártemis disse. - Você deve ir.
- Oh, certo. - Então ele olhou para o mim e seus olhos se estreitaram. - Percy Jackson?
- E aê? – Eu falei, não demonstrando a minha surpresa por ele me conhecer.
Apolo me estudou, mas não disse nada.
- Bem! - ele disse por fim. - É melhor embarcarmos, huh? O percurso só vai em um sentido, oeste. E se você perde, você perde. – Eu olhei para o Maserati, no qual podiam se sentar duas pessoas, no máximo. Havia aproximadamente vinte de nós.
- Carro legal. - Falei.
- Obrigado, garoto. - Apolo falou.
- Mas como nós todos vamos caber? - Questionei.
- Ah. - Apolo pareceu notar o problema pela primeira vez. - Bem, é. Eu odeio alterar o modo carro esportivo, mas eu suponho... – Ele tirou as chaves do carro e bipou o botão do alarme de segurança.
– Chirp, chirp. – Por um momento o carro brilhou intensamente de novo. Quando o brilho cessou, o Maserati havia sido substituído por um daqueles furgões Turtle Top, como os que usávamos para os jogos de basquete da escola.
- Certo. - Ele disse. – Todos para dentro.
Zoe ordenou às Caçadoras que começassem a ir. Ela pegou sua mochila de acampar, e Apolo disse:
- Aqui, querida. Deixe-me levar isto. - Zoe recuou. Seus olhos lampejaram perigosamente.
- Irmão. - Ártemis censurou. - Você não ajuda minhas Caçadoras. Você não olha, conversa ou flerta com minhas Caçadoras. E você não as chama de querida. - Apolo abriu suas mãos.
- Desculpe. Esqueci. Ei, mana, de qualquer maneira, para onde você vai? - Ele perguntou confuso.
- Caçar. - Ártemis disse. - Não é da sua conta.
- Eu vou descobrir. Eu vejo tudo, sei tudo. - Ele retrucou. Ártemis bufou.
- Apenas os leve, Apolo. E sem ficar enrolando!
- Não, não! Eu nunca enrolo. - Ele falou sorrindo. Ártemis rolou seus olhos, então olhou para nós.
- Eu os verei no solstício de inverno. - Ela declarou. - Zoe, você está no comando das Caçadoras. Faça bem, faça como eu faria.
- Sim, minha senhora. - Falou Zoe se endireitando, só faltou bater continência. Ártemis se ajoelhou e tocou o chão, como se procurando por pistas, quando se levantou parecia preocupada.
- Tanto perigo. A besta deve ser encontrada. - Falando isso ela me olhou uma ultima vez e disparou em direção ao bosque, e se misturou à neve e às sombras. E eu só conseguia pensar em como ela poderia ter descoberto isso.
Bom, entramos na carruagem solar e, depois de uma curta discussão, Thalia assumiu o volante. Depois eu não vi ou ouvi mais nada porque eu dormi. Acordei olhando para o lado e dando de cara com vários semideuses assustados.
- O que houve? - Perguntei bocejando.
- Como você pode dormir no meio desse fuzuê todo? - Perguntou Apolo impressionado. Dei de ombros e agradeci a carona, saindo do furgão.