Quando ouvi aquilo eu não sabia o que fazer. Eu queria chegar lá, gritar e explodir tudo, mas ao mesmo tempo queria ir para o meu quarto, sentar no canto mais escuro e chorar como um bebê.
Resolvi não fazer nenhum dos dois. Me teletransportei para Heleheim. Era um planeta destruído pela guerra e ambição de seu próprio povo. Há séculos nenhum ser vivo pisava ali, era perfeito para o que eu queria fazer. Eu simplesmente explodi. Não a mim, mas o planeta, que era um pouco maior que a Terra. Eu liberei todo meu poder ali. O planeta inteiro se desintegrou, virando um amontado de poeira no universo, à exceção de uma rocha, sobre a qual eu estava, caí ajoelhado.
Toda dor que eu senti naquele dia, a dor da perda, da impotência, da saudade, voltou como se tivesse acabado de acontecer. Também havia outra dor, a da traição. Por que Caos nunca me contou que o assassino deles ainda estava vivo? E como isso era possível? Eles realmente morreram na guerra, ou foi outra coisa?
Eu revirava as memórias tentando me lembrar de algo. Algo que eu não tivesse percebido, algo de sobrenatural. Minha cabeça começou a doer, lágrimas e mais lágrimas saíam de meus olhos sem qualquer controle e acredito que nem se eu quisesse conseguiria controlar. Lembranças da minha família passavam como um filme em minha cabeça, meu pai me ensinando a lutar, meus irmãos e eu brincando, minha mãe colocando a comida na mesa, sempre tão deliciosa.
Também havia os pensamentos de como teriam sido nossas vidas. Meus irmãos teriam se casado? Tido filhos? Os cabelos de meus pais ficariam grisalhos? E eles seriam aqueles avós corujas? Sorri, era bem provável. Passei a minha vida inteira reprimindo esses sentimentos, afinal tinha que deixá-los partir, mas isso não quer dizer que não estavam lá, eu apenas ignorava.
Depois de algum tempo, minutos, horas, ou dias depois, eu não sabia, o tempo no Universo é muito relativo, as lágrimas cessaram, me forcei a ficar em pé. Eu tinha coisas a fazer, não poderia parar minha vida. Mas o principal, eu tinha que encontra-lo e fazê-lo pagar por tudo o que fez. Com esse pensamento me teletransportei para a Terra.
Eu precisava falar com Thalia, eu sairia em busca de respostas e isso poderia levar muito tempo. Eu devia-lhe uma explicação. Cheguei em seu chalé e vi uma cena que partiu meu coração. A semi deusa estava deitada de barriga para baixo e parecia estar chorando.
- Thalia? - Chamei baixo. Ela parou de chorar e levantou a cabeça do travesseiro. - Thalia. - Chamei novamente. Ela me olhou, parecia pensar um pouco e correu até mim, se jogando nos meus braços e entrelaçando as pernas na minha cintura. Eu a segurei um pouco surpreso.
- Você voltou. - Ouvi ela dizer baixinho.
- Claro que voltei. – Falei, fazendo carinho em suas costas. Ela me encarou, seus olhos estavam vermelhos.
- Eu achei que tivesse te perdido. - Disse me encarando. Ela olhava para todo o meu rosto, como se quisesse gravar os detalhes. - Se eu soubesse que você ficaria tão irritado eu não teria feito, eu juro. - Aquilo me fez rir, Thalia me fez esquecer tudo aquilo por algum tempo. Me sentei na cama e Thalia sentou ao meu lado.
- Eu não me irritei. - Disse calmamente. - Bom, não muito.
- E sumiu por três dias? - Ela disse, parecia magoada. Tinha passado mais tempo do que eu imaginava. Eu suspirei e contei o que havia acontecido.
- Oh, Percy. Sinto muito. - Ela falou me abraçando.
- Tudo bem, você não tinha como saber. - Disse.
- E o que você pensa em fazer? – Perguntou, fazendo carinho no meu cabelo.
- Irei falar com Caos. - Contei. - Pedirei para me contar onde ele está, e aí irei atrás dele.
- O que fará com ele? - Eu não respondi aquela pergunta. Encarei a estátua de Zeus. - Percy?
- Eu não sei. - Menti. Eu queria vingança, queria que ele pagasse, mas não quis envolver Thalia nisso. - Acho melhor eu ir. – Falei, me levantando.
- Quando você voltará? - Perguntou Thalia, se levantando também.
- Eu não sei. - Confessei. Ela assentiu abaixando a cabeça. Segurei seu queixo fazendo-a me olhar e dei um sorriso fraco. - Mas eu voltarei, sempre voltarei para você.
- Eu sei. - Ela me beijou. Quando nos separamos permanecemos com as testas coladas. - Até porque se não voltar eu darei um jeito de encontra-lo.
- Eu tenho certeza que vai. – Disse, dei um último beijo nela e me teletransportei para o Palácio de Caos. Apareci na sala dos tronos, ele quase sempre estava por lá sentado em sua cadeira, visualizando todo o Universo.
- Filho? - Ele falou assim que me viu. Eu sabia que ele tinha visto o que eu fiz àquele planeta.
- Por que me escondeu que o assassino dos meus pais estava vivo? - Perguntei controlando a voz.
- Como você... - Ele parou para refletir, como se lembrasse de algo. - Aquela presença no Palácio de Ananke, era você.
- Acertou.
- Por isso destruiu aquele planeta.
- Acertou de novo. - Falei com um tom sarcástico. - Agora responda a minha pergunta.
- Foi para o seu bem. - Ele disse calmamente.
- Meu bem? - A raiva estava tomando conta de mim. - Eu passei a vida toda querendo encerrar essa história e você me impediu de fazer isso. Ainda tem coragem de falar que foi para o meu bem?
- Eu sabia que se te contasse você iria querer ir atrás dele. - Ele disse, parecia culpado, mas jamais admitiria isso. - Ela é poderosa, Percy.
- Ela? – Perguntei, mal podendo me conter. - Quem é ela?
- Eu só falarei se você me prometer que não irá atrás dela. - Ele disse decidido.
- Você sabe que quebrarei a promessa.
- Então não irei contar. - Ele cruzou os braços.
- Você só pode estar de brincadeira.
- Não estou. - Ele falou. - Eu sou seu pai, meu dever é protegê-lo.
- Você não é meu pai! - Gritei. - Meu pai está morto, e, se você não me revelar o culpado, eu juro pelo Styx que irei declarar guerra a você. - Um trovão foi ouvido selando o juramento. Caos parecia chocado, e eu, bem, as cachoeiras teriam inveja.
- O que você fez? - Sua voz não passava de um sussurro. A essa altura eu já não me importava com nada nem ninguém.
- O necessário. - Respondi. Ele me olhou triste, pude ver magoa em seus olhos.
- Percy, você queira ou não eu sou seu pai, e eu te amo muito. Por mais que me doa te por em perigo não entrarei em guerra com você. - Ele suspirou. - Quem matou seus pais foi Ordem, a minha irmã.