Percy ao resgate

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Acordei no meio da noite com uma Thalia agitada, ela ainda dormia e estava um pouco suada, parecia estar tendo um pesadelo. Ela se remexia inquieta. Eu tirei o edredom de cima dela e comecei a chamá-la com a voz calma. De repente ela abriu os olhos e se levantou, batendo nossas testas no processo.

- Ai, Thalia. – Falei, massageando o lugar e vi que ela fazia o mesmo. Ela não me respondeu, apenas respirava fundo se acalmando, o que me fez ficar preocupado. - Com o que você sonhou?

- Eu... - Ela demorou um pouco para responder. - Sonhei com Annabeth, ela estava em um lugar escuro e parecia estar sofrendo, Ártemis também estava e...

- E? - A incentivei pegando em sua mão.

- Luke. - Sua voz saiu estranha ao falar o nome dele. Eu sabia que ela teve ou tem sentimentos por ele, o que nunca me incomodou, afinal quem não tem um ex babaca? Ela me olhou esperando uma reação, mas eu só sinalizei para ela continuar. - Também tinha outro homem, ele pedia para Ártemis ajudar Annabeth, falou que ela não resistia em ajudar uma donzela em apuros e ela realmente ajudou. Vi que Annabeth estava fraca, mas ainda assim viva, e aí eu acordei, mas ainda posso escutar a risada daquele idiota.

- Calma, amor. - Falei abraçando-a. - Vamos salvá-la, eu prometo.

- Farei o possível para contribuir. - Ela disse. Passamos um tempo assim até ouvir batidas na porta. Nos olhamos assustados, pois ainda não tinha amanhecido. - Fica aí, vou ver quem é, não faça nada idiota. - Sorri para ela, que revirou os olhos, indo abrir a porta.  Observei, e, quando ela abriu vi, algo mais negro que a própria noite. - Percy?

- Eu? - Falei me levantando e já pronto para atacar.

- Acho que é para você. - Disse ela indo um pouco para o lado e pude ver um grande alazão negro.

- BlackJack? - Falei me aproximando.

- Bom dia, chefe. - Disse o cavalo em minha mente. Desde que fui "transformado" em um filho de Poseidon eu conseguia entender o que cavalos e algumas criaturas marinhas falavam. É uma habilidade que com certeza vou manter após tudo isso acabar.

- O que faz aqui? - Perguntei cruzando os braços.

- Poderia perguntar o mesmo, chefe. - Respondeu o cavalo. Cocei a nuca envergonhado e tenho certeza que se cavalos pudessem sorrir maliciosamente Blackjack estaria o fazendo.

- Eu... - Comecei olhando para Thalia, que me olhava em uma mistura de confusão e curiosidade. - Bom, não interessa. Pode responder minha primeira pergunta.

- Vieram me pedir ajuda. Tem um peixe grande preso em uma rede de pesca. Os golfinhos vieram avisar. -  Respondeu ele em um tom mais sério, se é que isso é possível. Como filho de Poseidon isso também se tornou habitual, toda vez que estava perto do mar eu era chamado para ajudar na vida marinha, desde resgatar animais de redes de pesca a separar brigas de casais. - Fui até o seu chalé, mas não senti sua presença lá então segui seu cheiro até aqui.

- Ah, sim. – Falei, balançando a cabeça.

- O que aconteceu? - Perguntou Thalia.

- Blackjack veio me pedir para ajudar um animal marinho que está preso numa rede de pesca. - Expliquei me aproximando dela.

- Tudo bem, pode ir. - Falou para mim sorrindo. - Provavelmente quando você voltar eu já terei ido.

- Imagino que sim. – Lhe dei um abraço. - Boa sorte, tente se manter viva.

- Digo o mesmo, Jackson. - Ela disse e sorriu. A beijei como se nunca mais o fosse fazer, e uma pequena parte minha temia que isso fosse se concretizar. Quando nos separamos sorríamos como dois bobos. Blackjack relinchou chamando nossa atenção.

- Nossa, chefe. Se quiserem procriar eu posso voltar outra hora. - Lhe mostrei o dedo do meio e pude jurar que ele riu.

- Tenho que ir. - Falei olhando para a morena, ela assentiu me dando um último selinho e se afastando.

- Tchau, Blackjack. - Ela disse sorrindo para ele.

- Tchau, namorada gostosa do chefe. - O olhei irritado. Mas traduzi para Thalia, que riu. Saí do chalé, fechando a porta e subindo no Pégaso. - Ela gosta de mim. Todas gostam.

- Você sabe que posso ler sua mente. – Disse, fingindo uma irritação.

- Claro que sei. - Disse o alazão negro, e alçou voo. Eu pude olhar o acampamento de cima. Não dava para ver muito, pois estava escuro, apenas as partes iluminadas por pequenas tochas. Pensei em como tinha me apegado àquele lugar, àqueles semideuses, com certeza não os deixaria desamparados. Blackjack me levou até a praia. Começando a se afastar da costa o acampamento foi ficando cada vez menor.

- Está aí embaixo, chefe! - Disse Blackjack olhando para baixo. Me perguntei como ele podia saber o lugar exato, mas não quis fazer perguntas.

- Me espere aqui. - Disse para o alazão negro e saltei na água. Nadei para baixo. Ao longe avistei uma grande sombra. Cheguei mais perto, o peixe era realmente grande. Uma orca ou um filhote de baleia, talvez.

A medida que fui me aproximando a sombra foi tomando cada vez mais forma, e depois corpo e por ultimo cores. Eu estava errado, não era uma orca ou uma baleia bebê, na verdade não era nenhum peixe conhecido. Bem, se não fosse pelo rabo ou por estar na água eu não diria nem que é um peixe. Na parte da frente era uma vaca, uma grande vaca marrom. Quando ela me viu se debateu um pouco.

- Calma. – Falei, me aproximando. Tentei ir o mais devagar possível para não assustá-la. - Eu vou te tirar daqui. – Falei, encarando aqueles grandes olhos negros que me olhavam com medo, não sei se de mim ou da situação. De qualquer forma aquilo me deixara triste, esse ser deve ter sofrido muito para estar tão traumatizada.

Eu tentei desamarrá-la, mas eram muitos nós. E tinha um agravante, percebi que a rede estava presa em um navio naufragado que estava à beira de um penhasco. Era um antigo barco de pesca, estava enferrujado no casco e algumas algas tinham crescido ali. Também tinham alguns peixes e outras criaturas do mar como estrelas, esponjas, pequenos cavalos marinhos, entre outras coisas, o que indicava que aquilo estava ali há um bom tempo.

Tentei mais um pouco, mas o navio começou a pender para frente. O desfiladeiro marinho parecia muito fundo, eu não conseguia ver o fundo, talvez por estar de noite, mas eu não poderia contar com a sorte. Eu não tinha muito tempo, pensei em destampar contracorrente, mas sabia que a vaca-peixe já estava assustada, se eu o fizesse ela iria se desesperar e isso iria piorar e muito nossa situação. Desamarrei mais alguns, porém o barco continuava vindo pouco a pouco. Tenho certeza que se não tivesse molhado pela água, estaria pelo suor.

Depois de um tempo vi que não tinha mais tempo, olhei para criatura me desculpando, então destampei contracorrente, e, como previsto, o animal se assustou e começou a se debater. Eu tinha que ser rápido, comecei a cortar as cordas, mas ela não ajudava. O navio caiu mais para frente. Eu consegui soltá-la bem na hora em que o navio caiu no precipício. Guardei contracorrente, nadando para longe. A vaca-peixe nadava ao meu redor, alegre, até parar na minha frente. Ela me olhava agradecida.

- De nada. - Falei sorrindo. Estendi minha mão em sua direção devagar, queria acariciá-la, mas não queria assustá-la. Parei e esperei que ela viesse até minha mão estendida, o que ela fez depois de poucos segundos. O que fez meu sorriso se alargar. A acariciei, ela pareceu gostar. - Qual o seu nome?

- Muuuu. - Ela respondeu. Eu não conseguia entendê-la, o que me deixou um pouco decepcionado, mas eu sabia que tinha alguns animais que eu não entendia, como os polvos. Acredite, eu tentei, talvez para perguntar se algum se chamava Lula Molusco.

- Você não tem um nome? - Perguntei para a vaca-peixe.

- Muuuu. - Falou de novo. Entendi como um não. Eu pensei um pouco, eu me achava bom em dar nome a animais. Uma vez Caos me designou para criar o nome de todos animais de um planeta que ele fez e encarei isso com muita seriedade. Encarei a criatura, Ellie? Bia? Bessie? Hum gostei de como soou, resolvi externalizar.

- Que tal Bessie? - Falei após alguns segundos. Ela pareceu gostar, pois voltou a rodopiar a minha volta. Pedi para ela me levar lá em cima. BlackJack me esperava.

- Poxa, chefe, você demorou.- Reclamou ele.

- Foi uma situação complicada. - Respondi e voltei para Bessie, acariciando-a. - Eu tenho que ir, garota.

- Muuuuu. - Bessie falou, ela parecia triste, o que partiu meu coração.

- Não fique assim. – Disse, quase choroso. Eu tinha um fraco por animais fofos. - Eu prometo vir te visitar quando voltar para o acampamento, ok?

- Muuuuuuu. - A criatura falou, voltando a ficar feliz. Sorri para ela e fiz a água me erguer para montar em Blackjack, lancei um último olhar para Bessie e fui levado de volta ao acampamento.

O Filho de CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora