Respirei profundamente sentindo cada molécula do meu corpo doer, abri meus olhos e me levantei soltando um gemido de dor. Olhei em volta vendo uma cena horrenda, vários corpos ensanguentados e desfalecidos, algumas das construções próximas destruídas.
Mancando me encaminhei para onde ficava a minha casa, infelizmente só havia cinzas. Lágrimas brotaram de meus olhos ao lembrar que minha família estava ali e que eu não consegui defendê-la.
Caminhei para frente movendo escombros que a guerra havia deixado. Meu corpo reclamava do esforço desnecessário e meu coração doía pela perda de meus parentes. Meu joelho vacilou e eu caí no chão, sentei no mesmo tendo a noção de que não poderia ajudá-los. Abracei a mim mesmo deixando mais lágrimas fluírem dos meus olhos, lágrimas de tristeza e raiva. Raiva pela guerra que estava acontecendo, tristeza pelas várias vidas inocentes terem se perdido nela. Minha cabeça estava abaixada como se esperasse que quando a levantasse tudo voltaria a ser como antes.
Senti uma mão apertando meu ombro, me levantei em um pulo e fiquei em posição de defesa. Meu pai havia me ensinado algumas semanas antes no dia do meu quinto aniversário.
Olhei para cima, me deparei com um homem. Ele era alto, tinha a pele morena e cabelos negros. Vestia uma toga prata, seus olhos eram negros com pequenos pontos brilhantes, ele sorria caloroso como se tivesse aprovado a minha atitude.
- Quem é você? - Perguntei o mais firme que pude, afinal minha voz estava embargada pelas lágrimas.
- Eu sou Caos o primordial do universo. - Ele se apresentou, sua voz era firme e grave. Caos me olhava como se estivesse esperando algo.
- O senhor é mais baixo do que eu pensei. - Falei. Seu rosto mudou para uma expressão de surpresa, depois ele começou a rir, o que me fez relaxar um pouco. - Por que o senhor está rindo?
- Bem, essa não é a resposta que eu esperava. - Ele falou assim que conseguiu superar a crise de riso. Aquilo me deixou curioso, será que eu o ofendi? Como se tivesse lido meu pensamento ele negou com a cabeça. - Não me ofendo tão fácil, meu jovem.
- O que quer comigo? - Perguntei ficando tenso.
- Eu quero ajudá-lo. Você é especial Perseu, desde que nasceu seu destino estava selado. - Ele falou olhando nos meus olhos. Eu o olhei curioso. - Você nasceu para ser um primordial. - Eu o encarei boquiaberto.
- Eu? Por quê?
- Você é bom Perseu, seu coração é puro e simples e isso será muito importante no futuro, isso é claro se você aceitar. - Ele falou a última parte me olhando com esperança. Se eu dissesse não, será que ele me mataria? - Não Perseu, eu não o machucarei, a escolha é sua. - Ele falou. Espera, ele consegue ler meus pensamentos? - Oh sim, me desculpe é um hábito ruim. - Ele respondeu envergonhado, revirei os olhos dando um mínimo sorriso para a atitude do primordial a minha frente. Pensei na minha família.
- O que irá acontecer com a minha família? - Perguntei em voz alta. - Eu poderei vê-los novamente?
- Infelizmente não, é contra as regras dos destinos. - Caos respondeu me dando um olhar triste. - Mas garanto que todos eles irão para o Elísio.
- Certo. - Respondi confiante. - Eu aceito sua proposta. - Caos sorriu feliz. - O que eu tenho que fazer?
- Você terá que treinar por cem anos para seu corpo mortal se acostumar com o poder que receberá. - Ele respondeu, o olhei espantado. Cem anos? Ele quer que eu lute com uma bengala por acaso? - Obviamente você terá a imortalidade, só que no começo ela será parcial, o que não vai lhe impedir de envelhecer até certo ponto.
- E onde vamos fazer isso? - Perguntei ignorando quando ele revirou os olhos pela minha lerdeza.
- No meu planeta. - O primordial respondeu nos teletransportando. Agora estávamos em uma arena vazia. Em volta haviam vários tipos de armas como espadas, arcos e lanças.
- Prepare-se Perseu, seu treinamento começa agora! - Falou Caos, partindo para cima de mim.